Logo O POVO+
Arranjo político orquestrado por Cid ruiu, aponta pesquisador
Politica

Arranjo político orquestrado por Cid ruiu, aponta pesquisador

| Análise |Núcleo político de Cid e Ciro se desagregou. Liderança dos irmãos já não prevalece na base aliada, que está dividida
Edição Impressa
Tipo Notícia Por

O que é um ciclo político? O pesquisador e professor Cleyton Monte responde: "É uma demarcação temporal em que o grupo político tem destaque, ocupa vários espaços, segue determinadas lideranças, tem um programa, tem unidade, está em expansão, agrega e tem uma pauta".

Segundo ele, "nós tivemos vários ciclos no Ceará, alguns longevos e outros com tempo reduzido". Antes de Tasso Jereissati (PSDB), que governou o estado por três mandatos, houve o dos coronéis.

Ao do tucano se seguiu o ciclo dos Ferreira Gomes, cuja formação mais notável se encontra em Cid e Ciro Gomes, que acumulam, sozinhos, três mandatos à frente do Executivo estadual e um sem número de lideranças que se formaram sob sua influência.

Camilo Santana e Roberto Cláudio, por exemplo, foram lançados ao estrelato político local pelas mãos de Cid. José Sarto virou prefeito de Fortaleza pelas de Ciro em 2020, com aval de Cid e de Camilo.

De acordo com Monte, a despeito do vigor que esse grupo já demonstrou nas últimas três décadas, "o ciclo político dos Ferreira Gomes chegou ao fim".

Por quê? Novamente, ele arrisca uma resposta: "Porque aquele arranjo político que foi orquestrado em grande parte pelo Cid, que agregava muitos políticos e partidos sob a liderança dele e do Ciro e estava presente em vários espaços, e se nutriu do Governo do Estado, esse arranjo não existe mais".

Monte argumenta que Cid continua a ser um ator político importante, sem dúvida, mas hoje "com o seu poder compartilhado por outras lideranças que estão em franca ascensão".

"É o caso do ex-governador e hoje ministro Camilo, o governador Elmano. Essas figuras detêm poder e espaço e têm seus liderados e sua base", aponta.

Essa divisão no núcleo antes coeso dos Ferreira Gomes produziu um deslocamento do poder cearense, que saiu das mãos dos irmãos, que se dividiam na tarefa de cuidar do capital da família, para as de outros personagens.

"O grupo deles não tem mais unidade, ele se dividiu. Cid está buscando manter espaço no governo a partir de uma vinculação com Elmano e Camilo. Não é mais o poder político dele. Ciro está querendo garantir o espaço da Prefeitura de Fortaleza, que é muito mais um espaço de Sarto e Roberto Cláudio", analisa.

Também professor de ciência política, o pesquisador Emanuel Freitas (Uece) faz uma leitura diferente do cenário. Para ele, a eleição de Elmano de Freitas (PT) e a chegada de Camilo ao Senado são, de algum modo, a continuidade desse mesmo ciclo do qual emergiram Ciro e Cid.

"A eleição do Elmano não representa o fim desse ciclo, pelo contrário. É um momento de transição ou para a consolidação do ciclo ou para de fato uma mudança de grupo no poder, que para mim não se realizou por completo", avalia.

Ainda conforme Freitas, "Elmano só é possível como fenômeno eleitoral por conta do fenômeno que foi Camilo, que é por conta do fenômeno que foi Cid".

"Tem uma continuidade ainda aí. Não temos novos personagens", atesta, acrescentando que Elmano pode se constituir como "um governo de transição para o fim dessa era, no sentido de novos atores, opositores de fato ao ciclo Ferreira Gomes". (Henrique Araújo)

O que você achou desse conteúdo?