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Lula se distancia de guerra na Ucrânia e crítica "aventureiros de extrema-direita"
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Lula se distancia de guerra na Ucrânia e crítica "aventureiros de extrema-direita"

| ONU | Presidente brasileiro destaca em discurso na Assembleia-Geral a luta contra a fome e a desigualdade. Biden cobra posição de líderes sobre Ucrânia
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LULA voltou a discursar na ONU após 14 anos (Foto: MICHAEL M. SANTIAGO / GETTY IMAGES VIA AFP)
Foto: MICHAEL M. SANTIAGO / GETTY IMAGES VIA AFP LULA voltou a discursar na ONU após 14 anos

Brasil e Estados Unidos abriram a Assembleia-Geral da ONU nesta terça-feira, 19. Como de costume, o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva foi o primeiro a discursar, seguido do americano Joe Biden.

Os dois apresentaram posições divergentes sobre o tema principal do encontro: a guerra na Ucrânia. Enquanto Biden criticou abertamente a Rússia, Lula tentou manter uma certa neutralidade.

Lula não citou diretamente a Rússia nem Vladimir Putin e mencionou outros conflitos mundiais para reforçar que "nenhuma solução será duradoura se não for pautada em diálogo". "A guerra na Ucrânia escancara a incapacidade coletiva de fazer prevalecer os propósitos e princípios da Carta da ONU", disse Lula.

Já Biden foi enfático em defesa da Ucrânia e afirmou que os russos são os únicos culpados pela guerra, destacando que nenhum país estará seguro se os princípios da ONU forem violados para "apaziguar" a Rússia. "Devemos enfrentar esta agressão flagrante hoje para dissuadir outros possíveis agressores amanhã", afirmou o americano.

Agenda comum

Biden e Lula terão nesta quarta-feira, 20, uma oportunidade de reduzir suas diferenças sobre a guerra na Ucrânia em uma reunião fechada entre os dois em Nova York. No entanto, nem tudo no encontro bilateral será desentendimento. Brasil e EUA têm vários pontos em comum em suas agendas de política externa, como ficou claro ontem na disposição dos dois presidentes.

Lula aproveitou o discurso, seu oitavo na ONU, para recolocar o Brasil como líder na luta contra o aquecimento global. "Hoje, a questão climática bate às nossas portas", disse. "E impõe perdas e sofrimentos, sobretudo aos mais pobres."

O presidente brasileiro criticou também a representatividade da ONU, se juntando ao coro internacional que pede uma reforma de suas instituições. "O Conselho de Segurança vem perdendo progressivamente sua credibilidade", afirmou Lula. "Sua paralisia é a prova mais eloquente da necessidade e da urgência de reformá-lo."

Biden, que discursou logo em seguida, concordou com Lula em vários aspectos. Ele pediu cooperação para superar a crise climática e também defendeu uma reforma no Conselho de Segurança. "É preciso superar o impasse que paralisa o conselho", afirmou o americano. "Precisamos de mais vozes."

Volta

Lula, que voltou à ONU após 14 anos, foi aplaudido sete vezes durante o discurso de 21 minutos em defesa do multilateralismo, anunciando que o Brasil está de volta para contribuir com o enfrentamento dos principais desafios globais. "Resgatamos o universalismo da nossa política externa, marcada por diálogo respeitoso com todos", disse.

O presidente brasileiro afirmou que o neoliberalismo foi fator agravante da desigualdade econômica e política que atinge as democracias atualmente. O resultado do movimento, de acordo com o brasileiro, foi o surgimento de "aventureiros de extrema-direita que negam a política e vendem soluções tão fáceis quanto equivocadas".

"Os governos precisam romper com a dissonância cada vez maior entre a 'voz dos mercados' e a 'voz das ruas'. O neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias. Seu legado é uma massa de deserdados e excluídos", acrescentou, destacando ainda que "muitos sucumbiram à tentação de substituir um neoliberalismo falido por um nacionalismo primitivo, conservador e autoritário".

No discurso, Lula enfatizou que as oportunidades que cada criança terá são traçadas "ainda no ventre da mãe". Segundo ele, a governança mundial trata injustiças como "fenômenos naturais" da humanidade.

"O destino de cada criança que nasce neste planeta parece traçado ainda no ventre de sua mãe. Se irá fazer todas as refeições ou se terá negado o direito de tomar café da manhã, almoçar e jantar diariamente. É preciso, antes de tudo, vencer a resignação, que nos faz aceitar tamanha injustiça como fenômeno natural. Para vencer a desigualdade, falta vontade política daqueles que governam o mundo", acrescentou o presidente.

Zelensky

Outro momento bastante aguardado na abertura da Assembleia-Geral foi o discurso do presidente da Ucrânia, Volodmir Zelensky - a primeira vez que ele fala presencialmente na ONU desde que seu país foi invadido pela Rússia, em fevereiro de 2022.

Zelensky tentou retratar a agressão russa como uma ameaça que não se restringe à Ucrânia. "O objetivo da guerra é transformar nossa terra, nosso povo, nossas vidas, nossos recursos em um ataque à ordem internacional com base em regras", afirmou. "A Rússia está transformando em armas bens essenciais, como alimentos e energia, não só contra nosso país, mas contra todos vocês."

Zelensky conseguiu duas reuniões importantes à margem da Assembleia-Geral da ONU. Ele se encontrará hoje com Biden e Lula, separadamente. O encontro entre os presidentes de Brasil e Ucrânia deveria ter acontecido na cúpula do G-7, no Japão, em maio. Na ocasião, segundo Lula, Zelensky não apareceu.

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