Como parte da espiral de ações policiais e suspeitas que atingem Jair Bolsonaro (PL) desde o início do mês, o hacker Walter Delgatti Neto acusou ontem o ex-presidente de lhe oferecer um indulto para que violasse medidas cautelares da Justiça e invadisse o sistema das urnas eletrônicas. Falando à Comissão Parlamentar Mista (CPMI) do 8 de Janeiro, "Vermelho" - como é conhecido - também afirmou que, numa conversa com Bolsonaro, ele teria dito que obteve um grampo do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Segundo o relato de Delgatti, o ex-presidente queria que ele assumisse a autoria do crime. A Polícia Federal intimou o hacker a prestar novo depoimento hoje, mas a defesa deve orientá-lo a ficar calado. Ao longo de 8 horas de depoimento à CPMI, Delgatti não apresentou documentos ou qualquer material que comprovasse as acusações.
A defesa de Bolsonaro informou que vai entrar com uma queixa-crime contra o hacker por "informações e alegações falsas, totalmente desprovidas de qualquer tipo de prova".
Bolsonaro desmentiu ontem as declarações de Delgatti. Em uma entrevista à Jovem Pan, o ex-presidente afirmou que o hacker estava "fantasiando" no depoimento para o colegiado e negou que teria conversado com ele sobre um grampo ao telefone de Alexandre de Moraes.
O ex-presidente confirmou que recebeu o hacker no Palácio da Alvorada em uma oportunidade. À CPMI, Delgatti disse que a reunião seria para organizar uma tentativa de mostrar que a urna eletrônica era passível de fraudes.
Para a rádio, Bolsonaro disse que pediu para que ele falasse com os membros do Ministério da Defesa que integraram a comissão eleitoral do TSE antes das eleições presidenciais de outubro.
"Ele está inspirado hoje. Teve a reunião e eu mandei ele para o Ministério da Defesa para conversar com os técnicos. Ele esteve lá (no Palácio da Alvorada e no Ministério da Defesa) e morreu o assunto. Ele está voando completamente. Tem fantasia aí. Eu só encontrei com ele uma vez no café da manhã (no Alvorada), e não falei com ele no telefone em momento algum. Como ele pode ter certeza de um grampo? Nós desconhecemos isso", disse o ex-presidente à Jovem Pan.
Pela manhã, a maior parte do tempo da sessão da CPMI foi composta por perguntas feitas por parlamentares alinhados ao governo. Após o intervalo, à tarde, os políticos da oposição fizeram questionamentos ao hacker. Segundo o ex-presidente, Delgatti ficou em silêncio ao ser confrontado pelos seus aliados e teria "se exaltado" anteriormente por estar "entre amigos".
O hacker, conhecido por vazar mensagens da Lava Jato, teve momentos de embate com o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) durante seu depoimento à CPMI. Ele chamou o ex-juiz da operação de "criminoso contumaz".
"Eu fui vítima de uma perseguição em Araraquara equiparada à perseguição que vossa excelência fez com o presidente Lula e integrantes do PT. Eu li as conversas de vossa excelência, li a parte privada, e posso dizer que o senhor é um criminoso contumaz. Cometeu diversas irregularidades e crimes", disse o hacker.
Moro rebateu: "O bandido aqui, que foi preso, é o senhor. O senhor é inocente como o presidente Lula, então?", afirmou. "Temos um depoente que é acusado e processado por diversos crimes de estelionato. Há sinais claros de que ele faz do crime a sua profissão", prosseguiu.
Diante da troca de ofensas, o vice-presidente da CPMI, senador Cid Gomes (PDT-CE), cobrou respeito de ambas as partes. (Agência Estado)