O primeiro desafio, e talvez o maior do governador eleito, é fazer a gestão da segurança pública com base em uma perspectiva de respeito aos direitos humanos, recuperando ideais do campo progressista como referência para organização de uma política de segurança cidadã. Para isto, Elmano não poderá apenas contar com boas ideias, mas de força e ação política para estruturar uma cadeia de comando capaz de fazer com que a visão do governo seja aplicada na prática.
Provavelmente, uma das suas principais dificuldades será estabelecer um sistema de governança de forças policiais constituídas por servidores públicos não vinculados aos valores do campo progressista e, em grande número, eleitores de um campo reacionário que ganha força no estado do Ceará, principalmente, em Fortaleza. Isto significa que não adianta ter um plano de governo para área se a base não está convencida da importância de tornar as orientações desse plano como o fundamento da prática cotidiana.
O governador eleito precisará ainda enfrentar casos relacionados à violência policial, sobretudo, se desejar construir um programa de segurança pública fundamentado na perspectiva de garantia de direitos. Nesses casos, não adianta apenas passar a responsabilidade aos órgãos de controle, pois o posicionamento do governador é fundamental para nortear os rumos das ações.
Outro desafio é a compreensão de que segurança pública não se faz apenas com forças policiais, precisando criar e ampliar espaços de participação da sociedade civil, sobretudo, para enfrentar problemas complexos com a expansão das facções no Ceará. Importante que o governador entenda que ao enfrentar as facções, não apenas enfrenta um problema criminal, mas um fenômeno social que penetrou prisões e periferias porque arregimentou adesões, afetos e relações entre pessoas com disposição para viver e morrer pelo grupo.
Vencer as facções é recriar o mundo social no qual elas se tornaram possíveis e isso não se faz apenas com operações policiais, prisões e aplicativos de computador. É preciso ainda apostar fortemente em uma robusta rede de proteção social e educação capaz de se comunicar e fazer busca ativa, articulando ainda grandes investimentos para juventude com esporte e cultura, enfraquecendo por dentro das comunidades as forças que promovem o crime como solução para os projetos de vida de determinadas pessoas. Não será simples o caminho do governador eleito, mas torço para que consiga superar as dificuldades.
Luiz Fábio S. Paiva – coordenador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) e professor de Sociologia da UFC.