Logo O POVO+
Heitor Férrer: um político que fugiu da hegemonia e rejeita a polarização
Politica

Heitor Férrer: um político que fugiu da hegemonia e rejeita a polarização

De origem na aristocracia do sertão, teve 34 anos de trajetória parlamentar como opositor aos governos. Vítima da polarização, ao não se posicionar nem a favor de Lula nem de Bolsonaro, fica sem mandato pela primeira vez a partir de fevereiro
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Heitor Férrer teve 34 anos consecutivos de mandatos, 14 como vereador da Capital e 20 como deputado estadual (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Heitor Férrer teve 34 anos consecutivos de mandatos, 14 como vereador da Capital e 20 como deputado estadual

Heitor Férrer (União Brasil) é trineto de Fideralina Augusto Lima, matriarca de uma poderosa família, raro caso de mulher coronel na política do século XIX dos sertões cearenses. Do mesmo clã que dominou Lavras da Mangabeira e expandiu a influência por todo o Estado descendem o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT) e o ex-senador e deputado federal Eunício Oliveira (MDB). Além de Joaquim Bastos Gonçalves, que foi presidente da Assembleia Legislativa, e Vicente Férrer Augusto Lima, ex-deputado federal, suplente de Wilson Gonçalves no Senado e que assumiu o mandato por alguns meses em 1965. Este último é padrinho de Heitor. Deputado que descende dessa tradição aristocrática, mas buscou fugir dela.

A porta de entrada na política foi em Fortaleza, e por meio da medicina. Fez do consultório um espaço político, onde atende de graça a pessoas que não podem pagar, escuta das carências da saúde pública, que denuncia depois na tribuna. A realidade que conheceu ali o levou a se candidatar. Foram 34 anos consecutivos de mandatos — 14 como vereador da Capital e 20 como deputado estadual. Sempre como oposição, rejeitando o DNA de uma família que era politicamente dona da cidade natal.

Heitor Férrer, deputado estadual
Heitor Férrer, deputado estadual (Foto: FCO FONTENELE)

A partir de fevereiro, ele fica pela primeira vez sem mandato desde que se elegeu pela primeira vez, em 1988. Acredita que foi prejudicado pela polarização nacional. Não se posicionou nem a favor de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nem de Jair Bolsonaro (PL). Identifica-se como centro-esquerda e sempre se alinhou com setores progressistas no Legislativo. Mas, tem eleitorado na Aldeota, no Meireles, onde os bolsonaristas são muitos. Cobravam que tomasse um lado, o que não fez. Não se arrepende. Sabe que perdeu votos, mas acredita que o impacto seria ainda mais caso fizesse uma opção.

O que fará de agora em diante? "O político nunca deixa de ser político". O que não sabe é se terá mandato ou não. Enquanto não tem, segue fazendo política no consultório e fora dele.

O POVO - Depois de 34 anos, onde será possível encontrar Heitor Férrer, uma vez fora do parlamento? Seguirá encontrando no consultório?

Heitor Férrer - Vou continuar médico. Eu sou médico do serviço público do Estado e tenho o meu consultório, que eu nunca deixei. O consultório, de certa forma, é uma atividade política. Lá tenho contato com pessoas a quem eu abri espaço para se consultar comigo, que são justamente as mais carentes. Eu atendo todos os dias três ou quatro consultas a mais, como cortesia, para pessoas que não podem pagar nem têm plano. Essas pessoas iam buscar ajuda porque às vezes não estavam sendo socorridas pelo setor público. Era um exame, uma cirurgia. E achavam na gente não só como médico, mas também como deputado, um caminho para solução daquele problema. Eu fazia disso não só uma afeição ao paciente, que é recíproca, como fazia isso no meu discurso também. Fiz vários vídeos mostrando: "Olha, isso aqui é um caso onde a senhora está aqui há mais de um ano esperando". Então, é consultório médico, mas sempre com a plataforma política. Porque lá eu atendia pessoas que normalmente eu atendia no serviço público do Estado. A política não me tirou da profissão, não me tirou da minha formação profissional.

OP - Por que que o senhor acha que dessa vez não conseguiu se reeleger?

Heitor - Olha, eu fiquei fora da polarização, que é uma radicalização. Ou seja, é o que há de pior na política. É radicalização. A polarização, a competição, a adversidade é natural. Como eu fiquei na neutralidade entre um e outro, aqui estava o presidente A, aqui estava o presidente B, Lula e Bolsonaro. Eu fiquei com a Soraya Thronicke (União Brasil), candidata do meu partido. Quem era Lula olhava para mim e dizia: "Heitor é Bolsonaro". "Tá com (Capitão) Wagner", né? Quem era Bolsonaro dizia: "Heitor é Lula". "É esquerda, sempre foi da esquerda". Que eu realmente me considero de centro-esquerda, minha posição sempre foi de centro-esquerda. Via (Leonel) Brizola, a formação, minha origem política foi com admiração ao Leonel Brizola. Nessa radicalização, o que eu sentia em alguns lugares, nesse meu caminhar, era que as pessoas queriam que eu me posicionasse a favor de um e de outro. "Se o Heitor não se declarar que é Chico ou Maria eu não voto nele, eu só voto nele se ele for Chico, só voto nele se ele for Maria". E isso de certa forma terminou tirando votos, aliás os votos preciosíssimos para a minha eleição. Eu fiquei abaixo do último colocado (eleito pelo União Brasil), eu acho que três mil e poucos votos (3.049 votos a menos que Felipe Mota, que ocupou a quarta e última vaga do União Brasil na Assembleia Legislativa).

