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Quem mostrou mais força no governo Lula em 2023
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Quem mostrou mais força no governo Lula em 2023

No primeiro ano de terceiro mandato, Dino foi o grande protagonista, mas Haddad foi mais efetivo ao emplacar uma agenda com o presidente Lula
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Quem se mostrou mais forte no governo Lula em 2023, Flávio Dino ou Fernando Haddad? A pergunta divide especialistas, em parte porque divergem quanto ao nome de peso nesse intervalo, em parte porque a questão embute uma espécie de pegadinha.

Afinal, como definir força na gestão do petista? Se for tomada como protagonismo e holofote, apontam cientistas políticos, Dino leva a melhor. Desde o 8 de janeiro, quando hordas de bolsonaristas atacaram as sedes dos Três Poderes, o ainda ministro da Justiça e futuro magistrado do Supremo não saiu da frente das câmeras.

Não apenas isso. Nesse período, o ex-governador do Maranhão foi o integrante da Esplanada que mais vezes esteve na linha de frente contra opositores do Planalto em audiências na Câmara e no Senado, durante as quais se notabilizou por respostas debochadas diante de provocações de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Se se expôs como nenhum outro ministro, Dino, no entanto, deixou um flanco aberto aos ataques: o trabalho à frente do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Desde que assumiu a pasta, estouraram crises na Bahia e no Rio de Janeiro, onde os índices de homicídios cresceram exponencialmente na esteira de investidas do banditismo local e nacional.

Sobretudo no estado nordestino, governado pelo PT já há bastante tempo, o quadro de crise aguda nesse âmbito acabou por fragilizar a posição de Dino, cuja permanência no posto começou a ser questionada dentro e fora do bloco aliado, incluindo-se o PT, de olho na cadeira que ficaria livre.

Nem mesmo a instituição da operação de Garantia da Lei e da Ordem, medida determinada por Dino, atenuou a impressão de que o governo federal patinava nesse quadrante, sem propostas de peso nem discurso.

A gota d’água dessa agenda negativa foi a visita de uma mulher, apelidada de “dama do tráfico”, às dependências do ministério. Lá, reuniu-se com secretários do MJSP, que depois negariam ter conhecimento de que ela fosse casada com um líder de organização criminosa.

De passagem pelo Ceará à época, Dino rebateu as acusações, tratando-as como manobras políticas de uma oposição incomodada com o combate às facções. O estrago, porém, estava feito.

Tanto porque havia dúvidas sobre seu desempenho como ministro quanto porque Dino sempre figurou como alternativa a Lula em 2026, a solução encontrada pelo Planalto foi indicá-lo para a vaga aberta no STF com a aposentadoria da ministra Rosa Weber.

Aprovado pelo Congresso na última semana, o novo membro do Supremo fecha o ano como um personagem crucial nos enfrentamentos que Lula precisou fazer num ambiente ainda muito polarizado, assegura o cientista político e professor Rodrigo Prando (Faculdade Mackenzie).

“Se a gente for pensar em força e protagonismo, nem sempre as duas coisas andam juntas. Dino certamente foi protagonista desde o dia 8/1. Isso deu a ele destaque enorme, o que significa que ele se tornou alvo preferencial das fake news e teorias da conspiração que eles criaram”, aponta o especialista.

De acordo com Prando, foi Dino quem, dentro da esfera palaciana, “entendeu melhor a lógica discursiva bolsonarista e devolveu na mesma moeda, de certa maneira usando as mesmas táticas dos bolsonaristas, com a diferença de que não lançou mão de fake news”.

Como chefe de ministério, todavia, acabou sendo pouco efetivo. Nesse sentido, cumpriu papel diferente do de Haddad, que esteve menos tempo na frente das câmeras, mas se revelou mais hábil na aprovação de suas demandas, emplacando uma agenda acolhida por Lula, ainda que sob pressão do PT e de segmentos que estão na base de apoio do presidente da República para os quais esse programa de contenção de gastos não interessa.

“Em termos de efetividade”, avalia Prando, “Haddad parte para um ministério diferente daquele em que teve aprendizado político (MEC, ainda nos anos de Lula e Dilma). Começa com desconfiança do mercado e dos atores políticos e vai aos poucos vencendo esse desgaste inicial e a desconfiança”.

Como trunfos, ao final de 2023, o ministro petista pode, contudo, apresentar um cardápio variado e interessante de vitórias, conforme o professor, dentro do qual o destaque é certamente a reforma tributária.

“Isso só foi possível a partir da liderança dele no ministério, negociando com Pacheco e Lira (presidentes do Senado e da Câmara). É uma reforma que não é a ideal, mas é a possível. Haddad é a surpresa positiva, então”, conclui.

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