Num movimento inversamente proporcional ao de Lula (PT), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem visto seu capital se fragilizar progressivamente, a ponto de já se discutir abertamente quem irá sucedê-lo no campo da direita.
Hoje inelegível, o militar da reserva, que planejava se manter influente para 2024 e 2026, está no centro de uma série de investigações da PF em torno de ao menos três frentes: fraudes nos cartões de vacina, ataques às urnas e sumiço das joias recebidas de presente.
A esse propósito, a delação premiada firmada por Mauro Cid, ex-braço direito de Bolsonaro, vem enterrando mais ainda o ex-mandatário, que se vê encurralado diante das revelações de que comandou reuniões no Planalto para discutir ações golpistas.
Professor de Ciência Política da Universidade de Pernambuco (UPE), Pedro Gustavo de Sousa avalia que “Bolsonaro segue perdendo espaço com a declaração de inelegibilidade”, que pode se reforçar após o resultado de julgamento de uma nova ação, também no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Para ele, resta saber agora se o ex-presidente “terá força para ao menos indicar um sucessor na direita”, ou seja, se terá condições de concentrar poder de decisão nos processos eleitorais que se aproximam.
A mais de dois anos das eleições presidenciais, dois nomes se sobressaem neste momento: Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, e Romeu Zema (Novo), à frente do governo de Minas Gerais.
Um terceiro cenário, contudo, pode se desenhar, com Michelle Bolsonaro aparecendo como herdeira legítima do espólio bolsonarista, tanto pela relação matrimonial, expressa no sobrenome que carrega, quanto pela experiência de primeira-dama, que teria condições de lhe dar vantagem nessa corrida interna. (Henrique Araújo)