Desde a montagem do governo Lula, o "pessoal do Ceará" marcou presença em peso na equipe. Ainda na fase de transição, em dezembro do ano passado, foram pelo menos 25 representantes do Estado compondo eixos e grupos de trabalho diversos, da comunicação aos direitos humanos.
Posteriormente, já com a definição de primeiro e segundo escalões, o Ceará também assegurou participação central na Esplanada, com destaque natural para o ex-governador e senador Camilo Santana (PT), que assumiu o Ministério da Educação (MEC).
Além de Camilo, outros cearenses se integraram à gestão lulista. Também no MEC, a ex-governadora Izolda Cela e a ex-secretária da Fazenda Fernanda Pacobahyba, por exemplo, passaram a ocupar funções relevantes no desenho do Planalto.
No Legislativo, a liderança do governo está a cargo de outro cearense: o deputado federal José Guimarães, vice-presidente nacional do PT.
Para fontes ouvidas pelo O POVO, há um protagonismo evidente do Ceará no terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas a que se deve? Reconhecimento de uma boa gestão à frente do Governo do Estado ou resultado das vitórias eleitorais encabeçadas por petistas no âmbito local?
De acordo com a professora e cientista política Monalisa Torres (Uece), as duas coisas, ou seja, tanto os feitos da administração estadual quanto a articulação política de petistas num estado até então sob hegemonia do grupo liderado por Ciro Gomes (PDT), candidato à Presidência derrotado em 2022.
"Do ponto de vista de colégio eleitoral, o Ceará não foi o estado que teve maior impacto no cômputo geral da votação. Bahia teve peso maior. Acredito que essa participação de cearenses no governo tem a ver com o protagonismo dessas figuras dentro do próprio partido", indica.
Segundo a pesquisadora, um elemento-chave para compreender esse novo momento da política cearense é principalmente Camilo e sua ascensão dentro do PT desde a pandemia da Covid-19, numa trilha cujo ponto alto foi o processo eleitoral.
"O Camilo ganhou protagonismo grande, sobretudo na disputa no Estado, quando a gente compara com a força dos Ferreira Gomes", explica Torres, acrescentando que o ex-governador "teve papel importante nessa briga interna, mas, para além disso, como uma figura dentro do partido, que demonstrou habilidade e que é um quadro qualificado".
A cota superlativa de cearenses no Executivo estaria em parte ligada, então, ao duplo sucesso de Camilo na chefia do Abolição e nas urnas, das quais saiu eleito senador e viu o sucessor, o candidato Elmano de Freitas (PT), alçado ao Governo ainda no primeiro turno, impondo uma dura derrota aos adversários Capitão Wagner (União Brasil) e Roberto Cláudio (PDT) — o nome de Ciro na corrida.
Ao êxito político-eleitoral, seguiu-se o convite para que Camilo comandasse o MEC, pasta para a qual acabou levando dois quadros de sua estrita confiança: Izolda e Pacobahyba, a primeira como secretária-executiva e a segunda para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDES).
Na esteira desse fluxo "migratório", foram acolhidos no Governo também o ex-secretário Fabiano Piuba, antes na Secult, equipamento hoje nas mãos de Luísa Cela, e outras lideranças cuja atuação está vinculada a segmentos de lutas populares, tais como o indígena, representado por Weibe Tapeba e Ceiça Pitaguary, ambos no Ministério dos Povos Indígenas.
Para José Guimarães, o núcleo cearense em Brasília se explica por três fatores: "Primeiro, pela nossa história do PT no Ceará, de longa data, e não é relação somente eleitoral, é uma relação de compromisso, de vida e dedicação ao partido; segundo, os resultados alcançados pelo governo Camilo; e terceiro, a eleição do Elmano".