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Eleições de 2024 já movimentam cenário político
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Eleições de 2024 já movimentam cenário político

| Fortaleza | Mesmo com tempo que ainda falta até as eleições, partidos e possíveis candidatos estão nas ruas, planejando atividades e dando primeiros passos nas estratégias do ano que vem
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Paço Municipal, sede administrativa da Prefeitura de Fortaleza (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Paço Municipal, sede administrativa da Prefeitura de Fortaleza

A pouco mais de um ano e meio da próxima disputa eleitoral, partidos e atores políticos já se movimentam, antecipando o desenho de estratégias e eventuais caminhos que as forças podem seguir no pleito municipal.

Em Fortaleza, esses passos se aceleraram desde o início de março, potencializados por choques entre grupos de PT e PDT, o primeiro capitaneado pelo governador Elmano de Freitas e o segundo encabeçado pelo ex-prefeito Roberto Cláudio e o atual, José Sarto.

Recém-saídos de uma eleição vencida pelos petistas, os ex-aliados têm se engalfinhado publicamente, com troca de acusações e críticas mútuas implicando Elmano e Sarto, num sinal de que as desavenças exorbitaram o campo político, contaminando o âmbito administrativo.

No centro dessa diatribe, estão indefinições sobre o posicionamento do PDT em relação ao governo estadual, se é base ou opositor; mas também quanto à postura do PT sobre a possibilidade de reeleição do chefe do Paço – até agora, a legenda não quis se comprometer com qualquer apoio.

Pelo contrário, petistas vêm assegurando que o partido, que comanda o Estado e hoje está na Presidência da República, vai apresentar um nome para a sucessão de Sarto.

Além dessas rusgas entre PDT e PT, as demais siglas não estão paradas. O PSDB de Tasso Jereissati se reformula, indicando que deseja ter mais cacife para influir nos rumos de 2024. O MDB de Eunício Oliveira também quer retomar antigos focos de poder.

O PSD, sob a presidência de Domingos Filho, busca expandir seu raio político-eleitoral, enquanto PL e União Brasil, ambos de oposição, vêm na esteira da boa votação de Jair Bolsonaro na briga presidencial do ano passado, de modo a aproveitar uma parte da onda.

Partido do ex-presidente, o PL projeta candidaturas em todas as grandes cidades e capitais, incluindo-se a cearense. À frente do União Brasil, o ex-deputado federal e hoje secretário da Saúde de Maracanaú, Capitão Wagner, já se colocou como alternativa para postular o cargo de prefeito de Fortaleza.

Entre os planos embrionários das agremiações e a realidade da corrida, há pontos a se considerar. Um deles diz respeito ao impacto das federações já formadas e as que ainda podem se constituir até lá, como entre PSB e PDT.

Outro fator que deve pesar é a situação eleitoral de Bolsonaro, se terá sido julgado no TSE até antes do pleito, preservando seus direitos políticos, ou se chegará a outubro de 2024 inelegível. Desse desfecho depende o tipo de configuração que a eleição municipal apresentará e a musculatura de seus apoiadores.

Mesmo com tanta estrada pela frente, há algo, porém, já dado como certo entre analistas e mandatários: os partidos estão em campo, articulando-se de olho na campanha, planejando e fazendo circular os seus trunfos no tabuleiro.

Deputado estadual e presidente municipal do PT, Guilherme Sampaio afirma que o partido “já governou Fortaleza em duas oportunidades e disputou as últimas cinco eleições” (2004 e 2008 com vitória; 2012, 2016 e 2020 com derrota).

“Além disso”, continua Sampaio, “o PT governa o Brasil com Lula e liderou a aliança vencedora nas últimas eleições do Estado. É natural que se constitua como opção ao povo de Fortaleza”.

Capitão Wagner, do União Brasil, informa que a sigla dá início a uma série de atividades partidárias a partir de abril, num ciclo preparatório para 2024. Sobre a eleição propriamente, o dirigente vislumbra enfrentamento tão acirrado quanto o de 2020, “com três ou quatro candidaturas competitivas e eleição de dois turnos”.

