No aparelho de telefone celular do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel Mauro Cid, foi encontrado o roteiro para um golpe de Estado para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e manter no poder o ex-presidente Bolsonaro.
Não se trata da minuta de golpe, encontrada em janeiro na casa do ex-ministro Anderson Torres. Esse documento é mais detalhado sobre o que seria feito. Era prevista a anulação das eleições, afastamento de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e colocar o Brasil sob intervenção militar até a realização de novas eleições.
O documento, de três páginas, foi revelado nesta quinta-feira, 15, pela revista Veja.
No passo a passo encontro no telefone de Mauro Cid, Bolsonaro enviaria aos comandantes das Forças Armadas o relato do que considerava inconstitucionalidades praticadas pelo Poder Judiciário. Os militares avaliariam os argumentos e, caso concordassem, nomeariam um interventor, com poder absoluto.
O interventor anularia as decisões consideradas inconstitucionais — entre elas, a diplomação de Lula. E afastaria ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), além de abrir inquérito para investigá-los.
Marcaria ainda a data para nova eleição. Deveriam ser afastados os então integrantes do TSE Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski. Seriam chamados os substitutos à época: Kassio Nunes Marques, André Mendonça - estes indicados ao Supremo durante o mandato de Bolsonaro - e Dias Toffoli.
O roteiro intitulado “Forças Armadas como poder moderador” está incluído em um relatório de 66 páginas produzido pela Diretoria de Inteligência da Polícia Federal, que tem com base arquivos de áudio, mensagens de Whatsapp e backups de segurança encontrados no telefone de celular de Mauro Cid.
Não fica claro, com base nessas informações, de quem seria a autoria do passo a passo. No entanto, são citados no roteiro nomes do alto escalão das Forças Armadas que teriam papel decisivo na articulação e na execução de um eventual golpe.
Subchefe do Estado-Maior do Exército, o coronel Jean Lawand Junior é um deles. A reportagem da Veja revela diálogos nos quais ele pressiona Mauro Cid a intervir com Bolsonaro para o então presidente "dar a ordem".
“Pelo amor de Deus, Cidão. Pelo amor de Deus, faz alguma coisa, cara. Convence ele a fazer. Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso. O presidente vai ser preso. E, pior, na Papuda, cara”, teria dito Lawand em áudio para Mauro Cid.
O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro então argumento que o ex-presidente "não confia no ACE”, em referência Alto-Comando do Exército, a cúpula formada por generais da mais elevada patente e pelo ministro da Defesa.
CPMI
O relatório vem à tona no mesmo dia em que Moraes autorizou que Mauro Cid saia da prisão para prestar depoimento na CPMI do 8 de Janeiro. Sua convocação foi aprovada pelo colegiado na terça-feira, 13, junto com a de ex-ministros de Bolsonaro, como Walter Braga Netto e Augusto Heleno