Eram 18h10min de 29 de dezembro de 2022, quando o servidor da Receita Federal Marco Antônio Lopes Santanna recebeu visita na Base Aérea de Guarulhos, em São Paulo, do primeiro-sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva.
O militar tinha missão determinada pelo então presidente Jair Bolsonaro: retirar as joias presentes do regime da Arábia Saudita.
Silva mostrou a tela de seu celular, exibindo um ofício dirigido "ao Sr. Julio Cesar". Tratava-se de Julio Cesar Vieira Gomes, o secretário que então comandava a Receita. O militar dizia estar ali para retirar "um material" retido na alfândega.
O servidor, porém, não engoliu a história. Disse que não tinha informações e não iria entregar nada. Explicou que o ofício no celular não se dirigia a ele, mas ao chefe da Receita.
O emissário de Bolsonaro tinha ordens para só deixar o local com as joias. O militar se exasperou. Disse cumprir missão "em caráter de urgência". E comentou a troca de comando na Presidência da República, dali a dois dias. "Não pode ter nada do antigo para o próximo, tem que tirar tudo e levar".
Tocou no telefone do militar uma ligação Julio Cesar Vieira Gomes, o secretário que comandava a Receita Federal e era alinhado a Bolsonaro. O militar sugeriu passar o celular ao auditor. A ideia era que a liberação das joias fosse reforçada por Julio, mas Santanna se manteve inabalável, negou a liberação e pediu que o militar entrasse em contato com o delegado da alfândega de Guarulhos. A ligação foi encerrada.
Santanna pediu, então, ao militar que aguardasse resposta do delegado da alfândega de Guarulhos, com o devido Ato de Destinação de Mercadoria, mas voltou a frisar que, mesmo com a apresentação do documento, naquela circunstância, haveria muita dificuldade em acessar as joias. (Agência Estado)