Naquele ano (2020), Wagner chegou ao segundo turno contra Sarto, perdendo por margem estreita. Dois anos depois, voltou a ter boa performance entre eleitores fortalezenses, a despeito do revés nas urnas.

Presidente do PP, o deputado federal AJ Albuquerque reconhece que a legenda ainda não se deteve sobre o quadro político do ano que vem, mas é enfático ao dizer que “não fazemos mais parte da atual gestão (municipal) e está descartada uma reaproximação (com Sarto)”.

Um dos expoentes do PL, o deputado estadual Carmelo Neto confirma intenções da agremiação de estar na cabeça de chapa na Capital, mas evita citar nomes que teriam mais condições de representar o bolsonarismo.

“O PL saiu da eleição muito fortalecido. Somos hoje o maior partido do Brasil. O ex-presidente Jair Bolsonaro está empenhado na missão de eleger um grande número de prefeitos e vereadores em todo o País. As estratégias certamente serão discutidas entre os diretórios do partido”, assinala.

Segundo o parlamentar, o PL tem como carta mais graduada o fato de, conforme ele, ser “a maior força de oposição ao PT”, o que “fortalece a prerrogativa de lançar candidatos onde houver cenário favorável”.

“Defendo que o PL tenha o maior número de candidaturas possível no Ceará, inclusive na disputa pela Prefeitura”, argumenta, acrescentando, contudo, que “está cedo para falar de algum nome específico”.

Dentro do PL, porém, alguns nomes são cotados, entre os quais estão o dele mesmo, Carmelo, e o do deputado federal André Fernandes.

Ex-deputado e líder da executiva estadual do PSB, Dênis Bezerra não tem dúvida de que “as movimentações para 2024 já começaram” e que o principal objetivo do partido “é ampliar nossa base de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores no estado”.

Bezerra pondera, no entanto, que um dos “grandes debates do PSB neste momento é a possibilidade de federação com o PDT e o Solidariedade”, num arranjo que, caso se confirme, terá impacto direto no pleito.

Base lulista vai tentar crescer, mas direita tem potencial

A base de partidos que apoiam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tais como PT e outras siglas de esquerda ou de centro-esquerda, deve tentar estender seus domínios nas eleições do ano que vem, projeta o cientista político e colunista do O POVO Cleyton Monte.

Esse ímpeto, contudo, pode esbarrar no poder de resistência das forças de direita e de extrema-direita, que saíram do pleito de 2022 fortalecidas, mesmo com derrota de Jair Bolsonaro (PL) por diferença pequena em relação a Lula.

Segundo Monte, “o grande indicativo até agora sobre a disputa eleitoral”, e por enquanto o mais comum, “é que os partidos que estão no Governo Federal vão tentar expandir o seu raio de atuação, mas a gente tem por parte das forças de direita e extrema-direita um potencial muito grande”.

O pesquisador cita, por exemplo, PL e União Brasil, mas há também o PP em âmbito nacional e siglas fora da órbita imediata de Lula.

Outro elemento vital da disputa de 2024, acrescenta o especialista, é a presença das federações partidárias, que foram uma novidade na eleição passada.

As composições formadas em 2022 continuam juntas em 2024, de modo que as alianças de dois anos atrás devem se replicar, com impacto no cenário.

PSDB e Cidadania, por exemplo, estarão lado a lado também no Ceará, assim como PT, PCdoB e PV. Além disso, PSB e PDT estudam constituir uma federação.

Fora desse movimento, União Brasil e PP avaliavam uma fusão até esta semana, mas essa ideia já foi descartada por lideranças do PP.

Para Monte, as federações pesam na corrida porque “a disputa proporcional para o Legislativo influencia muito o Executivo, e as federações criadas em 2022 vão valer também para 2024”.

“Esse é um dado importante”, segue, “os partidos que estavam unidos nas eleições passadas estarão também em 2024 e vão ter que oferecer as mesmas candidaturas”. (Henrique Araújo)

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