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O dia em que Quixeramobim proclamou a república
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O dia em que Quixeramobim proclamou a república

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O município de Quixeramobim, a 204 quilômetros de Fortaleza, foi precursos da Confederação do Equador. No dia 9 de janeiro de 1824, data que completou 200 anos nessa terça-feira, a república foi proclamada pela Câmara da vila então chamada de Campo Maior. O episódio ocorreu seis meses antes de o movimento republicano eclodir no Recife.

Era uma reação à dissolução da Assembleia Constituinte pelo imperador dom Pedro I. A Câmara de Campo Maior declarou destituído o imperador Pedro I e a dinastia de Bragança e decidiu instaurar no Brasil uma "República estável e liberal".

"Acordaram que em vista à horrorosa perfídia de D. Pedro I, imperador do Brasil, banindo a força armada nas cortes convocadas no Rio de Janeiro contra mil protestos firmados pela sua própria mão, ele deixava a sua dinastia de ser o supremo chefe da nação e se novas cortes convocadas em lugar tudo assim o aprovarem. Que presentemente vão regulando o povo as leis antigas por falta de códice legítimo firmado pela pluralidade dos deputados da nação em novas cortes", diz a ata da sessão.

O movimento foi liderado pelo padre Gonçalo Inácio de Loiola Albuquerque e Mello, atural de Riacho dos Guimarães, atual Groaíras, que passaria a adotar a alcunha Padre Mororó.

O comando das armas deveria ser entregue a José Pereira Filgueiras, que retornbara havia pouco, do Maranhão, ao lado de Tristão Gonçalves, futuramente presidente do Ceará confederado.

Figura central na movimentação em Quixeramobim e pelo Ceará era o padre Gonçalo Inácio de Loiola Albuquerque Melo, posteriormente Mororó. Tido desde cedo como um jovem curioso e "cheio de ideias", há textos que apontam que ele chegou a estudar no mesmo seminário que outro nome famoso revolucionário: Frei Caneca.

O pernambucano Frei Caneca já havia sido personagem na Revolução Pernambucana de 1817, como voluntário das tropas revoltosas contra o exército real da Bahia. Permaneceu preso na cadeia de Salvador até 1821, quando foi solto em virtude da Revolução do Porto. Até mesmo o período na cadeia teria sido usado para afiar suas palavras contra a família real em favor das ideias republicanas.

Assim que saiu da prisão, voltou ao cenário político. Foi fundador e editor do jornal Typhis Pernambucano, onde fez severas críticas ao governo de dom Pedro. É considerado um dos líderes maiores da Confederação do Equador.

Se em 1817 Padre Mororó não comprou as ideias do colega de batina, em 1824, a história aponta em outra direção. Cumpriu a profecia que escutou do fundador Azeredo Coutinho, que o conhecera de perto ao requisitá-lo como bom copista: "Este moço há de perder-se na primeira revolução que houver no Brasil!".

Nos moldes do colega, Mororó fundou o Diário do Governo do Ceará para falar dos ideiais revolucionários. Parecidos na vida, os dois encontraram a morte da mesma forma com tiros de fuzis quando a revolução foi findada pelas forças do imperador.

A república proclamada em Quixeramobim, como se sabe, não vingou. Em 25 de março, dom Pedro I outorgou a primeira Constituição brasileira, escrita conforme a vontade dele. Era um texto centralizador e que tirava poderes das províncias. Vigirou até o fim do império e foi a mais duradoura Constitui.ção brasileira até hoje.

Demorariam 65 anos até a república ser proclamada de fato no Brasil, em 15 de novembro de 1889, pelo marechal Deodoro da Fonseca, que viria a ser o primeiro presidente.

Isso não significa que a proclamação em Campo Maior/Quixermobim foram palavras ao vento, fanfarronice sem consequência. Foi um dos primeiros atos de uma reação em cadeia que iria desembocar na Confederação do Equador, em julho de 1824.

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