Dirigente estadual do PSD, o ex-vice-governador Domingos Filho afirmou que o principal motivo para a legenda romper com o prefeito José Sarto (PDT) foi que o partido "não se sentia contemplado" na Prefeitura.
"O PSD não se sentia contemplado nem na gestão nem na relação política. Eu vinha dando essas declarações públicas e colocando que os cargos eram de livre nomeação e exoneração do prefeito", relatou Domingos em conversa com O POVO.
No sábado, por meio de nota, a sigla anunciou a entrega dos postos que ocupava no Paço - duas chefias de Regionais.
No texto divulgado, logo depois de informar sobre "o desligamento do partido com a Prefeitura", o PSD admite que "a relação entre Domingos Filho e José Sarto nunca foi muito amistosa".
O tom da nota, no geral, é bastante crítico, com amplo espaço para revisitar conflitos que marcaram a trajetória dos agora ex-aliados, remontando aos tempos em que eram parlamentares na Assembleia Legislativa do Estado.
Na entrevista ao O POVO, Domingos reconheceu que ficou esperando que o prefeito exonerasse os nomes do PSD na gestão, mas isso não foi feito.
"Como o prefeito não exonerava (os filiados da sigla), embora com todas essas declarações e tudo o mais, eu comuniquei ao Roberto Cláudio, que é o presidente do PDT municipal, a entrega dos cargos", contou.
De acordo com ele, a decisão de deixar o Paço foi tomada para que, mesmo longe das eleições, "não ser entendido que a participação no governo gerava uma expectativa de que nós iríamos votar no Sarto (na reeleição), e não é essa a disposição do partido".
"Eu já vinha conversando com o RC muito francamente", acrescentou, "imagine que quando a gente começa a expressar publicamente (descontentamento com governo Sarto) é porque já vem um esgotamento nas conversas interpessoais".
Conforme Domingos, RC e o senador Cid Gomes, ambos do PDT, foram os únicos fiadores do apoio do PSD a Sarto na disputa eleitoral de 2020.
Em 2022, na corrida pelo Governo do Estado, PSD e PDT renovaram a parceria, agora com Domingos ocupando a posição de candidato a vice na chapa encabeçada por RC, que terminaria o pleito em terceiro lugar, atrás de Capitão Wagner (União) e de Elmano de Freitas (PT), eleito para o Abolição.
Desde o fim da eleição do ano passado, o PSD vem numa trajetória de aproximação do governismo estadual. Ao O POVO, o chefe da executiva cearense chegou a sinalizar que o partido não seria empecilho a tratativas com Elmano, com vistas a uma entrada da agremiação na base do petista.
Esse movimento já está consolidado, tanto pela saída do PSD do arco de aliança de Sarto quanto pelo potencial ingresso oficial da força partidária no Executivo estadual, eventualmente ocupando uma secretaria.
Questionado se a ruptura com Sarto sela o futuro do PSD ao lado de um candidato governista ano que vem, Domingos brincou: "Nós já sabemos com quem nós não vamos. Agora vamos ver com quem nós vamos".
Em seguida, porém, o dirigente deu a senha para o caminho que a legenda deve trilhar: "Verdadeiramente, já estamos juntos num bloco parlamentar com o PT e sempre colocamos que o partido não era obstáculo ao reatamento que o senador Camilo e o governador Elmano vêm defendendo".
O POVO tentou contato com o prefeito José Sarto para comentar a saída do PSD da gestão, mas não houve retorno.