OP - Se arrepende dessa opção?

Heitor - Não, porque eu não teria como tomar outra. Por quê? O núcleo mais próximo a mim, o maior número de votos que eu tenho é aqui na Aldeota, Meireles. Esse pessoal é muito ligado, foi muito ligado à candidatura de Bolsonaro. Eu tinha eleitor que era Lula, Bolsonaro, Ciro (Gomes, PDT), Simone Tebet (MDB). Então, eu era um candidato para ser neutro mesmo, mesmo com essas perdas. Porque se eu estivesse vinculado a um lado ou outro, talvez tivesse perdido mais.

OP - O senhor perdeu o eleitor de classe média de esquerda?

Heitor - Eu não perdi eleitor pela minha posição no parlamento. Eu sempre fiz minhas campanhas sem envolvimento com a presidência e sem envolvimento com governo. Não tem na minha história nenhuma posição apoiando o governador para o Estado do Ceará. Por exemplo, quando o meu partido (na época o PDT) apoiou o José Maria de Melo (em 2006), ele era uma figura que não cheirava nem fedia. O eleitor não se ligava naquilo. Mas, com esse novo formato brasileiro agora, com a vinda de Bolsonaro, a sociedade passou a participar mais da política. Muito mais no voto contra do que a favor. Ninguém no Brasil vota a favor de Bolsonaro, vota contra Lula. Lula tem seu segmento, mas se passou também a votar, agora nessa eleição, contra Bolsonaro. Pelo seu modus operandi de eleição, de condução na política.

Eu não perdi votos pelo meu mandato, pelo que eu executei. A atuação que eu tive na minha vida pública, desde quando eu fui vereador até agora, foi sempre em defesa da sociedade. E sempre defendi, até tem uma emenda minha, que estabelece a proibição, mas nunca consegui lograr êxito, que estabelece a proibição de deputados saírem para servir a governo. Por quê? Porque essa posição é de fidelidade do candidato nas ruas, que pede voto para representá-lo (ao eleitor). E quando ele chega ao parlamento, o governo chama e ele passa a ser representante do governo e não mais do representado, que é o povo. Ele passa a fazer parte da base do governo, ele passa a ser secretário de governo. Em vez de ser fiscalizador, que é o papel do parlamentar, ele passa a ser fiscalizado como secretário. Ele inverteu os papéis. A minha participação na política durante todo esse tempo é de fidelidade do parlamentar, do parlamento, aos anseios populares. Tanto é que essa emenda minha era no sentido de dizer o seguinte: se você foi à rua e pediu votos para ser representante do povo, você não pode, chegando ao parlamento, ser representante do governo. Eu faço até uma crítica a essa história de base de oposição e base de sustentação. O parlamento devia ser livre. Livre para, naquilo que é razoável, dar governança ao governante. Naquilo que não, vota não. A base se obriga a votar tudo que vem do Executivo. E nem tudo que vem do Executivo é bom para a sociedade.

Heitor Férrer, deputado estadual
Heitor Férrer, deputado estadual (Foto: FCO FONTENELE)

OP - O senhor veio de uma família com história secular na política. Como a política surge na sua vida?

Heitor - A minha vida foi o seguinte. Eu fui para um bairro depois de formado. Porque eu entendo que quem me formou foi o contribuinte. Quem me deu o meu curso superior foi o cidadão, a cidadã. Eles me formaram em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Universidade pública, que eles pagam. E eu me formei médico e fiz um pacto comigo de quando eu me formasse, eu iria passar cinco anos atendendo em periferia, fazendo esse serviço. Pelo menos retribuir para quem me formou, que são as pessoas mais pobres, que são os que se sacrificam mais. E fui lá para o (bairro) Pio XII, na Associação Desportiva Müller. Eu atendia lá todas as tardes, cumprindo esse pacto de atender e retribuir minimamente àquilo que me foi dado pelo cidadão. Passei esses cinco anos e até mais. As pessoas iam me perguntar em quem é que eu votava. E eu indicava. Na época eu acho que votei para deputado federal em Lúcio Alcântara (em 1982 a 1986). Aí sim, como eu vi aqueles problemas, eu digo: isso aqui é muito pouco. O médico, por mais que ele faça, por mais que ele atenda, ele não vai ajudar como a política ajuda. Isso aqui é política. Eu atender 16, 20 pessoas, como eu atendia por dia, isso eu atendo, mas o problema continua. Eu vou entrar na política, porque isso aqui requer é atuação política, essa miséria, essa pobreza. Aí, vem o sentimento de me candidatar. Qual é a primeira campanha que eu faço? É de vereador, em 1988.

OP - Antes de falar dos mandatos, quero voltar a Lavras. O senhor nunca fez política lá?

Heitor - Não, eu vim para cá (Fortaleza) com 11, 12 anos. Cheguei aqui em 1968.

OP - Mas sua família, sim.

