O Psol apoia os governos do PT tanto em nível federal quanto no Ceará, mas discute lançar candidatura própria à Prefeitura de Fortaleza nas próximas eleições. Pré-candidata pelo partido, a professora de Ciências Maya Eliz justificou ao O POVO que, em 2022, a legenda votou no PT em nível estadual e federal, o que não representa adesão acrítica e incondicional.
Como exemplo disso, cita as críticas da legenda em relação aos grandes projetos de infraestrutura do governo liderado por Elmano de Freitas (PT), como de urânio e mineração. Mulher trans e militante de um coletivo chamado "Rua, juventude anticapitalista", Maya é apoiada pelo deputado estadual Renato Roseno (Psol), candidato da legenda na eleição passada em Fortaleza.
"Fomos explicitamente críticos à política de segurança pública e prisional. Entendemos que o combate ao fascismo nos une e que a reconstrução democrática é tarefa complexa e longa, mas mantemos nosso programa. Entendemos que a saída da crise será pelo fortalecimento da capacidade crítica e de mobilização social. Manteremos respeito às candidaturas do nosso campo", afirmou Maya ao ser questionada sobre como poderá ser a postura do Psol, considerada a posição governista na Assembleia Legislativa do Ceará.
"Nós queremos recolocar o Psol no debate sobre a cidade, pautando as demandas, que não são poucas, da população fortalezense, em defesa das pessoas que mais precisam", ela complementou.
"O povo fortalezense precisa poder realizar seus sonhos: ter trabalho e renda; moradia digna em nossas comunidades; ver ampliado o investimento na cultura e o circuito cultural na cidade; tornar a Guarda Municipal humanizada e a segurança pública preventiva; derrotar os empresários de ônibus e garantir que nosso transporte público seja de qualidade e pra todo mundo; ter políticas que contribuam com a transição energética; melhorar nossos postos de saúde para que Fortaleza tenha direito à vida; apostar na educação e nas escolas para transformar nossa cidade", escreveu Eliz.
Ela destacou que pode ser a única mulher a disputar a Prefeitura de Fortaleza. A cidade tem outras duas pré-candidaturas femininas, também no campo da esquerda: a das petistas Larissa Gaspar e Luizianne Lins. O PL teve Priscila Costa mencionada como pré-candidata, esta do campo conservador, mas a legenda de Jair Bolsonaro decidiu-se pelo deputado federal André Fernandes.
"Maya pode ser a primeira travesti disputando a prefeitura da capital, um ato de ousadia diante de um dos estados mais violentos contra a população LGBTQIAPN no Brasil. Certamente, será também das mais jovens vozes a se apresentar no Brasil", ela publicou no Instagram.
As chances de a candidatura de Maya prosperar ainda dependem de uma variável interna: a maioria do Psol, atualmente, é composta pelo grupo da secretária de Juventude do Ceará, Adelita Monteiro. O grupo também fala em candidatura própria e cogita lançar a candidatura de Tecio Nunes, presidente da federação Psol/Rede no Ceará.
Tecio, marido de Adelita, frisa que ainda não é pré-candidato, mas que a missão lhe seria honrosa. "Quem vê é vive a periferia sabe que a realidade é muito diferente e acho sinceramente que só o Psol tem condições de apresentar ideias e soluções para, de fato, termos uma Fortaleza que vire seu olhar aos mais pobres e resolver a situação desses bairros de Fortaleza que amarguram vários problemas que essa gestão Sarto só aprofundou", afirmou ao O POVO.
Em 2022, o Psol chegou a encaminhar a candidatura de Adelita a governadora, mas acabou de última hora decidindo apoiar o hoje governador Elmano de Freitas (PT). Adelita concorreu a deputada federal. Foi a segunda mais votada do partido, atrás do vereador Gabriel Aguiar, mas a sigla não elegeu nenhum parlamentar para a Câmara.