Desde que comprou o Twitter - agora renomeado de “X”- , o bilionário Elon Musk passou a promover mudanças significativas na rede social, frequentemente utilizada como uma fonte de informações oficiais divulgadas por órgãos e políticos de todo o mundo, além de ser palco de discussões abertas entre atores públicos e o cidadão comum. As mudanças não são feitas ao acaso e dão início a um projeto já anunciado por ele, capaz de moldar questões comportamentais, econômicas e até a forma como usamos a Internet hoje.
O acordo para aquisição do Twitter foi fechado em US$ 44 bilhões e desde então Musk - que também possui empresas como Tesla (veículos elétricos) Space X (exploração espacial) xAI (inteligência artificial) e outras - tem promovido mudanças radicais. Além da troca de nome e logo, já passou a cobrar por funcionalidades da rede social, demitiu dois terços dos funcionários, mandou suspender contas de jornalistas, reativou perfis que disseminavam desinformação dentre outras polêmicas.
O bilionário defende um conceito de “liberdade de expressão” irrestrita, comum a grupos ultraliberais de direita e de conservadores espalhados pelo mundo e pretende transformar a plataforma numa espécie de superaplicativo, capaz de resolver diversas demandas de usuários ou All-In-One (tudo em um lugar).
Em outubro do ano passado, o bilionário avaliou que a compra do Twitter seria um “acelerador para a criação do X, o aplicativo que tem tudo”. Experiência similar talvez seja o WeChat, aplicativo chinês extremamente popular em países asiáticos, que engloba uma série de serviços.
Buying Twitter is an accelerant to creating X, the everything app
— Elon Musk (@elonmusk) October 4, 2022
Além das funcionalidades de rede social, o X poderia oferecer aos usuários diversos serviços; Dentre os cotados estão ligações, troca de mensagens, pagamentos, compras online e entregas.
“X é o estado futuro de interatividade ilimitada. Centrado em áudio, vídeo, mensagens, pagamentos/banco – criando um mercado global para ideias, bens, serviços e oportunidades. Alimentado por Inteligência Artificial, o X conectará todos nós de maneiras que estamos apenas começando a imaginar”, disse a presidente executiva da plataforma, Linda Yaccarino, em publicação no X/Twitter.
X is the future state of unlimited interactivity – centered in audio, video, messaging, payments/banking – creating a global marketplace for ideas, goods, services, and opportunities. Powered by AI, X will connect us all in ways we’re just beginning to imagine.
— Linda Yaccarino (@lindayacc) July 23, 2023
Carlos d'Andréa, professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e associado do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), avalia que os movimentos do bilionário refletem características “personalistas”, ao passo em que simbolizam um certo modelo de capitalismo e política. “É muito claro o alinhamento político dele (Musk) com liberais e conservadores dos Estados Unidos. Esses valores andam junto com a questão econômica”.
O professor diz ainda que Musk é um exemplo caricato de uma “nova forma de capitalista, com visões de mundo ligadas a ideias de aceleracionismo, sempre pensando nessas expansões espaciais, inovações tecnológicas como uma pretensa solução para a humanidade”.
E segue: “Foi um pouco nesse embalo que a compra do Twitter se concretizou, mesmo sendo um negócio que potencialmente dará grande prejuízo ou pelo menos cujo lucro não é, nem de longe, fácil. Ele acredita naquilo como um espaço de debate livre, a partir de uma ideia muito associada à liberdade de expressão irrestrita que alguns têm. Então ele passa a buscar comandar esse espaço e passa a ser um dos interlocutores que falam com mais amplificação nele”, explica.
D’Andréa diz que Musk vai desmontar a plataforma como existia e recriar à sua maneira e que é cedo para avaliar o futuro das ações. “Acredito que a coisa tende a ser muito diferente do que já foi. Já está. Não arriscaria dizer para onde ela vai, mas o fato é que ele tem pretensão de que seja uma rede social que ganhará espaço e será um lugar para essa ‘liberdade de expressão’ nesse campo”, complementa.
Outra frente na qual Musk avança é a questão da Inteligência Artificial (IA). No início deste ano ele foi um dos signatários de uma carta que pedia a interrupção temporária de pesquisas e usos de ferramentas de IA, sob pena de “riscos profundos para a humanidade”.
Neste mês, o bilionário anunciou o lançamento da xAI, sua própria empresa do ramo, para competir com empresas como Google, Microsoft e OpenAI. Esta última, criadora do famoso ChatGPT e que contou com o próprio Musk dentre o quadro de fundadores.
Sobre a flutuação de Musk em relação a questão das IAs, Carlos d’Andréa elenca a movimentação sob algumas óticas possíveis. “É muito no embalo do chatGPT, e muito no susto que muitas pessoas tomaram com a chegada mais rápida do que imaginamos dessa realidade. Musk é uma das alas que defende essas coisas macro como ‘o futuro da humanidade está em jogo’. ‘Temos que ir para Marte’; ‘Temos que parar com as pesquisas sobre IA’”, destaca
O especialista aponta ainda que uma das formas de avaliar a manobra e seu contexto é a partir da lembrança de que Musk já foi um sócio da OpenIA, que desenvolveu os modelos GPT, e agora está criando sua própria empresa na área e, portanto, "precisa de tempo para poder concorrer com Microsoft e Google. Isso seria estratégico”, finaliza.
Bilionário sul-africano, com cidadania estadunidense e canadense, Elon Musk é dono de grandes empresas em diferentes ramos de atuação. Tem companhias nas áreas de automóveis elétricos (Tesla), projetos espaciais (SpaceX), redes sociais (Twitter, atual “X”) inteligência artificial (xAI), internet (StarLink) e neurotecnologia (Neuralink) e outras.