Heitor - Minha família foi política durante a vida toda, meus tios. Aliás, a Fideralina é minha trisavó. Lavras é uma cidade efervescente na política. Essa mulher teve uma participação muito grande na política do Ceará. Sempre teve filhos, netos, bisnetos e trinetos na política. Teve Joaquim Bastos, presidente da Câmara e da Assembleia Legislativa, Almir Pinto, Vicente Férrer Augusto Lima, coronel Gustavo (Augusto Lima), que era filho dela, o bisavô do Roberto Cláudio, Honório Corrêa. O meu bisavô é irmão do dele. Lavras foi essa cidade efervescente e política. Eunício Oliveira é trineto de uma irmã dela. É trineto de Lura, irmão de Fiderarina. Aí vem o ramo de Eunício. O ramo de Fideralina tem eu e Roberto Cláudio, meu bisavô é irmão do dele. Eu nasci em Lavras e até a idade de 12 anos, a minha família foi dona de Lavras, até eu sair de lá. Eu tive tios deputados, eu tive tios prefeitos. Vicente Augusto, que é primo de papai e de minha mãe, meu padrinho, senador da República, também. A minha vivência de menino é de política dominante mesmo de Lavras. Eram os donos da cidade. E eu fugi muito disso para não ter esse DNA de dominador, aristocrata. E eu vivi sob uma família aristocrata, a família que mandava na cidade desde quando ela foi fundada pelo Xavier Ângelo, que é avô de Fideralina.

OP - O senhor fugiu desse DNA, mas o DNA da política estava lá.

Heitor - Estava lá.

Heitor Férrer com livro que aborda as raízes históricas da família
Heitor Férrer com livro que aborda as raízes históricas da família (Foto: FCO FONTENELE)

OP - E o senhor se elege em 1988.

Heitor - Tive 1.710 votos.

OP - Foi a eleição para prefeito mais acirrada que Fortaleza já viu.

Heitor - Entre o Edson Panelada, o Edson Silva.

OP - Do PDT, seu partido na época.

Heitor - Fizemos sete vereadores. Inácio Arruda (PCdoB) foi inclusive eleito pela coligação, PDT-PCdoB. Primeira eleição dele. Eu, (José) Sarto, Inácio, Carlomano (Marques), Artur Bruno. Nós somos os constituintes. Em 1988, fomos eleitos constituintes e fizemos a Constituição municipal, a Lei Orgânica do Município.

OP - O senhor, eleito como oposição ao Ciro Gomes.

Heitor - Como nós tínhamos um candidato que foi competitivo e não ganhou, o Ciro ganhou de Edson Silva, fui para a oposição, o PDT foi para a oposição. E comecei a fazer oposição a Ciro Gomes.

OP - A família Ferreira Gomes à qual o senhor fez oposição em vários momentos da sua trajetória.

Heitor - Em vários momentos. Com o Ciro não teve muitos embates, porque ele assumiu em 1989 e se candidatou a governador, passou menos de um ano e meio e aí entrou o Juraci.

OP - Ciro recebeu Fortaleza, da Maria Luiza, que foi uma gestão conturbada. Como foi aquele momento?

Heitor - O Ciro pegou um tecido altamente favorável para ser marcante na gestão, porque veio de uma administração que não tinha apoio da Câmara de Vereadores, que não tinha apoio do governo e a Maria Luiza saiu muito desgastada, diante de uma esperança muito grande de mudança, porque o discurso dela sempre foi um discurso muito forte. Foi um discurso de que o povo quis fazer mudança com ela. E ela não conseguiu fazer uma administração nos moldes que nós assistimos hoje. Porque ela tratou de sanear financeiramente o Município para poder fazer alguma coisa, porque não tinha ajuda de governo. (Ciro) Não pode se queixar porque pegou uma prefeitura que veio já saneada da Maria Luiza Fontenele. Ele pegou um tecido fácil de costurar. Porque aí sim ele faz uma administração de um ano e pouco, uma presença muito forte. Porque o Ciro tem uma personalidade muito forte e deu à sociedade no início desse um ano e meio de governo, com esse pouco tempo, ele já mostrou um tino administrativo que o projetou para ser governador, apoiado pelo então todo-poderoso na época, eleito em 1986, o senador Tasso Jereissati. E aí vem o Juraci Magalhães.

OP - Vem o Juraci, que é outra personagem marcante na sua trajetória.

Heitor - Juraci pegou essa prefeitura, você vê como ela estava saneada financeiramente às custas da gestão fiscal da Maria Luiza. Ele pega essa prefeitura e faz de Fortaleza um canteiro de obras. Juraci se caracterizou por uma administração que você abria as janelas e tinha uma obra de Juraci Magalhães. Era o slogan dele. Ele se fortaleceu muito politicamente, porque levou à sociedade o que ela realmente precisa, aquela coisa de obras. Obviamente, esquecendo de uma coisa primordial que é o saneamento básico, mas que não é obrigação dele, porque é da Cagece, do Estado. Mas poderiam ter sido feitos convênios para que Fortaleza fosse saneada, fosse feito seu saneamento. Então Juraci marcou a administração, com o Marcelo Teixeira (secretário responsável pelas obras da Prefeitura, que foi eleito ainda deputado federal), que era um trator, era considerado um secretário trator. E aí ele (Juraci) fez uma administração tão dentro dos moldes que as pessoas gostam, que elegeu (Antonio) Cambraia (prefeito eleito para suceder Juraci, em 1992). Naquele tempo até apelidado pelos adversários de maneira jocosa de Jambraia, que era um boneco. Partiu na frente o Assis Machado e o Lúcio Alcântara, e o Juraci fez o Cambraia, mostrando sua força política. Decorrente de uma administração que era feita por obras públicas.

