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Prefeitos cassados no Ceará elegem aliados na maioria dos municípios
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Prefeitos cassados no Ceará elegem aliados na maioria dos municípios

| Disputa | Candidatos dos prefeitos cassados venceram em cinco dos sete municípios que tiveram eleições suplementares no Ceará desde 2020. Apesar de a Justiça Eleitoral identificar ilegalidades, eleitores nessas cidades reconduziram os grupos políticos ao poder
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Antonio Gois perdeu o mandato, mas emplacou o filho Matheus Gois em Pedra Branca (Foto: Reprodução/Facebook/Matheus Gois)
Foto: Reprodução/Facebook/Matheus Gois Antonio Gois perdeu o mandato, mas emplacou o filho Matheus Gois em Pedra Branca

Após as eleições municipais de 2020, o Ceará foi palco de sete eleições suplementares para escolher novos prefeitos em cidades que tiveram os gestores cassados por pendências com a Justiça Eleitoral (ver quadro). Em cinco destas cidades, candidatos eleitos eram apoiados pelos seus respectivos antecessores afastados pela Justiça.

Os locais onde novas eleições ocorreram são: Baixio, Barro, Jaguaruana, Martinópole, Missão Velha, Pedra Branca e Viçosa do Ceará. Somente em Barro e Jaguaruana os gestores eleitos na suplementar eram adversários de quem estava no Executivo até perderem os mandatos. Nos demais casos, candidatos do mesmo partido, grupo ou até da mesma família ficaram ao poder.

Em Viçosa do Ceará, foi eleito Franci Rocha, também do MDB, partido do prefeito cassado(Foto: DIVULGAÇÃO)
Foto: DIVULGAÇÃO Em Viçosa do Ceará, foi eleito Franci Rocha, também do MDB, partido do prefeito cassado

Em Baixio, o prefeito Raimundo Amaurílio (PDT), o Zico, foi eleito em pleito suplementar realizado em dezembro de 2022. Ele é do mesmo partido do então prefeito eleito em 2020, Zé Humberto, que foi cassado em abril daquele ano, e teve como vice-prefeito Donizete Cavalcante (PDT), que também era vice na chapa de Zé Humberto.

Martinópole e Pedra Branca são outros exemplos. No primeiro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) indeferiu o registro de candidatura do então prefeito James Bel (PP) e do vice Felipe Felix, eleitos em 2020. Em novo pleito, Betão do James Bel (PP), candidato apoiado pelo ex-prefeito, venceu.

Já em Pedra Branca, o prefeito eleito em 2021, Antônio Gois (PSD), foi considerado inelegível pelo TSE. Atualmente a cidade é gerida por Matheus Gois (PSD), filho de Antônio, vencedor da eleição suplementar em agosto de 2021. Matheus fez campanha colado ao pai.

O quadro demonstra que a nulidade das eleições não produziu, em certo grau, mudanças de decisões por parte dos eleitorados locais. Pelo contrário, as cidades optaram pela continuidade de grupos que já estavam no poder na maior parte dos casos. Especialistas ouvidos pela reportagem explicam que a dinâmica faz parte de um contexto recorrente em pleitos municipais, quando a proximidade define, em vários níveis, a opção do eleitorado.

Monalisa Torres, professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), elenca fatores que perpassam os cenários vistos no Ceará. Para ela, existem questões que podem variar entre a frágil articulação de grupos opositores até o sentimento de descontentamento de eleitores por terem suas escolhas invalidadas na Justiça.

“Ainda que seja um prefeito cassado, que tenha ocorrido irregularidade e leve à anulação das eleições. Às vezes quando se olha para o lado se vê uma oposição menos competitiva. Outro fator é que há um processo eleitoral intenso e, nessa ruptura e descontinuidade desse candidato eleito, quando a gente olha para o eleitor, ele se sente desrespeitado, em alguma medida, na sua escolha. Por essa intervenção da Justiça”, diz a professora.

E prossegue: “Falo isso porque lembro de casos de municípios em que vi o descontentamento da população em relação a essa interferência. Para o eleitor médio, falta acesso a algumas informações que façam com que ele qualifique melhor suas escolhas. Então, quando se tem essa descontinuidade, há uma certa sensação de desprestígio do eleitor (...) Então ele replica o lado ao qual ele tinha feito essa escolha anteriormente”.

Além disso, há questões de envolvimento pessoal intrínsecas às eleições municipais, com seu caráter cotidiano e de questões políticas mais próximas do eleitorado. “É uma eleição onde as pessoas se envolvem demais. Com candidato, com partido, com o símbolo que aquilo representa. Aí ele repete (o voto) como insistência de apontar sua escolha”.

Monalisa aponta que, nesse contexto local, a fidelidade dos eleitores é para com “uma pessoa, uma figura, uma persona política que representa um projeto, um grupo, uma ideia. O eleitor pensa: ‘Votei numa candidatura, ela foi impedida ou cassada, repito meu voto nele, no indicado dele ou na pessoa apadrinhada por aquele a quem eu devoto minha gratidão”.

O que (pouco) mudou politicamente com as eleições suplementares

Onde o prefeito cassado fez o sucessor

Baixio: Zico, prefeito eleito em eleição suplementar, é do mesmo partido do prefeito cassado, Zé Humberto, o PDT. Ele emplacou como vice Donizete Cavalcante, que já havia concorrido à mesma função na chapa do
antigo prefeito.

Martinópole: Betão do James Bel (PP), candidato apoiado pelo ex-prefeito cassado, venceu o pleito suplementar realizado
em 2021.

Missão Velha: Dr. Lorim (PDT), prefeito eleito em pleito suplementar em 2021, era vice da chapa do então prefeito eleito, Washington Luiz (MDB), que foi considerado inelegível naquele mesmo ano e convocou novas eleições.

Pedra Branca: Matheus Gois (PSD), eleito em pleito suplementar, é filho de Antônio Gois, que havia sido eleito em 2020 e posteriormente foi julgado inelegível após a Justiça considerar uma manobra do gestor que havia renunciado ao cargo um ano antes para evitar processo de cassação que seria aberto na
Câmara local.

Viçosa do Ceará: Franci Rocha (MDB), eleito em pleito suplementar, é do mesmo partido do prefeito cassado José Firmino (MDB). Durante a campanha, ele contou com apoio do antecessor, que foi cassado após a Justiça Eleitoral constatar irregularidades na sua atuação.

Onde venceu adversário do prefeito cassado

Barro: Dr. George (MDB) foi eleito prefeito de Barro na eleição suplementar em 2021. O então prefeito Dr. Marquinélio (PSD) e o seu vice-prefeito José Vanderval (PSD) foram cassados por abuso de poder econômico e fraude em contratações. George havia concorrido no primeiro pleito, mas foi derrotado por uma diferença de apenas 53 votos. Já na eleição suplementar, contra candidatura de Vanda (PSD), do mesmo partido do prefeito cassado, Dr. George conquistou a vitória por 1,5 mil votos de diferença.

Jaguaruana: Em 2021, a Justiça Eleitoral cassou a chapa do então prefeito e da vice eleitos Roberto da Viúva (PDT) e Flávia Façanha por irregularidades envolvendo a candidata a vice. O então vereador Elias do Sargento (PCdoB) assumiu interinamente. No pleito suplementar, Elias derrotou o próprio Roberto da Viúva e sagrou-se prefeito eleito.

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