Logo O POVO+
Congresso "tem mais autonomia para traçar agenda e barganhar", diz pesquisador
Politica

Congresso "tem mais autonomia para traçar agenda e barganhar", diz pesquisador

Cenário político de 2023 apresenta mais desafios para a articulação do presidente do que aquele de duas décadas atrás, quando chegou ao Planalto pela primeira vez
Edição Impressa
Tipo Notícia Por

Um Congresso mais autônomo, uma oposição mais entrincheirada e um arranjo de forças diverso do de duas décadas atrás. Para o cientista político Cleyton Monte, “o contexto político do Lula 3 é totalmente diferente das outras experiências” (mandatos de 2003 a 2010).

“Nas outras, tínhamos um centrão muito mais disponível para negociação e menos impregnado de verniz de direita e extrema-direita e tínhamos partidos tradicionais fortalecidos, como é o caso do PSDB, DEM e MDB”, explica o pesquisador.

“Se em algum momento esses partidos estavam contra o governo, em outros votavam a favor, e isso criava perspectiva positiva”, acrescenta Monte.

Hoje, o campo do centro e da centro-direita foi praticamente anulado pelo bolsonarismo, que se impôs como força política.

Há ainda um agravante, continua Monte, que é o fato de a vitória de Lula sobre Jair Bolsonaro na disputa eleitoral de 2022 ter se dado sobre margens estreitas de voto, ou seja, o grupo político representado pelo ex-presidente saiu da corrida fortalecido.

“A vitória de Lula em 2022 foi muito apertada. Foi uma vitória no Executivo. As forças de direita e extrema-direita saíram vencedoras na Câmara e Senado. Essa oposição é diferente da oposição em outros momentos, é mais ideológica e tem uma pauta anti-Governo e antilulista, que trava as negociações”, indica.

É nesse cenário que as atuais dificuldades da gestão do presidente no Congresso devem ser entendidas. Nas diversas derrotas do Governo na Câmara e Senado até aqui, há um traço comum: um Legislativo que se fortaleceu nos últimos quatro anos, no vácuo deixado por Bolsonaro, cuja moeda de troca com deputados e senadores foram as chamadas emendas do “orçamento secreto”.

“Hoje, temos um presidente da Câmara mais forte e não alinhado, e no Senado também. Isso dificulta”, continua o especialista.

Ainda segundo ele, “os presidentes têm mais autonomia para traçar a agenda e barganhar” porque o “governo Bolsonaro criou vários mecanismos de compensação de recursos para a base”.

“Basta lembrar do orçamento secreto, isso empoderou muito o baixo clero. Faz com que a negociação seja mais difícil, mais cara e mais complexa”, ressalta.

Esse é o desafio para a articulação de Lula nas casas legislativas. Pactuar uma relação com os congressistas sem incorrer nos mesmos vícios da gestão anterior.

“O governo está começando, temos menos de um semestre. Lula já entendeu que existem problemas na articulação, com lideranças de partido e de governo, e está disposto a mexer”, projeta.

Um desses sinais de mudança de rota está exatamente na rodada de encontros entre o presidente e lideranças partidárias, que começou com o PSB há uma semana e que deve prosseguir com outros partidos da base num primeiro momento.

O que você achou desse conteúdo?