OP - Dava trabalho nessa época ser oposição?

Heitor - Mesmo com um prefeito como Juraci, que tinha uma aceitação popular extraordinária, eu nunca me aliei a governo para ser conveniente a mim. Fazer oposição ao Juraci como fiz, fiz uma oposição ao modus operandi dele na política, fiz oposição, por exemplo, com a ação que derrubou a Taxa do Lixo que ele criou duas vezes e o Cambraia uma. Derrubei na Justiça essa cobrança, que volta agora com o (prefeito José) Sarto. E o Juraci tinha tanta força que elegeu o seu sucessor e depois votou como prefeito (eleito em 1996). Por isso que eu digo e reafirmo: o meu mandato não me tirou voto nunca. Ele sempre foi crescendo. Por 1.710 votos (em 1988), 3.238 votos (1992), 5.182 (em 1996) e 8.729 votos (em, 2000). Para deputado estadual, 22.614, (em 2002), fui o único do PDT eleito, depois 43.998 mil (em 2006), 53.311 (em 2010), 93.928 (em 2014) e por último eu tirei 54.532 votos (em 2018). Em uma delas eu tirei 93 mil votos. E agora 33.915.

OP - O senhor começou e ficou muito tempo no PDT de Leonel Brizola, e Fortaleza era uma cidade muito brizolista.

Heitor - Sabe o que é o Brizola me empolgava? A prioridade que ele dava à educação como a libertação da sociedade. O Brizola elegeu a educação como a libertação de um povo, então aquilo me empolgou. Foi um governador Rio Grande do Sul que fez uma grande reforma agrária com as terra da própria mulher. Era um exemplo a ser dado de que podia se dividir riquezas. Podia se equilibrar o país socialmente distribuindo riquezas que o próprio país tem. Não era para você tomar riqueza de ninguém. O país tem como distribuir por meio da educação, de uma reforma agrária, que podia ter sido feita, a qualificação das pessoas, a dignidade do emprego. Brizola surgiu como uma grande esperança e o Brasil perdeu essa grande chance de tê-lo como presidente.

OP - Naquele momento surgia uma geração da política cearense.

Heitor - Inácio Arruda, Artur Bruno, Sérgio Novais, Iraguassu Teixeira, Augusto Gonçalves, Durval Ferraz, Chico Martins, Samuel Braga. São grandes nomes.

OP - No seu segundo mandato, na eleição de 1992, entra na Câmara uma figura sobre a qual tive a oportunidade de escrever, que foi a Rosa da Fonsêca. Como era a convivência?

Heitor - O que a Rosa representava nas ruas, a força que ela representava nas ruas, como ela agitava os seguidores, os apoiadores da Rosa, ela foi muito bem eleita. Mas o mandato não lhe credenciou a continuar na política. Porque sem o mandato, ela era essa figura agitadora e devemos muito à Rosa. Os professores, o servidor público deve demais à Rosa da Fonsêca. Mas, no parlamento, que tem de ter um regimento, tem de ter uma Lei Orgânica, as pessoas têm de se moldar àquilo que é o sustentáculo da democracia, a lei. E aí a Rosa teve certa dificuldade em pegar esse seu mandato e projetá-la para mandatos outros, de deputado estadual, de deputado federal, porque ela tinha toda a credencial para isso. Mas o mandato terminou inibindo a vida pública da Rosa da Fonsêca, que continuou atuando em política. Mas, não nessa política partidária de mandato. Ela não se elegeu mais.

OP - Com o Juraci Magalhães, foram muitos embates. Um deles sobre a Taxa do Lixo.

Heitor - Antes dessa minha luta muito focada na Taxa do Lixo, temos por exemplo o Artur Bruno como um grande exemplo disso, foi um grande maestro da oposição. O Artur foi um dos primeiros a questionar o IPP, o Instituto de Pensão Parlamentar, que dava ao vereador o direito de se aposentar com dois mandatos. E todos eles quando chegavam aos dois mandatos se aposentavam. E essa luta de sete companheiros, desses sete companheiros que eu lhe falei, levou à extinção do IPP. Eu, como os outros, abdicamos inclusive do que tínhamos depositado, que era uma contribuição que a gente dava à previdência, a gente pagava. E a gente, para poder se credenciar para extinguir, nós tivemos de abdicar da aposentadoria. Já estava no segundo mandato, tínhamos direito. Nós recusamos e não recebemos o que de nós foi recolhido.

OP - Começaram por vocês.

Heitor - Dentro do parlamento. Agora, uma campanha muito pessoal minha foi o Auxílio Paletó, que eu consegui extinguir. Na presidência do José Maria Couto. Eu apresentei a resolução e ele compreendeu que não deveria mais continuar pagando o 13º salário em dezembro, 14º em janeiro e 15º salário em fevereiro. O chamado Auxílio Paletó. A Câmara Federal só veio a extinguir isso já quando eu era deputado (estadual).

