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"Se depender de mim, vamos ter candidato em Fortaleza", diz Guimarães
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"Se depender de mim, vamos ter candidato em Fortaleza", diz Guimarães

| Balanço | Líder do governo Lula na Câmara, o deputado federal José Guimarães afirma que é inevitável que o PT tenha candidato à Prefeitura de Fortaleza em 2024, mas pondera que o partido tem de ouvir os aliados antes de qualquer decisão
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José Guimarães, líder do Governo Lula na Câmara dos Deputados (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)
Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados José Guimarães, líder do Governo Lula na Câmara dos Deputados

Deputado federal e vice-presidente nacional do PT, José Guimarães avalia que as eleições de 2026 serão fundamentais para as disputas seguintes. Nesse contexto, ele antecipa, o partido deve ter candidato em Fortaleza.

Questionado se é inevitável que a legenda apresente nome próprio em 2024 à sucessão de José Sarto (PDT), Guimarães responde: "Evidentemente que sim".

"Se depender de mim, nós vamos ter candidato no maior número possível de municípios, inclusive Fortaleza", acrescenta o parlamentar.

Na mesma entrevista, concedida ao O POVO em seu escritório na última terça-feira, 4, Guimarães faz um balanço dos 100 primeiros dias dos governos de Elmano de Freitas e de Lula.

O POVO - Estamos às vésperas do marco dos 100 dias do governo Lula. Queria que o senhor começasse fazendo um balanço desse período.

José Guimarães - Nesses dias de governo Lula nós trabalhamos duas linhas de ação que para mim são vitoriosas. A primeira delas foi restabelecer os programas que foram destruídos pelo Bolsonaro. Nós relançamos o Minha Casa, Minha Vida, o Mais Médicos, o Bolsa Família de R$ 600. Lançamos programas rodoviários, reajustamos merenda escolar, anulamos decreto de desmonte da questão ambiental. E anunciamos o reajuste dos servidores de 9% depois de seis anos sem qualquer aumento. Portanto, restabelecemos essa linha de ação para mostrar que o Brasil tem governo. Noutra linha, estamos concluindo apresentação das novas metas fiscais, o chamado arcabouço, e vamos apresentar no final de maio a nova proposta de reforma tributária, dia 20. Essas duas medidas são essenciais para retomar a normalidade econômica do país. E uma outra medida fundamental nesses 100 dias é a agenda internacional, especialmente nos EUA e na América do Sul. E agora dia 11 na China.

O POVO - Nesse período houve atritos do presidente, especialmente com o chefe do Banco Central, por causa da taxa de juros. O tom adotado por Lula passou do ponto?

José Guimarães - Eu acho que está é abaixo do tom. Porque o país não pode conviver com isso, é um tapa na cara do povo brasileiro. Por que só a Faria Lima pode discutir a taxa de juros? A autoridade monetária não está acima da lei, nem acima do país. Tem que considerar duas coisas: primeiro a nova realidade surgida após a eleição, é um novo governo; segundo, a lei que deu autonomia ao BC tem lá no seu último parágrafo: a autoridade monetária se regerá por emprego, renda e crescimento econômico. A autoridade monetária está fazendo tudo ao contrário, mantendo taxa de juros. O esforço que o ministro Haddad está fazendo não serve de nada aos deles? Está errado.

O POVO - Como projeta a construção da base congressual?

José Guimarães - Primeiro que a base está sendo construída. Quem está dizendo que não tem base? Nós votamos uma PEC por 366 votos naquilo que era fundamental, que foi a desconstitucionalização do teto de gastos. O Lula nem tinha assumido ainda, tivemos 331 votos na apresentação do texto principal e quando apresentamos o destaque tivemos 366. Segundo, temos três grandes blocos na Câmara hoje, e todos estão dialogando com o governo. Acho que essa formação sai até melhor, porque evita a pulverização do diálogo. Eu sempre digo: vamos esperar o painel. Nós vamos testar a base na votação do arcabouço fiscal. Essa insegurança, eu não estou tendo.

O POVO - Houve uma diatribe do presidente com o senador Sérgio Moro (União Brasil-PR). Lula disse que o caso envolvendo o PCC tinha sido invenção dele. Como avalia esse episódio?

José Guimarães - Acho que todos nós, que somos governo, temos que ter muito cuidado quando fazemos nossas afirmações. Por tudo que Lula passou, eu relevo uma ou outra frase ou palavra exagerada. Mas há razões de sobra para desconfiar dessas peripécias do Moro, porque quem praticou os crimes que ele praticou na Lava Jato naquilo que incidiu sobre o presidente Lula é passível no mínimo de dúvida.

