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Lula confirma cinco ministros e diz que militares não devem fazer política
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Lula confirma cinco ministros e diz que militares não devem fazer política

| Transição | Nomes de Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil), Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e José Múcio Monteiro (Defesa) são os primeiros anunciados no gabinete de Lula
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LULA anunciou ontem os primeiros ministros de seu governo (Foto: EVARISTO SA / AFP)
Foto: EVARISTO SA / AFP LULA anunciou ontem os primeiros ministros de seu governo

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou ontem os cinco primeiros nomes de ministros que vão compor a equipe, todos eles de sua "cota pessoal", e mandou recados aos militares ao dizer que as Forças Armadas têm de ficar fora da política. Ao apresentar os escolhidos, Lula indicou que, além da economia, a Defesa é uma área sensível e estratégica para o novo governo.

Lula confirmou o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad no comando da Fazenda; o governador da Bahia, Rui Costa, na Casa Civil; o senador eleito Flávio Dino (PSB-MA) em Justiça e Segurança Pública; o embaixador Mauro Vieira em Relações Exteriores; e o ex-presidente do Tribunal de Contas da União (TCU) José Múcio Monteiro na Defesa. De todos, apenas Vieira não estava presente ao anúncio.

No auditório do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde funciona o gabinete da transição, e ao lado do futuro vice Geraldo Alckmin, Lula afirmou que Múcio era "um grande companheiro" e o nome "mais preparado" para cuidar da Defesa. Com o elogio, deu uma alfinetada no PT, que fez várias críticas ao ex-presidente do TCU e não o queria no cargo.

Em seguida, o petista disse o que espera dos militares. "As Forças Armadas não foram feitas para fazer política, para ter candidato", afirmou Lula. "Quem quiser ter candidato se aposente e seja candidato. Mas as pessoas da ativa têm uma missão nobre, que é cuidar da segurança de 215 milhões de brasileiros, das nossas fronteiras e da nossa soberania."

Articulação

Na prática, Múcio já trabalha, nos bastidores, para demover os atuais comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica do governo Jair Bolsonaro da intenção de deixarem os cargos antes da hora, sem prestar continência a Lula.

"Vamos conversar para que tudo seja tranquilo, como se fosse uma passagem de comando, uma mudança de guarda", disse Múcio. "Tem de apaziguar. O papel principal é a harmonia entre as Forças. Não gosto de briga. Vou pedir que as coisas se mantenham como sempre foram. Tudo que passa para o campo do heterodoxo dá mais trabalho", afirmou.

Em entrevista à GloboNews, Múcio também disse que é preciso "despolitizar", "despartidarizar" e "pacificar" as Forças. "É uma volta ao passado? Não. É uma volta ao que sempre foi nas Forças Armadas. A despolitização e, mais, a despartidarização das Forças Armadas é uma coisa absolutamente necessária para o País", afirmou.

Múcio admitiu, porém, que os próximos 15 dias serão difíceis. "Meu sonho é pacificação. Estou sonhando que essas coisas se acalmem, que os próximos dias passem", disse.

Simpatia

O novo titular da Defesa conta com a simpatia das Forças Armadas e também de Bolsonaro. Embora tenha sido ministro de Relações Institucionais no governo do PT, Múcio conheceu o atual presidente da República quando ambos eram deputados federais.

Múcio confirmou que os futuros comandantes serão o general Julio Cesar de Arruda (Exército); o almirante Marcos Sampaio Olsen (Marinha) e o brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno (Aeronáutica). O comandante do Estado-Maior das Forças Armadas será o almirante de esquadra Renato Rodrigues de Aguiar Freire.

Lula se encontraria ainda ontem com os futuros comandantes, mas a reunião foi adiada a pedido de Múcio. "Ele quer estar com o atual ministro da Defesa antes de os comandantes estarem com o presidente (Lula)", afirmou Costa.

Mais nomes

Na próxima segunda-feira, Lula e Alckmin serão diplomados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), quando passará a divulgar outros ministros. Ontem, antes mesmo de ser cobrado pela ausência feminina, Lula deu logo um aviso: "Vai chegar a hora em que vocês vão ver mais mulheres que homens".

Com uma garrafa de água na mão, Lula também ironizou Bolsonaro, que o acusava de beber na campanha. "O meu adversário achava que era cachaça que eu tomava. Mesmo no tempo que eu gostava, eu não bebia na garrafa. Bebia no copinho", disse.

Rui Costa diz que vai assumir gestão e vê "quadro muito grave" no governo

Anunciado como futuro ministro da Casa Civil, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), disse que não pretende se envolver na articulação política do futuro governo. Ele afirmou que sua função é de gestão.

Rui Costa abriu mão, neste ano, de se lançar candidato ao Senado e elegeu o sucessor no Estado. Ele tem 59 anos, é economista formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e começou a carreira política no Polo Petroquímico de Camaçari. Dirigiu o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Petroquímica (Sindiquímica) e ajudou a fundar o PT na Bahia, ainda na década de 1980.

Costa disse que terá como uma das prioridades alavancar investimentos privados e coordenar ações de governo. O próximo ministro vai estudar maneiras de acelerar a conclusão de obras paralisadas e disse que o "quadro é muito grave". Ele indicou que o governo eleito deverá ouvir o setor público e privado para mexer na regulamentação do Marco do Saneamento.

"O desafio que o presidente nos deu foi coordenar as ações prioritárias e o objetivo é materializar o programa de governo. O carro-chefe é a PEC (da Transição), que é o início do trabalho para alcançar o fim da fome", disse. "É uma função de gestão, não farei articulação política. O presidente nomeará quem fará "

Caixinhas isoladas

O ministro antecipou que vai participar de reunião, marcada para amanhã, em que Lula discutirá o organograma do futuro governo. Ele não confirmou qual desenho sugere para a Casa Civil - mas deve ser similar ao do segundo mandato do petista. Costa disse que a pasta vai cuidar de ações transversais e que não se deve imaginar um governo Lula com "caixinhas isoladas".