OP - E houve o grande embate da merenda escolar.

Heitor - A merenda escolar foi um escândalo que não tinha nomes quando a denúncia a mim chegou. Eu não tinha foco de pessoas, eu tinha foco dos fatos. Eu tinha a documentação, eu tinha os empenhos, eu tinha o caminho das águas. Não sabia que quem estava envolvido era o genro do prefeito (ex-vereador e ex-deputado estadual Sérgio Benevides). Foi muito impessoal. Até porque, se fosse uma coisa pessoal, eu talvez nem fosse adiante. Porque o Sérgio Benevides era tratável, sempre muito cordial.

OP - Foi seu colega como vereador.

Heitor - Foi vereador comigo. Quando eu chego à Assembleia, ele está deputado. (Ainda na Câmara) Quando as denúncias chegaram, eu fui apurar. Quando eu chego, me deparo, aí sim, com o envolvido. E aí eu jamais poderia deixar de continuar a minha investigação porque era Chico, Maria, Manoel. A minha obrigação era continuar com a investigação. Pedi uma CPI e não tinha número (de assinaturas necessárias). Me lembro como se fosse um filme. Eu dentro do plenário, José Maria Couto (então presidente) me chama. "Baixin, cadê a CPI da Merenda Escolar?" E eu disse: "Não Zé, eu não consegui o número não". Aí ele diz: "Quer a minha ajuda?" Eu digo: "Claro". Ele disse: "Me procura aqui em meia hora". Ele sai da presidência e volta. Só que eu não procurei. Aí ele me chama: "Cadê o requerimento? Da CPI." Eu digo: "Tá lá no gabinete, mas não tem número". Ele disse: "Vá buscar que eu assino". Só faltava uma assinatura. Foi ele que concretizou a CPI da Merenda Escolar. Essa meia hora que ele pediu, eu não sei para que foi.

OP - Mas por que que o senhor acha que ele fez isso?

Heitor - Só Deus e ele sabem. Faltava uma assinatura (antes de Couto assinar). E não era só faltar uma assinatura. É ele apoiar a CPI. Com o apoiamento dele, eu disse: "Eu quero ser o relator, porque eu sou o autor da denúncia. E quero colocar o José Maria Pontes (então vereador do PT) como presidente". E ele assim fez e deu todo o apoio à CPI. Ela só logrou êxito em chegarmos finalmente com todo envolvimento, com todas as provas. Eu não posso jamais levar a culpa de leviandade minha, nem de que eu sou injusto, não. Porque a própria Justiça condenou o deputado e esse processo continua na Justiça ainda porque recorreu. Condenou o deputado a 15 anos de prisão. O relatório foi aprovado com todos os requintes que deveriam estar lá. Então, eu pego esse relatório, ainda vereador. O deputado envolvido estava lá na Assembleia e eu levo a denúncia ao presidente da Assembleia, que era o Marcos Cals. E essa denúncia teve de ser considerada, porque era o relatório de uma comissão parlamentar de inquérito da quinta capital do país, com todas as provas. E o Marcos Cals foi consciente, criterioso e mandou aquilo pra uma comissão processante. O final, você sabe, foi a cassação do deputado envolvido.

OP - Depois de idas e vindas.

Heitor - É, aquela cassação é impressionante. Ele foi absolvido no primeiro momento. Como a sessão foi secreta com voto secreto, eu questionei que o voto é secreto — como ainda é — mas a sessão é pública. Então eu me socorri do Poder Judiciário. Ele recorreu para o STJ (Superior Tribunal de Justiça) e o STJ mandou suspender e, um ano depois, mandou fazer a sessão de cassação. E interessante que sem uma prova a mais. Eu até fui, no dia da sessão, pedir aos deputados que não queria discurso sobre o tema mais, porque já era muito conhecido, era um deputado envolvido, tem filhos, tem mulher, e que naquilo não cabia mais nenhum discurso, porque todos eram conhecedores do que estava ali. Eu pedia, que fosse feita a votação, como de fato foi assim, foi feita a votação nessa segunda vez. E aí houve a cassação.

Heitor Férrer, deputado estadual
Heitor Férrer, deputado estadual (Foto: FCO FONTENELE)

OP - O senhor era deputado estadual já nesse período, eleito em 2002, e em 2006 o Cid Gomes se elegeu governador, que reuniu uma ampla base. E o senhor já não tinha a companhia do resto da esquerda na oposição.

Heitor - O primeiro mandato (2003-2007) foi mais fácil, né? Porque era Lúcio (Alcântara) governador, e o Lúcio tinha a minha oposição e a oposição do PT. Quando esse bloco todo se elege, quando chega o governo Cid e derrota o Lúcio. Foi o único governador na história política que não conseguiu se reeleger. Um homem muito bom, de uma índole extraordinária. E o Cid então se elege e aí ele consegue fazer uma costura tanto para sua eleição. Até o partido do Lúcio, o PSDB, o apoia. E faz uma base muito sólida, inclusive o PT. Aí ficou o Heitor Férrer quase que... Eu não me recordo quem aqui na época fazia oposição comigo.

