O Congresso Nacional retoma os trabalhos oficialmente, nesta quarta-feira, 1°, já em clima de decisão envolvendo uma pauta que definirá os rumos que o Legislativo tomará pelo próximo biênio. As eleições das Mesas Diretoras do Senado e da Câmara. No caso dos deputados, há um entendimento aparente da maioria pelo apoio à recondução de Arthur Lira (PP-AL) ao cargo. Já no Senado, o cenário promete disputa acirrada entre o atual presidente Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e o ex-ministro Rogério Marinho (PL-RN).
Pacheco vai para a disputa com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e, em tese, de seis partidos (PT, PDT, MDB, PSD, UB e PSB). A expectativa de aliados, considerando o número de senadores dessas legendas, é de que ele receba pelo menos 51 dos 81 votos disponíveis. Para se eleger são necessários 41 votos dos senadores.
Líder da bancada petista, o senador Fabiano Contarato declarou que Pacheco "demonstrou um comportamento em defesa da democracia irrefutável" em períodos como o 8 de janeiro e os atos antidemocráticos de setembro de 2021 e que isso pesou na decisão de apoiá-lo. Com nove senadores, o PT terá a 4ª maior bancada, atrás de PL, PSD e União Brasil.
Marinho, por outro lado, angariou o apoio de três legendas (PL, PP e Republicanos), que deram sustentação ao ex-presidente Jair Bolsonaro nos últimos anos. Esse grupo quer colocar na imagem de Pacheco o carimbo de omissão, na tentativa de mostrar que aliados do governo Lula teriam "contribuído" com a depredação do Congresso, durante atos golpistas em Brasília.
Juntos os partidos têm 23 senadores, mas Marinho conta com os indecisos e as chamadas "traições partidárias" para ser eleito. Marinho aposta num discurso de que o Senado perdeu protagonismo e teve atuação fragilizada pela atuação de outros poderes, como o Judiciário. "Nós vamos comandar o Congresso ouvindo a todos, mas principalmente, devolvendo o protagonismo que o Senado perdeu. Vamos retomar o respeito à inviolabilidade dos mandatos, à liberdade de expressão e reequilibrar a democracia", disse no domingo.
Diante do fato de que a a votação é secreta, senadores podem votar contra as orientações partidárias a depender do caso, o que configura as chamadas traições; esperadas de ambos os lados. Nos bastidores, interlocutores de Marinho falam que ele já teria mais de 30 votos o que, em tese, mostra que há parlamentares flertando com as duas principais candidaturas. Pesarão os acordos por cargos da Mesa Diretora, como a 1ª secretaria, que gera muitos interesses.
Como pano de fundo na campanha de Marinho, o futuro do bolsonarismo após a derrota na disputa pela Presidência da República. Uma eventual vitória do ex-ministro de Bolsonaro fortaleceria a construção de um grupo oposicionista dentro do Congresso, ao mesmo tempo que dificultaria a ida de nomes do chamado "Centrão" para a base aliada de Lula. No campo ideológico, seria ainda uma forma de manter acesas pautas relevantes para a direita, como a criminalização do aborto e ampliação do porte de armas.
Há ainda o senador cearense Eduardo Girão (Podemos) que se coloca na disputa como candidato independente e busca apoio dos seus pares. Ele corre por fora na disputa, mas disse que tem tido "boa receptividade" na conversa com parlamentares e defendeu que o voto seja aberto. O partido de Girão, o Podemos, e o PSDB têm juntos sete senadores e são tidos como votos indefinidos.
Em entrevista ao O POVO News, Girão defendeu a autonomia do Senado e criticou as últimas administrações da Casa. "Percebo na maioria das pessoas um incômodo, uma insatisfação com o Senado. A imagem do Senado só não está pior, perante a opinião pública, que a do STF (Supremo Tribunal Federal). O Senado tem se mantido inerte em relação à invasão de competências por outros poderes", declarou.