Sites de esquerda noticiaram com entusiasmo: a Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) teria o primeiro parlamentar assumidamente gay ocupando um de seus assentos. A possibilidade de que o ator e jornalista Ari Areia, então no Psol, assumisse mandato de Renato Roseno surgiu em 2020, mas o deputado estadual não deu oportunidade.
O que seria um ineditismo protagonizado por um partido com defesa histórica da bandeira LGBTQIA+ não é mais. Guilherme Bismarck, do PDT, exerce mandato no Legislativo estadual. É o primeiro político assumidamente homossexual na Casa.
Ari Areia obteve 11.326 votos naquela eleição. Não é raro deputados tirarem licença das casas legislativas de modo a contemplarem candidatos não eleitos, os suplentes, que ajudaram na totalização do quociente eleitoral. Ou, em outras palavras, que ajudaram na soma dos votos que correspondem ao número de cadeiras que um partido terá.
A insatisfação de Ari com a situação ficou exposta nas entrelinhas da nota que publicou ao se despedir do Psol, em 28 de junho. Ele disse por meio das redes sociais ter aprendido ser "mais saudável bater de frente com uma deputada declaradamente inimiga da pauta" do que ter de "lidar com um que seja aliado apenas até a segunda página e que, como um pé-de-eucalipto, sombreia e sufoca toda e qualquer coisa nova que ouse querer brotar no seu entorno".
O texto de Ari também fala sobre a tristeza ao assistir no Psol "o esvaziamento sistemático, o enfraquecimento proposital e a inviabilização inevitável de tantos quadros potentes como nós".
Renato Roseno foi questionado por O POVO sobre a nota e a existência ou não de um acordo. Disse que houve, de fato, um combinado. Mas que foi interrompido por ele após Ari ter se colocado em outro campo do partido, o de Adelita Monteiro, àquele momento de 2020 pré-candidata à Prefeitura de Fortaleza. O deputado salientou que naquele mesmo ano o Psol deu uma demonstração prática de que se renova:
O POVO: Por que não foi possível um acordo?
Renato Roseno: Você está falando da legislatura passada? Tem havido renovação e tem nascido novos quadros. A eleição de Gabriel e da Nossa Cara em 2020 (à Câmara Municipal de Fortaleza) é fruto disso.
O POVO: Ele fez menção aos episódios da legislatura passada ao anunciar a desfiliação no final de junho. Existiu algum acordo para Ari assumir?
Renato Roseno: Estava decidido, pois eu iria ser candidato a prefeito (como de fato fui em 2020), mas ele se afastou dessa possibilidade quando optou por interromper o diálogo comigo e se colocar em outro campo que lançou outra pré-candidatura contra a nossa. Eleição essa que resultou na vitória do mais jovem vereador de Fortaleza e da primeira chapa coletiva de mulheres negras LGBT.
Fora do Psol, Ari Areia comentou postagem de Larissa Gaspar na qual ela repercutia a participação no podcat Jogo Político, do O POVO. "Larissa prefeita", comentou Ari na postagem da petista.
Na entrevista, Larissa também falava sobre renovação, precisamente no contexto petista referente à disputa à Prefeitura de Fortaleza.
Em referência à deputada federal Luizianne Lins (PT), a deputada estadual afirmou ao O POVO que o partido precisa ser oxigenado com a possibilidade de que novas lideranças ir à disputa para que o PT não tenha a "mesma cara".