Segundo o ranking da revista Forbes, divulgado em junho deste ano, Musk tem um patrimônio avaliado em cerca de US$ 215 bilhões. O bilionário da tecnologia estava em segundo lugar na lista das pessoas mais ricas do mundo desde dezembro de 2022, quando foi ultrapassado por Bernard Arnault, diretor-executivo do grupo LVMH.
A variação positiva nas ações da Tesla foi determinante para o retorno de Musk ao topo da lista. A Forbes destacou que houve valorização de 110% desde o início de 2023, o que incrementou a fortuna de Musk em cerca de US$ 70 bilhões no período.
Desde que comprou o Twitter, o magnata Elon Musk fez grandes mudanças tanto no aplicativo quanto na empresa, desde cobrar por algumas funções até eliminar seu logotipo tradicional, um pássaro azul. Seguem abaixo as etapas que levaram Musk a colocar seu selo na plataforma global, convertida, agora, em "X".
Diretor-executivo da Tesla e SpaceX, Musk comprou o Twitter no ano passado, por US$ 44 bilhões, após meses de negociações agitadas. Em poucas semanas, metade dos 7.500 funcionários do Twitter foram demitidos, o que causou comoção no Vale do Silício.
Os cortes continuaram, segundo as informações disponíveis, até a eliminação de 80% dos cargos técnicos da empresa. Musk vendeu o mobiliário e outros objetos do escritório em San Francisco, Califórnia, enquanto relatos apontam que a empresa não paga a dívida com aluguel e outros gastos.
Em novembro, o Twitter lançou uma assinatura paga, chamada Twitter Blue. Mas o relançamento foi temporariamente interrompido devido a um episódio de contas falsas que assustou os anunciantes da plataforma. O Twitter Blue voltou a ganhar asas no mês seguinte, com a oferta de recursos especiais, como permitir publicações mais longas ou, inclusive, editá-las.
No fim de novembro de 2022, Musk reativou a conta do ex-presidente americano Donald Trump, que havia sido banido por instigar o ataque ao Capitólio em janeiro de 2021, após perder a eleição para Joe Biden. O magnata ofereceu uma "anistia" a milhares de perfis que haviam sido suspensos pelo Twitter, o que aumentou o temor de a plataforma se encher de abusos e desinformação.
Musk também se aproximou de personalidades polêmicas. Tucker Carlson, ex-apresentador do canal de TV Fox News, que tem posições radicais e, em alguns casos, conspiratórias, lançou um programa no Twitter. O site de notícias conservador The Daily Wire transmite seus podcasts na plataforma, incluindo o de Matt Walsh, comentarista conhecido por comentários transfóbicos.
Em maio deste ano, Musk anunciou a contratação da executiva do ramo da publicidade Linda Yaccarino como diretora da empresa. Os anúncios na plataforma despencaram depois que Musk reduziu drasticamente a moderação do conteúdo. Musk disse que permaneceria responsável pelo design e pela tecnologia do Twitter, com Linda se concentrando nos negócios e transformando a plataforma em um "aplicativo para tudo" chamado X.
Em julho, o Twitter anunciou que o Tweetdeck, programa da empresa que permite ao usuário monitorar várias contas ao mesmo tempo, ficaria disponível apenas para usuários verificados. A mudança ocorreu quando Musk exigiu que serviços ou aplicativos externos pagassem taxas para "interagir" com a plataforma. Musk também limitou brevemente o número de publicações diárias que podiam ser lidas por usuários que não tinham o serviço Twitter Blue.
Em 24 de julho, Musk eliminou o logotipo tradicional do Twitter, substituindo-o por um "X", dentro de um novo posicionamento de marca. O site passa a exibir o novo logotipo, um X branco sobre um fundo preto. No começo do ano, Musk já havia mudado o nome corporativo da empresa para X. (AFP)
Elon Musk anunciou, no último dia 12, o lançamento da xAI, uma nova empresa focada em inteligência artificial (IA). "O objetivo da xAI é compreender a verdadeira natureza do universo", afirma a startup em seu site, sem dar mais detalhes.
Musk explicou no Twitter que a ambição da xAI era "entender a realidade". O site anuncia uma sessão de perguntas e respostas no Twitter para falar sobre a recém-criada empresa de IA.
A empresa foi formalmente estabelecida em Nevada, em março, de acordo com o registro corporativo do estado, mas afirma que sua equipe técnica está sediada na área de São Francisco, na Califórnia. No momento de seu registro, Musk era listado como diretor da xAI.
A equipe da xAI, "liderada por Elon Musk", de acordo com o site, é composta por renomados especialistas em inteligência artificial, incluindo alguns da OpenAI, criadora do ChatGPT, assim como do Google e da Microsoft.
Há vários meses, o bilionário admitiu ter comprado uma grande quantidade de unidades de processamento gráfico (GPU), essenciais para o desenvolvimento de software de IA, sem revelar o que planejava fazer com elas.
Em uma entrevista em abril, Musk disse que planejava "criar uma terceira opção" entre os pesos pesados da IA, além da Microsoft/OpenAI e Google. Os dois gigantes tecnológicos desenvolveram as interfaces mais avançadas para a chamada IA generativa.
Segundo o magnata, um modelo de inteligência artificial "que se interessasse pelo universo provavelmente não destruiria a espécie humana, porque somos uma parte interessante do universo. Esperamos que ele pense assim", destacou.