Nem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nem o vice, Geraldo Alckmin (PSB), participarão da posse de Javier Milei na presidência da Argentina, no domingo, 10, segundo informou ontem a Secretaria de Comunicação da Presidência. O governo brasileiro será representado pelo seu ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Enquanto isso, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou presença e irá a Buenos Aires com uma comitiva digna de chefe de Estado.
O evento confirma a "exportação" do cenário polarizado da política brasileira. Enquanto Bolsonaro apoiou o autodeclarado "anarcocapitalista" Milei desde o primeiro turno, Lula apoiou o peronista Sérgio Massa, ministro da Economia do presidente Alberto Fernández.
O convite ao petista foi feito no último dia 26 de novembro, quando a futura chanceler Diana Mondino, designada por Milei, se reuniu em Brasília com Mauro Vieira. O convite ao presidente foi realizado por meio de uma carta assinada por Milei, na qual ele diz desejar que seu tempo em comum com o petista no poder "seja uma etapa de trabalho frutífero e construção de laços" entre os dois países.
A mensagem sinalizou uma mudança de tom após críticas duras de Milei a Lula durante a campanha presidencial. O argentino já chamou o petista de "corrupto" e "comunista". Questionado em entrevista ainda enquanto candidato, respondeu que não se encontraria com o petista caso fosse eleito.
Bolsonaro viajará com os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), do Rio, Cláudio Castro (PL), de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil) e de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL). O ex-presidente também será acompanhado pela ex-primeira-dama Michelle e por dois dos filhos, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Do Congresso Nacional, devem ir o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) e o senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministros da gestão passada; além dos senadores Jorge Seif (PL-SC), Magno Malta (PL-ES), Luiz Carlos Heinze (PP-RS), Marcio Bittar (União Brasil-AC), Jaime Bagattoli (PL-RO) e Wilder Moraes (PL-GO).
Uma lista de deputados federais que pretendem comparecer ao ato circula entre líderes partidários próximos a Bolsonaro. Até o momento, 26 nomes, incluindo Salles, sinalizaram participação na comitiva. Um grupo de deputados estaduais de São Paulo também formou uma comissão de representação para acompanhar a posse, em viagem que não será custeada pela Assembleia Legislativa.
Bolsonaro informou ontem ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que se ausentará do País de 7 a 11 de dezembro. Apesar de não ter restrições de sair do Brasil, o ex-presidente encaminhou cópia das passagens aéreas e do itinerário no país vizinho, justificando estar "comprometido com a Justiça e suas obrigações legais".
Não é a primeira vez que um presidente brasileiro deixa de ir à posse de um líder argentino. Bolsonaro não foi à posse de Alberto Fernández e enviou seu vice, Hamilton Mourão. Em seus dois primeiros mandatos, Lula participou das posses de Néstor Kirchner, em 2003, e Cristina Kirchner, em 2007.
Fernando Henrique Cardoso (PSDB) também faltou a cerimônias de posse em duas ocasiões, quando os presidentes argentinos foram eleitos pelo Congresso. Uma em 2001, na eleição de Adolfo Rodríguez Saá, e outra no ano seguinte, em 2002, quando Eduardo Duhalde foi eleito.