Pré-candidato à reeleição, o prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), lançou uma ofensiva para melhorar a imagem da gestão de olho na disputa do ano que vem.

Apenas nas últimas semanas, o pedetista intensificou a presença nas redes, respondendo a usuários sobre questões que vão desde o ar-condicionado nos ônibus da cidade até a reforma da Ponte dos Ingleses, assumida integralmente pelo Paço.

De passagem, o gestor afirmou que, se o Governo do Estado não tivesse condições, a Prefeitura concluiria as obras do Acquario Ceará, numa dupla cutucada: em Cid Gomes, ex-governador e senador pelo PDT, e em Elmano de Freitas (PT), chefe do Executivo estadual, com quem Sarto vem medindo forças dia sim, outro também.

Na última quarta-feira, 10, como parte dessa estratégia de “harmonização” eleitoral, Sarto anunciou passe-livre para estudantes da capital cearense, medida a ser implementada até o fim do ano. Politicamente, a iniciativa foi tratada como um gol de placa por aliados.

Nas ações mais recentes do prefeito, o esforço de se apresentar numa nova versão é visível. O mandatário parece estar à vontade no papel.

Prova disso são as aparições almoçando nos mercados de Fortaleza, às vezes calçando apenas chinelo de dedo e vestindo camiseta e bermuda, num contraste com aquele “dress code” que o ex-governador e hoje ministro Camilo Santana (Educação) consagrou e que foi prontamente adotado tanto por Roberto Cláudio (PDT) quanto por Elmano: calça preta e camisa de mangas compridas branca.

Essa tentativa de renovação na imagem de Sarto ajuda a entender os cenários do ano que vem, já que ele mesmo chegou a reconhecer, em conversa com O POVO, que RC poderia sair candidato para um terceiro mandato. Tudo dependeria das pesquisas.

O empenho do prefeito, contudo, indica que ele planeja estar bem nas sondagens internas quando o PDT finalmente bater o martelo sobre o seu representante na briga pelo Paço. Daí esse novo momento do pedetista.

Para especialistas ouvidos pelo O POVO, no entanto, o plano de repaginação levado a cabo por Sarto é uma faca de dois gumes.

“Uma das dificuldades dele em relação a essa estratégia específica é que, até pouco tempo atrás, Sarto era do grupo governista”, avalia a professora e pesquisadora Monalisa Torres, da Universidade Estadual do Ceará (Uece).

Para a cientista política, Sarto vai ter de calibrar bem a dosagem dos discursos críticos que têm como alvo os governos de Camilo e Elmano, sobretudo quando tratarem de intervenções como o Acquario.

“São obras que foram construídas no mandato do Cid, com o qual ele tinha boa relação. A depender da forma como essa contenda se desdobrar, pode não ser tão bom para o Sarto e soar como oportunismo político”, frisa Torres.

De acordo com ela, no entanto, o prefeito não tem tantas escolhas assim: “Agora ele está começando a ir para o tudo ou nada, e ele tem que ter um certo cuidado em relação a isso”.

O “tudo ou nada” referido pela analista diz respeito aos obstáculos que o prefeito vinha encontrando pelo caminho, que incluíam desde o racha no grupo governista até a aprovação de leis impopulares, como a Taxa do Lixo.

“Para o gestor em final de primeiro mandato, necessitando de se cacifar para a reeleição”, explica Torres, “Sarto teve muito mais desgaste do ponto de vista da imagem do que pontos positivos. E aí agora ele está tentando ocupar esse espaço do debate político”.

A pergunta é: vai dar certo para o Sarto? Professor e cientista político da Uece, Emanuel Freitas considera que o gestor “tenta recuperar uma certa popularidade apontando para uma gestão que seria pior do que a dele ou que entrega menos que a gestão dele”, mas com resultados ainda incertos.

“O prefeito se vale da ação de relembrar ao eleitor de Fortaleza de obras paradas do Governo do Estado, que o governo dele apoiou até ontem”, ressalta Freitas, acrescentando que essa manobra tem limitações.

“É uma estratégia de reposição pensando na eleição de 2024”, continua, já que “a situação do Sarto também é complicada” do ponto de vista eleitoral.

"Sarto está disputando em dois flancos de batalha"

Para Monalisa Torres, professora da Uece, o prefeito José Sarto (PDT) trava uma dupla disputa: uma para melhorar a imagem e se fortalecer internamente como candidato no PDT; e outra para enfrentar os potenciais adversários no pleito do ano que vem, caso seja o escolhido pela legenda.

“Sarto está disputando em dois flancos de batalha. Ainda que haja esse discurso de que ele é o prefeito e é o candidato natural, não existe essa coisa de candidato natural, isso pode ser relativizado. Ele está lutando em duas frentes”, indica a cientista política.

Numa dessas frentes, o chefe do Executivo tem diante de si um oponente ainda sem nome, mas cuja força política e eleitoral é inegável. Trata-se do candidato apoiado pelo grupo do ministro Camilo Santana e do governador Elmano de Freitas.

A preço de hoje, esse postulante seria o atual presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão. Embora filiado ao PDT, o parlamentar declarou ao O POVO que pode deixar a legenda e se filiar a outro partido para concorrer ano que vem. De seu agrado, conforme Leitão, há o PT e o PSB.

Noutra frente de lutas, Sarto tem a arena intestina: o PDT, onde ele ainda precisa se firmar como candidato viável. Também em conversa com O POVO, o prefeito já acenou para a possibilidade de que o aliado Roberto Cláudio possa postular o cargo de gestor do Paço em 2024.