O presidente eleito pretende iniciar a próxima semana com a apresentação de novos ministros e concluir a montagem do primeiro escalão. O mais cotado para a articulação com parlamentares é o ex-ministro Alexandre Padilha (PT-SP).

Em paralelo à relação com o Congresso, segundo Rui Costa, a Casa Civil vai cuidar de um programa de retomada de investimentos que permitam a geração de empregos e a redução da dependência dos beneficiários de auxílio governamental.

Dino anuncia chefe da segurança de petista à frente da Polícia Federal

Anunciado ontem pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como o próximo ministro da Justiça e Segurança Pública, o senador eleito pelo Maranhão Flávio Dino (PSB) disse que vai nomear o delegado Andrei Passos Rodrigues para o comando da Polícia Federal.

Dino afirmou que a escolha do próximo diretor-geral da PF levou em consideração a "necessidade de restauração da plena autoridade e legalidade" na corporação, além da experiência profissional do delegado, que já foi secretário extraordinário de Grandes Eventos.

"Conversei longamente com o delegado Andrei e levei ao presidente Lula. Claro que ele reiterou a autorização para que eu fizesse o anúncio, assim como haverá anúncios de outros cargos, buscando a compreensão da experiência profissional, da capacidade de liderar contingentes e de fazer com que a hierarquia e disciplina voltem como valores fundantes de uma polícia da legalidade e do estado democrático de direito", afirmou Dino, logo após a divulgação dos nomes dos primeiros ministros do próximo governo.

O delegado escolhido para o comando da PF foi chefe da segurança de Lula na campanha, faz parte da equipe de transição e também atuou na segurança da ex-presidente Dilma Rousseff. O trabalho de Andrei Rodrigues durante a campanha de Lula nestas eleições, além de sua atuação como delegado da PF, foram destacados por Dino no anúncio.

"Nós levamos em conta, sobretudo, a necessidade de restauração da plena autoridade e da legalidade nas polícias, também a experiência profissional comprovada, inclusive, na Amazônia brasileira, uma vez que o delegado Andrei exerceu as suas funções na Amazônia, que é uma área estratégica", disse o futuro ministro. "O delegado Andrei participou do diálogo com os Estados e municípios, foi secretário extraordinário de Grandes Eventos, participou da preparação da Copa e da Olimpíada."

Dino também procurou destacar que o governo federal terá diálogo com toda a categoria. "Eu quero consignar aos policiais, suas famílias e a todos os profissionais de segurança pública que o presidente Lula determinou que, na transição e também no exercício de governo, nós estejamos muito próximos", disse. "Não há nenhuma razão para não haver amplo diálogo com todos os profissionais da segurança pública e isso vai ocorrer."

Durante seu governo, o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi acusado por adversários de interferir politicamente na Polícia Federal.

Dino disse que caberá ao presidente eleito definir como será feita sua segurança pessoal. Há preocupações com a atuação do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), atualmente sob o comando do general Augusto Heleno, um dos mais próximos auxiliares de Bolsonaro. O GSI tem entre suas funções dar segurança ao presidente da República.

Indagado sobre o tema, Dino assegurou que o futuro governo pretende recuperar a instituição. "O GSI não é do general Heleno Ele sairá no dia 31 de dezembro. Temos certeza que o GSI será recuperado e que a politização indevida irá cessar", afirmou o futuro ministro.

Desmembramento

Durante o anúncio dos ministros, Lula falou sobre a possibilidade de desmembrar a pasta da Justiça e Segurança Pública. A discussão sobre o futuro desse ministério é um dos pontos de divergência no grupo de trabalho da transição que trata da área. Dino defende a manutenção da estrutura ministerial como está desenhada atualmente.

"Temos o interesse de criar o Ministério da Segurança Pública, mas a gente não pode fazer as coisas de forma atabalhoada. O companheiro Flávio Dino tem a missão, primeiro, de consertar o funcionamento do Ministério da Justiça, de consertar o funcionamento da Polícia Federal", disse Lula.

"Nós queremos que as carreiras de Estado sejam carreiras de Estado. Não queremos que policiais fiquem dando shows nas investigações antes de investigar. Queremos que as pessoas tratem com seriedade as investigações", afirmou. Nós sabemos quanta gente se meteu na política de forma desnecessária. Então, nós vamos primeiro arrumar a casa e depois vamos começar a trabalhar a necessidade de criar o Ministério da Segurança Pública", completou Lula.

Apoio da ADPF e Fenadepol

As duas principais associações de delegados de Polícia Federal (PF) divulgaram ontem nota conjunta em apoio ao nome do ex-governador do Maranhão e senador eleito Flávio Dino (PSB) para comandar o Ministério da Justiça. As entidades afirmam que Dino é um "jurista amplamente reconhecido".

O anúncio do futuro ministro foi feito horas antes pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília. Em seguida, Dino disse que pretende nomear o delegado Andrei Passos Rodrigues para comandar a Polícia Federal. Ele já foi chefe de Delegacias no Amazonas e Rio Grande do Sul e da Divisão de Relações Internacionais da corporação. A escolha também foi elogiada pelos delegados da PF.

"Ambos têm trajetórias públicas de muito êxito e profissionalismo", diz o texto. A nota é subscrita pela Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) e pela Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (Fenadepol). As associações também pedem que a Polícia Federal "tenha sempre um tratamento de polícia de Estado".

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