Em ano pré-eleitoral, o prefeito José Sarto (PDT) fez o maior Réveillon de Fortaleza, com três dias de festa que se sucederam sem registro de ocorrências mais graves, salvo o escambo informal de entradas para a área de patrocinadores.
Ao lado de um dos portões que davam acesso ao palco, cambistas vendiam “ingressos” por valores entre R$ 100 e R$ 250, que eram disputados por interessados numa visão privilegiada do espetáculo.
O problema é que a festa era pública, e os tíquetes comercializados eram os passes dentro da cota liberada para apoiadores e patrocinadores do evento.
Fora a irregularidade, de resto negligenciada pelas autoridades, a programação foi aparentemente um sucesso, consagrando o modelo de festival de música, que deve ser mantido seja por quem se eleja ao final da disputa eleitoral deste ano.
Embora não esconda problemas da orla fortalezense, e eles não são poucos (da péssima balneabilidade às intervenções desastradas que afundaram a praia no processo de aterramento), o Réveillon sempre foi item importante no cardápio de qualquer postulante à Prefeitura na Capital.
Foi assim com Luizianne Lins (PT), por exemplo, quando praticamente revitalizou o ritual de passagem de ano, que se perdera nos anos de Juraci Magalhães. E também com Cid Gomes (de saída do PDT), quando tomou para si a responsabilidade de garantir a folia quando Elmano de Freitas, então candidato em 2012 pelas mãos de Luizianne, foi derrotado, e a prefeita sinalizou que não faria o festejo de 31 de dezembro.
Pré-candidato à reeleição, Sarto não vai fazer diferente, evidentemente. Mas qual o peso político de uma festa para um gestor que tenta emplacar novo mandato?
Não determinante, imagina-se, mas muito importante na definição da capacidade de se mostrar conectado com a cidade, que inclui habitantes, setores da sociedade civil e segmentos econômicos para os quais o momento já se inscreve como marco no calendário nacional.
Os desafios de Sarto para 2024 são muitos, dentre os quais superar a má impressão que a primeira metade de seu governo deixou e que, mesmo agora, parece nódoa difícil de apagar. Sobre isso, a comunicação ajuda, é certo, mas não faz milagre.
Politicamente, o prefeito deve enfrentar uma máquina poderosíssima do outro lado, turbinada pelos governos estadual e federal e tendo um presidente de Legislativo, Evandro Leitão (PT), como terceiro elemento de força. É uma parada dura.
Sarto chega ao ano de corrida eleitoral mais isolado do que quando deu início à gestão. Desde 2021, etapa inaugural da administração, o pedetista perdeu apoios vitais, entre os quais PSD e PSB, além de Camilo Santana (PT), hoje ministro e peça chave no pleito de 2020, com quem rompeu na esteira do racha de 2022.
Tudo isso só foi possível por causa de dois fatores: a crise de autoridade que se instalou, com o apagão do começo de governo, e o protagonismo de Camilo, agora jogando no time adversário.
Pelo cenário posto, a tarefa é difícil, mas reza o clichê político: não há eleição fácil, sobretudo em Fortaleza.