Para a professora universitária Cláudia Costa, 38, as redes sociais inauguram um novo espaço em que ideais e debates correm mais rápido e distantes, mas não livres. As plataformas ampliam os comentários e criam um ambiente representativo, ou seja, mais mulheres comentando impulsiona e torna "confortável" que outras mulheres se sintam convidadas a falarem também. Assim como no meio físico, são as respostas reativas, seja de questionamentos ou xingamentos que reforçam o ambiente da ultrapassada tese que "política não é para mulher".
"Não digo livre pois sempre que nós, mulheres, abordamos assuntos que tocam nas feridas do patriarcado somos "canceladas" e deslegitimadas em nossas lutas e pensamentos. Eu não diria que falar por meio das redes sociais torna nossas falas mais receptivas, mas elas reverberam em lugares mais distantes e há a oportunidade de dialogar com quem, outrora, não teria acesso a discussões pautadas por mulheres", ressalta Cláudia. Ela, que é também pesquisadora, comanda ainda o poscast "Elas Pesquisam", que discute ciencia e entretenimento com a razao e bom humor.
Ela relembra a trajetória sempre muito interessada por política, desde a época da adolescência quando participava de pastorais sociais da Igreja Católica. O passo seguinte foi o movimento estudantil. Quando entrou na faculdade, o tema virou um velho conhecido, transversal de suas pesquisas e produções acadêmicas.
"Mas, na internet, já aconteceu de não só ser questionada como ser atacada/ridicularizada por fazer uma postagem com comentário técnicos acerca de uma determinada política pública executada pelo governo passado e sua má gestão e ineficácia, chegando ao ponto de ter de excluir a pessoa (homem) e fechar meu perfil para não prolongar a chateação", conta um dos episódios que passou.
Apesar das dificuldades, ela reforçar a importância de, não só incentivar outras mulheres, mas permanecer no ambiente e seguir comentando. A professora usa especialmente o X (antigo Twitter) para fazer análises e contar sobre seu dia a dia. "Em um mundo que ainda é estruturado a partir das dinâmicas de poder do patriarcado, colocar nossos pensamentos nos espaços públicos (e as redes sociais são lidas como tal) é nos colocar em posição de disputa, mas não necessariamente em ambiente receptivo, para ser amplamente receptivo por todes ainda temos muita luta pela frente", disse.