As pesquisas, refletiu Sarto, é que ajudarão a dar essa resposta. (Henrique Araújo)

Nova dinâmica de Sarto "impacta positivamente a imagem da gestão", diz vice-prefeito

Vice-prefeito de Fortaleza, Élcio Batista (PSDB) avalia a nova postura do titular do Executivo municipal, José Sarto (PDT). Segundo ele, trata-se de uma dinâmica mais resolutiva e cujo efeito imediato “impacta positivamente a imagem da gestão a partir da visão dos cidadãos”.

Em conversa com O POVO, o vice afirma que Fortaleza tinha problemas que “ficaram sendo protelados por muito tempo e que agora o prefeito Sarto resolveu enfrentar”.

Um deles, de acordo com Batista, seria a reforma da Ponte dos Ingleses, que, após queda de braço com o governador Elmano de Freitas (PT), acabou integralmente sob responsabilidade da administração municipal.

Mas não apenas isso. Sobre o Acquario, por exemplo, obra paralisada desde o governo do ex-aliado Cid Gomes (PDT), o vice-prefeito assegurou que a Prefeitura tem projeto para o equipamento e sabe como resolver o problema.

O POVO – É perceptível que o prefeito tem investido mais numa estratégia nas redes sociais. Há um movimento deliberado de melhoria da sua imagem. Como avalia esses passos mais recentes da Prefeitura? É só eleitoral ou tem a ver com o andamento natural da gestão?

Élcio Batista – A gestão sempre veio muito bem. Se a gente for olhar as entregas que fizemos nesses dois anos e sete meses de governo liderado pelo Sarto, fizemos muito. Tanto que a gente já chegou a mais de 70% de execução do plano de governo. Eu acompanho diretamente o Fortaleza 2040 e estamos implementando muitas ações nesse ciclo, o que é uma boa notícia. Existe um plano de longo prazo que está acontecendo. Mais recentemente, a gente resolveu enfrentar algumas questões da cidade que estavam e estão há muito tempo precisando de decisão. E o Sarto, ao tomar essas decisões e se mostrar bastante decidido no que diz respeito a resolver esses problemas, claro que isso gerou uma nova dinâmica não só política, mas em termos de comunicação pública para a Prefeitura.

OP – Isso ficou claro na questão em torno da Ponte dos Ingleses, não é?

Élcio – Exatamente. A Praia de Iracema, por exemplo. A Beira Mar foi reformada e a gente precisava fazer um trabalho mais concreto e efetivo relacionado à requalificação da Praia de Iracema. Quando decidi ir pra lá e levar a vice-prefeitura, e o Sarto me nomeou, por decreto, para que eu pudesse tocar as ações sob a chancela da Unesco em Fortaleza como a cidade mundial do design, eu insisti com ele que a gente precisava fazer algo na Praia de Iracema que fosse muito impactante. Tivemos a decisão dele de fazer a requalificação. Depois, tivemos a decisão relacionada à Ponte dos Ingleses e a decisão de levar para a Praia de Iracema a Escola de Saúde Pública. E também, já no primeiro ano de gestão, discuti com Sarto que a gente precisava resolver a questão do pré-tombamento do hotel São Pedro. Todas decisões que foram sendo tomadas relacionadas com a Praia de Iracema. Essa dinâmica se mostrou ainda mais presente agora, quando ele não só decidiu fazer a ponte, mas quando colocou que o próprio Acquario a Prefeitura teria projeto para enfrentar e resolver essa questão. Então essa nova dinâmica, liderada por ele, de enfrentar essas questões e de ter um posicionamento claro, objetivo e efetivo, no sentido de resolver e deixar de protelar, impacta positivamente a imagem da gestão a partir da visão dos cidadãos.

OP – Pensando em 2024, isso representa um ganho para o prefeito?

Élcio – Não resta dúvida de que isso gera uma imagem para o prefeito muito mais assertiva e de uma pessoa que está disposta a enfrentar os problemas da cidade e a decidir com velocidade quais são os encaminhamentos que precisam ser feitos para esses problemas. Se a gente olhar, não é só uma questão vinculada a um ciclo eleitoral do próximo ano. A população, seja de Fortaleza ou de qualquer cidade, quer que o gestor público, em primeiro lugar, esteja focado nos problemas da cidade. Em segundo lugar, que ele se comunique com a população para enfrentar esses problemas. E terceiro, que ele apresente soluções que sejam efetivas, que não sejam protelatórias. Esses pontos são fundamentais porque representam as demandas e as necessidades que as pessoas têm de terem uma liderança com essas habilidades e capacidade. Esse tem sido um momento importante porque Fortaleza vem com uma dinâmica de transformação muito forte na última década, mas teve alguns problemas que ficaram sendo protelados por muito tempo e que agora o prefeito Sarto resolveu enfrentar.

OP – O prefeito já falou sobre o caso do Acquario. O senhor repetiu agora que a gestão teria projeto para o equipamento. Isso é só retórica ou a Prefeitura teria mesmo projeto para lá?

Élcio – Não, a gente tem projeto. Quando eu estava no Governo do Estado, existiam várias opções para resolver o problema do Acquario, e todas as opções passavam pela Prefeitura. Teria que ter a participação da Prefeitura em qualquer solução do Acquario. Por isso que aconteceram várias reuniões na época com o prefeito Roberto Cláudio e com o Camilo. A gente tem caminhos para resolver a questão do Acquario, a gente sabe como fazer e a gente sabe que é possível, sim, resolver o Acquario, e não só isso. Na medida em que resolve o Acquario, a gente cria certamente um impacto muito grande tanto na Praia de Iracema quanto no Centro, que vai gerar um ciclo de desenvolvimento urbano para geração de emprego e renda, principalmente geração de prosperidade econômica.