OP - Adahil Barreto.

Heitor - Adahil Barreto, para você ver como a oposição a um governo, que eu digo sempre que meus mandatos sempre me acrescentaram mais votos. Eu tive mais votos, sempre crescendo com a minha posição. O Adahil era altamente diligente, um deputado responsável, zeloso com o mandado dele, fazia tudo com critério. Ele foi derrotado na sua recondução, porque houve o quê? Uma perseguição do governo a um candidato que tinha votos no sertão. E quem tem voto no sertão sempre corre o risco de uma perseguição. Porque quem tem voto no sertão são os líderes daquelas cidades. Os vereadores, o prefeito, o vice-prefeito. As lideranças locais. Quando o governo bota a mão nessas lideranças, elas naturalmente são levadas a abandonar o seu deputado que é desafeto do governo.

OP - É diferente do voto urbano?

Heitor - O voto urbano, este aí sim. Você tem como trabalhar esse voto, porque você você é mensageiro, é arauto dessa sociedade que é carente desse discurso. E eu preenchi sempre esse espaço.

OP - Como foi ser oposição quase solitária ao Cid?

Heitor - O Cid, olha que é como é difícil fazer oposição a governos que têm aceitação, porque o Cid foi governador e foi reeleito no primeiro turno. E eu fazia oposição ao Cid. E o mandato me dava, me credenciava mais votos.

OP - Mas teve muita matéria-prima, né?

Heitor - O Cid, com essa base larga, termina pecando mais, achando que o parlamento dá a ele essas asas todas, como deu. O meu discurso, quando eu falava, eu tinha cinco, seis, sete, dez deputados que vinham em defesa do Cid. Porque os deputados da base, a base existe para isso. Esse apoio que o governo dá às reeleições custa caro ao deputado, porque ele muitas vezes tem de expor algo que ele nem quer, mas é obrigado, porque o governo compensa dando apoios nos municípios que ele vai buscar o voto.

OP - Teve a questão das Hilux, o voo da sogra, o aquário, os empréstimos consignados...

Heitor - Todos esses escândalos né? Esses desmandos administrativos que eu fui protagonista de todos eles. Voo da sogra, jamais um governador vai fazer o que Cid Gomes fez. Ele foi apenado moralmente, porque a imprensa foi em cima. O discurso que eu fiz era muito forte, deu até música, "O voo da sogra". As Hilux foram uma grande enganação, querer acabar com a violência no Ceará com modelos de carros luxuosos. Acaba com a violência é na base, dando a moradia, dando escola, tratando saúde, fazendo saneamento básico, dando iluminação pública. Cidade, clara, saneada. Emprego e renda. É isso que acaba com a violência. Não é Hilux reprimindo. Quando você chama a polícia é porque tudo falhou. Quando você diz: "Chama a polícia" ou "polícia me acuda", é porque tudo falhou. Falhou a educação, falhou a saúde, falhou saneamento, falhou o equilíbrio social, falhou o posto de saúde, falhou tudo. Hilux, eu desde o início dizia que era uma enganação, como de fato foi. Obviamente, deixou lucros e mais lucros com os contratos de manutenção. Aí depois da Hilux veio aquário, os consignados. Os consignado, isso tem de dar em alguma coisa, não pode ficar só nessa ação que está lá e que não anda. Há quanto tempo está lá para trazer punição exemplar para os envolvidos. E o aquário foi um sonho que se transformou num pesadelo. A ponto de o que seria uma redenção passou a ser vergonha. A ponto de meus pedidos de uma comissão de deputados para uma visita técnica nunca foram aprovados. A usina de Barbalha teve um voto contra. O meu, só eu votei naquela época. A compra de uma carcaça de ferro velho, uma carcaça de ferro velho. Comprar para nada, que continua dando prejuízo ao Estado, porque tem uma guarda lá, uma manutenção de uma empresa para manter aquele ferro velho sob vigilância do Estado.

OP - Resquício do voo da sogra dos mais negativos é que, até então, requerimento de informação não se negava. A partir dali, a base do governo começou seguidamente a negar requerimento de informação.

Heitor - Negar tudo, qualquer informação, às vezes até informações simples. Informações que eram até pra exaltar o governo, se fosse dada e ela viesse talvez que ele se transformasse até num discurso meu de mostrar que aquelas informações que eu queria chegaram e estão aqui. Ficaram com medo. A parte do parlamento que é da base foi orientada, não estou diminuindo o deputado, apenas dizendo que quando o líder do governo é chamado: "Olha, não não aprova mais requerimento do Heitor Férrer", passou a ser um carimbo. Tem muitos lá que não votaram, sequer foram apreciados.

Heitor Férrer durante entrevista ao O POVO
Heitor Férrer durante entrevista ao O POVO (Foto: FCO FONTENELE)

OP - E como foram as tentativas de chegar ao Executivo? As candidaturas a prefeito. Em 2004, em 2008 o senhor tenta e perde a indicação do PDT para a Patrícia Saboya. E 2012 o senhor chegou perto.