O POVO - Falando no bolsonarismo, o ex-presidente voltou agora. Acha que Bolsonaro deve ter algum tipo de papel na oposição ao presidente Lula no Congresso e fora dele? Houve o enfrentamento com bolsonaristas na Câmara, por exemplo, quando da visita do ministro Flávio Dino.

José Guimarães - Voltou sem brilho. Fizeram aquela coisa, mas voltou pra quê? É um ex-presidente sem ter o que dizer, está recluso, e a única coisa que está prevista é o depoimento dele na PF por conta das joias. Eu já disse isso: não merece comentários. Ele que responda pelos eventuais crimes que tenha cometido. Esse episódio a que você fez referência na CCJ é muito emblemático. Nós não temos que temer nada, todos que forem convidados ou convocados terão que ir e debater. Estão até arrependidos, eu acho, depois do Flávio Dino.

O POVO - Queria que o senhor fizesse agora uma avaliação do governo Elmano, que chega aos 100 dias. Como tem acompanhado o trabalho do sucessor de Camilo Santana?

José Guimarães - Elmano foi eleito numa situação muito delicada. Ninguém imaginava que Elmano ganhasse no primeiro turno. Ganhou.

O POVO - O senhor não imaginava?

José Guimarães - Eu percebi que podia ganhar 15 dias antes. Comentei com ele e com Camilo que nós podíamos ganhar a eleição no primeiro turno porque ele tinha três coisas que nenhuma das outras candidaturas tinha: referência do resultado de oito anos do governo do Camilo e da Izolda, o peso do Lula e o peso da militância do PT. Dito isso, penso que ele tem uma enorme responsabilidade. É um governo de continuidade, mas é um governo de futuro. Pensar o futuro, não pode ficar só naquilo que foi feito em oito anos, até porque a realidade do estado e do Brasil é outra. Acho que está tendo muita sensibilidade em torno de três questões. Primeiro, enfrentar o problema da fome. Segundo, avançar na educação de tempo integral. E terceiro, atrair investimentos para gerar empregos. Temos que trazer o investimento estrangeiro para atuar no Ceará. O hidrogênio verde é uma grande novidade e acho que pode contribuir muito, inclusive Elmano está viajando com Lula para China com essa pauta. Elmano tem tudo pra dar certo, não tem preguiça de trabalhar.

O POVO - Em 2024 é inevitável que o PT tenha candidato à Prefeitura?

José Guimarães - Evidentemente que sim. Se depender de mim, nós vamos ter candidato no maior número possível de municípios, inclusive Fortaleza. Claro que, ao dizer isso, não estou dizendo que vamos deixar de lado os nossos aliados históricos, os aliados da eleição. Temos que prezar muito por isso, porque numa hora dessas, todo mundo se aproxima, o poder atrai. Temos que ter muita sensibilidade, um coração grande para atrair, mas também ter a nitidez e o corte político para não abandonar os de primeira hora.

O POVO - O partido já vai discutir nome ou é precipitado?

José Guimarães - Acho que vamos discutir através de seminários, visitar as bases etc. Já estamos fazendo no diretório estadual. Se a gente quiser disputar eleição, a gente disputa em 100 cidades do estado. Tenho uma lista aqui. Vamos ter que priorizar aquelas cidades que são estratégicas. Já sabemos bem onde podemos ter candidatura e onde vamos apoiar os aliados. Em Fortaleza eu acho que, na hora certa, o PT vai ter que conversar bastante, tenho falado com Camilo e Elmano sobre isso. O PT vai se mobilizar e ter um processo de reorganização em Fortaleza que dê a ele as condições para sentar na mesa com os aliados e buscar uma alternativa consistente e vinculada ao novo governo federal e estadual.

O POVO - Tem espaço para entendimento ainda com o PDT e o prefeito Sarto?

José Guimarães - As discussões são normais, mas o que está posto é o PT, juntamente com os partidos que sustentaram a eleição do Elmano, ter uma candidatura em Fortaleza. Quem vai ser, isso nós temos que discutir. O PT tem excelentes nomes, os partidos aliados também têm. Eu penso que essa eleição é decisiva para 2026, em Fortaleza e em outras cidades que são polo.

O POVO - Dentro da Assembleia Legislativa existem nomes que não são propriamente do PT, mas que têm uma conexão com Elmano. É o caso do Evandro Leitão. O senhor descarta essa possibilidade (de Leitão concorrer à Prefeitura de Fortaleza)?

José Guimarães - Acho que não, depende do futuro partidário desses nomes. Elmano tem uma base muito qualificada na Assembleia. Tenho grandes amigos e o Evandro é um desses grandes companheiros que nós temos e que nos honram muito.

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