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Primeira semana de Elmano
Politica

Primeira semana de Elmano

Reuniões com secretários e declarações relacionadas à Segurança e Saúde estiveram presentes nas declarações do governador no início da gestão;
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Elmano tem cenário tranquilo na Assembleia (Foto: Samuel Setubal/Especial para O Povo)
Foto: Samuel Setubal/Especial para O Povo Elmano tem cenário tranquilo na Assembleia

No Ceará, a primeira semana de Elmano de Freitas (PT) no Palácio da Abolição foi movimentada por agendas e declarações que dão indicativos das áreas que terão atenção especial. Como governador, ele foi a Brasília prestigiar a posse de Lula e demais aliados, reuniu-se com parte dos secretários na sede do governo, sancionou leis, como o Piso Salarial da Advocacia, e deu declarações sobre temas áreas como a saúde e a segurança.

Na saúde, o petista anunciou determinação para a expansão do número de hospitais que realizam procedimentos cirúrgicos no Ceará, a fim de zerar as filas para os procedimentos. Na segurança, prometeu enfrentar as facções criminosas a partir da “retomada de territórios” e da implementação de unidades da Polícia Militar dentro de conjuntos habitacionais.

Ele também reforçou a intenção de fortalecer a inteligência por meio de convocação de concursados da Polícia Civil e realização de novo certame. Em fevereiro, outra medida será colocada em prática: o uso de câmeras corporais no fardamento de policiais penais do Ceará.

Medida defendida por Elmano desde que atuava como deputado estadual, será adotada em todos os presídios cearenses a fim de prevenir eventuais excessos.

Cleyton Monte, pesquisador vinculado ao Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídias da Universidade Federal do Ceará (Lepem-UFC), analisa a primeira semana de gestão como de “reconhecimento” dos dilemas e problemas. “Ainda estamos vendo o governo num processo de adaptação, de anúncio de nomes e de acomodação de aliados”.

Agendas de Elmano com os secretários Tânia Mara Coelho (Saúde), Samuel Elânio (Segurança) e Moisés Braz (Desenvolvimento Agrário) são vistos como indicativos de que as áreas terão olhar especial. Monte destaca o combate às facções criminosas e à fome como “temas centrais” que devem tomar o tempo do governador nos primeiros 100 dias.

Politicamente, Elmano terá o desafio de manter a boa relação com o Legislativo. Com os ruídos na relação entre PT e PDT, ainda é incerto o posicionamento dos trabalhistas na Assembleia Legislativa (AL-CE). Um indicativo importante tem sido o presidente da Casa, Evandro Leitão (PDT), que vem sendo presença constante em eventos com Elmano.

Monte destaca que a governabilidade é um processo em construção que passa pela costura com Leitão. “Evandro funciona como um articulador político informal dentro da AL-CE. Parte do PDT é base de cara, vai votar com Elmano. Outra parte, como os deputados Antonio Henrique e Lia Gomes, ligados a Ciro e Roberto Cláudio, não se sabe. A ideia é tentar garantir que, caso não estejam na base, não sejam oposição aguerrida”, analisa.

Outro ponto positivo citado por especialistas ouvidos pela reportagem foi a indicação de secretários, de perfil majoritariamente técnico, em pastas com mais peso e influência como Educação, Saúde, Fazenda e Casa Civil dentre as por eles citadas.

Ponto de vista: Elmano: o PT raiz chega ao Abolição

Depois de assumir a vice-governadoria com Francisco Pinheiro no primeiro governo de Cid Gomes, e de passar oito anos na gestão Camilo, o Partido dos Trabalhadores, em sua ala mais “raiz”, chega ao Palácio Abolição com a vitória de Elmano de Freitas.

Oriundo do campo popular, com experiência na Secretaria da Educação e no Parlamento cearense, o petista teve seu nome bancado pela alta aprovação popular de Camilo Santana e pela militância aguerrida do PT de Lula e Luizianne Lins, sem deixar de contar com o apoio de políticos tradicionais, como Eunício Oliveira; todos já com espaço garantido na sua gestão.

Ao que parece, deverá ser um governo de transição; ainda não será um governo PT “raiz” por inteiro, uma vez que, acomodando Camilo, acomoda também nomes da era Ferreira Gomes, grupo ao qual ele mesmo e seus apoiadores fazem oposição.

A primeira semana sob sua gestão já lhe deu mostras dos desafios mais urgentes da população cearense: sete mulheres assassinadas, aumento o número de vítimas tanto do feminicídio como dos assassinatos em geral no estado, realidade que assusta a população e através da qual os opositores de Camilo se legitimaram, mostrando importante capilaridade eleitoral.

Não bastará ao governador concursos e mais concursos, seguindo o exemplo de Cid e Camilo. Que políticas públicas nessa área ele implementará é, talvez, o maior desafio que lhe espera. Mesmo porque sai da Assembleia com atritos com a polícia por ter liderado a CPI do motim e por ter apresentado projeto para instalar câmeras nas fardas policiais.

Do ponto de vista político, deverá ser um governo mais progressista do que foi o governo de Camilo, que era mais cidista do que petista. Sinal disso é a criação da Secretaria assumida por Zelma Madeira, com comunhão com a orientação do governo federal, e da pasta da diversidade, apontando o norte que seu governo deverá assumir, desagradando a barulhenta oposição que tomará posse em fevereiro.

Outra questão a observar é a comunicação. Sucederá um governador com presença nas redes sociais, o que lhe exigirá manter presença semelhante.

Inauguração de obras deixadas por Camilo e Izolda, como o Hospital Universitário, a convocação de aprovados nos diversos concursos (como o da Uece) e manutenção do equilíbrio das contas públicas serão outros desafios de Elmano. De seu governo dependerá, em grande parte, a volta de seu partido ao comando da capital e sua expansão pelo interior.

Emanuel Freitas, professor de Teoria Política da Uece

 

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