Heitor - Em 2012 foi o ano da minha eleição. E que não houve. Porque a pesquisa eleitoral foi criminosa. Ao me colocar em quarto lugar quando eu estava em primeiro ou segundo e para desanimar o eleitor e fazer o voto útil. Quantos e quantos telefonemas no domingo, já no sábado à noite, que seu jornal saia às 4 horas da tarde do sábado, manchete de primeira capa. Era o Elmano (de Freitas) e o Roberto Cláudio. Aí me colocaram em quarto lugar. Quantos e quantos me ligaram na noite: "Heitorzinho, ia votar em você, mas você está em quarto lugar. Eu tenho ódio a esses Ferreira Gomes, eu vou votar no candidato do PT". Ou o contrário. "Rapaz, Heitor, eu ia votar em ti, mas você tá em quarto lugar". Botaram o Moroni (Torgan), né, em terceiro. "Mas você está em quarto lugar e eu vou votar, tenho ódio ao PT, vou votar no Roberto Cláudio, nos Ferreira Gomes". Então, eu perdi voto aos milhares para o PT e para os Ferreira Gomes na noite toda. E aquilo repercute na imprensa, no rádio. Com essa enganação que a imprensa fez, eu perdi uma eleição. A pouquíssima diferença do Roberto Cláudio. Então aí deva-se essa derrota ao instituto de pesquisa.

OP - Mas os institutos têm as margens de erro.

Heitor - É. Tanto é que o (advogado) Djalma Pinta entrou com uma ação, tramita aí na Justiça.

OP - O senhor se abateu muito, não é?

Heitor - A pesquisa é científica. Se for uma pesquisa bem feita é aquilo mesmo, não tem como não dar aquilo não. E terminou dando, porque me tirou da possibilidade de ganhar. Agora, eu não achava que estivesse tão bem situado até que um dia, em uma dessas nossas visitas à periferia, o povo na rua e os meninos gritando, "Eu tô com Heitor", aí o Flávio Torres, admirável Flávio Torres, do PDT, presidente de honra do partido, um homem invejavável pela sua conduta moral, ético, o Flávio é um exemplo de homem público. De compromisso. Aí ele disse: "Heitorzinho...". Vou dizer a expressão que ele disse, "3% uma porra que você tem, isso aqui é para mais de 20%". Aquilo me deu empolgação, porque o Flávio era um conselheiro meu. Aquilo me animou. Quando, na apuração, eu estava ouvindo pelo rádio, o Tom Barros, e a apuração vai, vai, vai, o Tom Barros diz: "O Heitor vai ser o prefeito de Fortaleza". Aí do meio para o fim, desanda, como realmente foi. Porque aí se deu o que a pesquisa queria que desse.

OP - Uma coisa que muita gente diz é: "O Heitor não quer ser prefeito, quer ser parlamentar". O senhor queria mesmo ser prefeito?

Heitor - Se você dissesse na de 2004 que eu queria ser prefeito, aquilo era só uma maneira de discutir. E foi tão pífia, né? Eu fazia a minha campanha em cima de uma Hilux aberta para fazer o discurso na periferia. Ainda com violência menor. Realmente eu não imaginava ser prefeito. Em 2008 eu já tinha uma certa vontade. Agora, rm 2012 eu tinha um programa para executar. Queria ser prefeito de Fortaleza. Para mostrar que é possível mudar saúde, educação e com elas você tratar da segurança pública para evitar a violência.

OP - Ficou feliz de ver uma proposta que foi um carro-chefe na sua campanha, o IJF 2, executado?

Heitor - Sim. Se a gente colocar hoje um hospital em cada esquina ainda vai ser pouco. Porque a violência que nós padecemos é tão grande, por conta desse desequilíbrio social. Se você imaginar, por exemplo, que Fortaleza tem metade das pessoas na pobreza. Essa pobreza gera violência. Por que gera violência? Porque os atos de violência que acontecem dentro de casa, na periferia, eles produzem violência. Eu digo sempre que o primeiro ato de violência que uma família vê dentro de sua casa, de manhã, é o pai e a mãe e os filhos fazerem suas necessidades fisiológicas na frente dos outros. Acontece isso. E culmina com o final do dia, a outra violência extrema, que é o o marido e a mulher se procurarem e muitas vezes na presença de filhos. Isso é um ato de violência imperdoável. Então, essa sociedade periférica que passa por essa violência, enquanto isso não for saneado, nós não vamos ter paz. Enquanto não tiver saneamento básico, moradia digna, emprego e renda, educação, fim de filas na saúde, você não vai parar com essa violência que está ali. Eu tinha vontade de ser prefeito para mostrar que com os recursos que o município tem, você podia solucionar grande parte do problema com um grande programa de habitação popular. Poderia fazer casas recicladas que hoje tem mecanismo de fazer casa em um dia. Em um expediente se faz uma casa com pré-moldados. Meu sonho era moradia popular com saneamento básico. Aí tem que fazer com a com a Cagece. E acabar com esse drama de filas em hospitais, na saúde pública. Pessoas que esperam lá com sua patologia seis meses, um ano, dois anos. E muitos morrem nas filas porque não conseguiram contemplar a face de um médico.

OP - O senhor falou que, com base tão ampla, o Cid acabou pecando mais. O Camilo (Santana, governador de 2015 a 2022) conseguiu pecar menos?

