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Falas interrompidas e posições ignoradas
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Falas interrompidas e posições ignoradas

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Pesquisadora e estudante de pós-graduação da Uece, Kerolaine Oliveira
 (Foto: Arquivo Pessoal/Kerolaine Oliveira)
Foto: Arquivo Pessoal/Kerolaine Oliveira Pesquisadora e estudante de pós-graduação da Uece, Kerolaine Oliveira

Gostar de política não foi algo que nasceu com a estudante de pós-graduação em Sociologia na Universidade Estadual do Ceará (PPGS-Uece), Kerolaine de Castro Oliveira, 26. Ela já tinha certa inclinação para o tema, mas foi na faculdade quando ela teve um encontro com a ciência política. O desafio para esse contato até tardio ela conta ser a dificuldade de as mulheres acessarem os espaços da ciência, ainda mais na interseção entre os temas.

"Enfrentamos no Brasil um desafio das mulheres na ciência, e na ciência política não seria diferente, então esse encontro ficou ali como uma dádiva, ouvir uma mulher se debruçando sobre assuntos tão complexos me inspirou a almejar aquilo que parecia ainda tão distante", ressaltou.

Ela considera que, quando começou a comentar sobre o tema, era mais "corajosa", mas ficou mais cautelosa ao passo que passou a notar que os espaços da política são majoritariamente masculinos. E os impactos sentidos foram vários. "Nós mulheres comumente vamos ser interrompidas, e quando não contemplamos todo um tema, você tem sua fala ignorada. Já estive em debates com colegas que repetiram a minha mesma fala, mas que foram apreciados e a minha fala ignorada", detalhou um dos episódios que passou.

E nem saber do assunto é o suficiente para ser respeitada, é preciso provar que sabe e seguir tendo de comprovar. Ela conta ainda outro caso em que foi "testada" por alguém que até concordava com ela. "Uma vez comentando com um colega sobre a democracia americana, ele me questionou sobre o meu ponto de vista apenas para concordar e depois dizer que fez aquilo para ver se eu entendia mesmo sobre o assunto. Estamos todos os dias sendo testadas", disse.

A percepção é de que as redes sociais, mesmo ampliando os discursos, dando mais notoriedade a temas e criando espaços para debates, não protegem as mulheres de serem alvo de ataques por se expressarem. "Você pode ser vítima de situações semelhantes ou até piores. Nos últimos dias vi que uma militante de um partido político foi ameaçada e teve suas redes sociais alvo de comentários misóginos e agressivos. Este caso não é particular e se você procurar você verá muitos mais casos como esse", avaliou.

"Assim, penso que nenhum espaço vai ser tão receptivo para mulher como será para um homem", complementa ela. Ela diz sempre buscar conduzir o tema no seu círculo de amigos e mais ainda colocar questões que afetaram diretamente as mulheres no centro da roda. "Temas que deveriam estar no centro dos nossos debates,pois considero importante e necessário discutir sobre temas que são caros a nós, mas não só. Não nos limitarmos enquanto potência feminina, ocupar espaços e debates que historicamente são ditos como "masculinos" é o desafio do nosso tempo, e é um desafio para nós mulheres", disse.

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