Heitor - Sim. O Camilo não teve escândalos. O Camilo tem uma qualidade que é o trato. Ele é uma pessoa extremamente tratável, muito cordial. Você vê nos oito anos de Camilo, não existe um foco com provas evidentes de que houvesse um escândalo no Ceará. Então, você não pode criar matéria-prima. Não pode criar matéria-prima de ser leviano e querer bater no governo no que diz respeito a uma corrupção que ele não praticou. Por que é que eu batia muito no Camilo? Filas de espera. Eu acho que Elmano (de Freitas, governador) tem a grande oportunidade de resolver isso. Fiz até um pronunciamento nesse sentido, que ele elegesse oito meses do ano ou um ano mesmo, por exemplo. "Eu vou resolver o problema da saúde com relação às filas de espera". Que nós autorizamos o governador Camilo, R$ 100 milhões por duas vezes para zerar essas filas. Isso era palco de queixas minhas e de críticas. Porque isso nunca ele resolveu. Assim como nem tudo do Cid Gomes foi pecado. Cid Gomes tem uma marca muito positiva que são os hospitais regionais. É inimaginável hoje o Ceará sem essa grande obra do Cid Gomes que foram os hospitais regionais. Eles fez a duplicação de estradas. Atuou muito nessa parte de estradas também que, infelizmente, se vulnerabiliza porque são estradas que duram muito pouco. Eu fiz muitas críticas tanto no governo Cid como no governo do Camilo à qualidade das estradas.

OP - Em toda essa trajetória, qual é a avaliação que o senhor faz sobre o que mudou da política, o que era aquela política de 1988 e como se transformou até 2023?

Heitor - Eu acho que o fisiologismo é o mesmo. O governo se determina a ter a sua base para ter tranquilidade na sua governança. E dá aos deputados o privilégio de serem dessa base para que eles possam nos seus município ter as obras que os munícipes pedem. Então, esse fisiologismo para mim não mudou, continua sendo a grande enzima para que os deputados sejam da base e o governo continue forte, é justamente esse fisiologismo.

OP - O trato com a coisa pública mudou?

Heitor - Veja bem, o governo Lúcio foi um governo em que eu fiz denúncia de licitação, eu fiz denúncia com relação à empresa que tomava conta dos presídios, que foi obrigado inclusive a cortar contrato. Eu fui para cima dela com muita prova. Mas o Lúcio Alcântara foi um governo tranquilo. Foi um governo anterior ao Cid. O governo que mais teve pecado, por excesso de recursos, foi o governo Cid. Essas obras megalomaníacas, um sistema de combate à violência, o Ronda do Quarteirão, essas manutenções de Hilux, os empréstimos consignados, uma esperteza de governo. Mas, quando chega ao governo Camilo, nos moldes do governo Lúcio. Um governo tranquilo, sem foco de corrupção, não teve escândalo, fez um governo de águas mansas.

OP - O senhor foi colega do Elmano no parlamento. O que espera dele como governador?

Heitor - Olhe, foi um deputado altamente diligente com seu mandato, responsável, que teve uma participação efetiva na Comissão de Constituição e Justiça, era um dos sustentáculos dessa comissão. Eu tenho muito muita esperança de que o Elmano dê um tom nessa administração onde ele possa resolver grandes gargalos. Fiz esse pronunciamento já na Assembleia Legislativa. Justamente a saúde, que ele possa zerar na saúde, as filas, essa peleja eterna. E na segurança pública. Não se combate violência com polícia, mais policiais. Combate a violência é você tratar do equilíbrio social. Moradia popular, saneamento básico, ruas iluminadas, emprego e renda. Se o Elmano dedicasse um ano a resolver o problema de moradia no Ceará, que tem uma demanda de 350 mil famílias. Se tratar em oito meses de zerar as filas nos hospitais e equilibrar a saúde pública, ele já saia contemplado como grande governador. E eu espero que ele tenha e tem sensibilidade para isso. E é isso que eu desejo.

OP - Qual o futuro político do Heitor Férrer?

Heitor - Eu vou continuar a minha missão de médico, meu sacerdócio de médico. Se eu penso em me candidatar? O político nunca deixa de ser político. Ele não sabe é se vai ter mandato. E esse mandato ele só consegue com trabalho. E o trabalho é diuturno. É o trabalho no consultório, é o trabalho na rua, é o trabalho numa postagem de vídeo, na internet. É algo que você consegue mexer na sociedade com uma informação que você dá. Hoje nós temos esses meios extraordinários de comunicação que são as redes sociais. E mesmo com 34 anos de política, eu quero dizer o seguinte: nós não abusamos da política. É uma coisa que mexe com você dia e noite. Eu fui um homem altamente bem abençoado por Deus. Como continuo sendo, porque esse povo me deu 34 anos de mandato popular, isso é uma nobreza muito grande.

NOTAS

SEM MANDATO
Após nove mandatos seguidos, Heitor Férrer ficará fora do legislativo após 34 anos.

PARTIDO
Foi o quinto mais votado entre os candidatos a deputado estadual do União Brasil. A legenda fez quatro deputados.

SUPLENTE
Heitor Férrer, desse modo, é o primeiro suplente e assume o mandato se algum dos quatro eleitos se licenciar. Heitor disse que não houve conversa nesse sentido.

O que você achou desse conteúdo?