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Chavismo chega aos 25 anos no poder na Venezuela com continuidade em risco
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Chavismo chega aos 25 anos no poder na Venezuela com continuidade em risco

O País está mergulhado em uma depressão econômica sem precedentes e contínuas crises políticas que levaram a sete milhões a emigrar
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NICOLÁS Maduro fala à Assembleia Constituinte diante de um retrato de Hugo Chávez (Foto: Federico PARRA/AFP)
Foto: Federico PARRA/AFP NICOLÁS Maduro fala à Assembleia Constituinte diante de um retrato de Hugo Chávez

"Agora e para sempre", diz uma inscrição no mausoléu de Hugo Chávez, que em fevereiro de 1999, há 25 anos, prestou juramento pela primeira vez como presidente da Venezuela e iniciou uma era que continuou após sua morte, com Nicolás Maduro. "Uma tragédia" para uns, "uma conquista", para outros.

O carismático ex-militar conquistou multidões com a promessa de acabar com a pobreza. Hoje, no entanto, o país está mergulhado em uma depressão econômica sem precedentes e contínuas crises políticas que levaram a sete milhões de pessoas — de uma população de 30 milhões — a emigrar.

Neste panorama, Maduro busca um terceiro mandato, colocando obstáculos a qualquer um que ameace a continuidade da chamada Revolução Bolivariana.

Economia e petróleo

Maduro repete constantemente que enfrenta uma "guerra não convencional" contra o "imperialismo" - como chama os Estados Unidos -, e atribui os problemas do país às sanções com as quais Washington tentou tirá-lo do poder em 2019.

Em 2022, uma breve recuperação econômica foi insignificante diante da redução de 80% do PIB em uma década. A hiperinflação de milhares de pontos percentuais levou, ironicamente, a uma dolarização informal.

A indústria petroleira, que gera praticamente toda a renda do país, está devastada: abandono, corrupção e falta de profissionais qualificados (muitos demitidos após uma greve em 2002), indicam especialistas. A produção de três milhões de barris por dia com Chávez caiu para 300 mil antes de subir para 900 mil atualmente.

"O chavismo representou uma grande tragédia para o país", disse Benigno Alarcón, cientista político e professor da Universidade Católica Andrés Bello (Ucab).

"Um governo que, inicialmente obteve as maiores receitas que qualquer outro na Venezuela e teve a oportunidade de fazer da Venezuela um país moderno (...), desperdiçou o dinheiro com clientelismo para manter-se no poder".

"Não houve investimentos (...), não houve melhora na economia, na infraestrutura, na capacidade produtiva do país", afirmou, destacando que "mataram a galinha dos ovos de ouro", a Petróleos de Venezuela (PDVSA), que foi uma das mais importantes do mundo.

Pobreza

Não há números oficiais sobre a pobreza e poucas informações sobre indicadores econômicos. Um estudo da Ucab estima em 90% entre 2018 e 2021, e 81,5% em 2022 os índices de pobreza.

"É uma das mais altas do mundo", destaca Alarcón. "A lógica para manter o poder, independentemente de Chávez ou de Maduro, é a mesma (...): a miséria do povo".

Rodrigo Cabezas, que foi ministro das Finanças de Chávez, faz uma distinção entre "chavismo" e "madurismo". "O confronto com os Estados Unidos é a grande cartada do madurismo para tentar justificar sua tremenda incompetência na gestão do Estado, da economia, da sociedade, para tentar justificar sua condução terrivelmente autoritária, violadora de direitos humanos", explica à AFP o agora professor da Universidade de Zulia.

"Ninguém pode dizer que a economia venezuelana foi destruída com Chávez", insiste, citando crescimento, aumento do salário mínimo (hoje em 3,5 dólares mensais ou cerca de R$ 17,3 na cotação atual) e redução da pobreza nesses anos. "O foco era o povo".

Política

Para Ana Sofía Cabezas, vice-presidente da Fundação Chávez, a Constituição foi "uma das coisas mais importantes deixadas pelo comandante Chávez". Aprovada em 1999 e impulsionada pelo ex-presidente, é um exemplo em direitos humanos e sociais, embora seus críticos apontem grandes violações.

Cabezas recorda que ele venceu com folga todas as eleições que disputou: 1998, 2000, 2006 e 2012, meses antes de morrer. Chávez tomou posse em 2 de fevereiro de 1999 e mudou a Constituição para reeleger-se indefinidamente, beneficiando Maduro, reeleito em 2018 e buscando um terceiro mandato este ano.

Alarcón destaca que as "violações de direitos humanos começaram com Chávez", embora o governo de Maduro esteja sendo investigado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) pela repressão dos protestos em 2017, com mais de 100 mortos, entre outras denúncias de execuções, torturas e detenções arbitrárias.

O rosto de Chávez está por todas partes, 11 anos após sua morte. "Chávez vive", disse entusiasmada Cabezas (que não tem parentesco com o ex-ministro). "Isso se traduz no despertar das forças populares, da consciência do povo venezuelano", finaliza.

Parlamento da Venezuela elabora proposta de data para eleições presidenciais

O Parlamento venezuelano, controlado pelo chavismo no poder, iniciou, na última segunda-feira, 5, um processo de consulta entre dirigentes políticos e a sociedade civil para elaborar uma proposta de cronograma para as eleições presidenciais, que será entregue à autoridade competente para convocar o pleito. Em outubro, governo e oposição assinaram um acordo para que as eleições sejam realizadas no segundo semestre do ano com observação da União Europeia.

Este processo de consulta — que não tem prazo — foi convocado depois de os Estados Unidos decidirem restabelecer sanções ao petróleo e gás da Venezuela, que tinham sido suspensas após o acordo sobre as eleições assinado em Barbados com mediação da Noruega.

"Seria ideal que se formasse uma comissão de trabalho em um período de 48 a 72 horas possa voltar a encontrar os efeitos de emitir, se for possível, uma proposta por consenso de calendário eleitoral presidencial", indicou Jorge Rodríguez, presidente da Assembleia Nacional e chefe da delegação do governo nas negociações com a oposição.

As eleições na Venezuela são convocadas pela autoridade eleitoral, acusada pela oposição de servir ao chavismo. Para Rodríguez, "é extremamente sadio e fortalece o processo democrático da Venezuela que partidos políticos, que as pré-candidatas e pré-candidatos possam marcar posição, possam emitir opinião".

"E na última instância possamos, entre todas e entre todos, construir um cronograma, um calendário eleitoral que sirva de sugestão ao Conselho Nacional Eleitoral", acrescentou o chefe parlamentar, que presidiu o CNE entre 2005 e 2006.

A liberal María Corina Machado, que arrasou na votação interna da oposição para ser candidata nas eleições deste ano, descartou participar desta consulta, que ela tachou de "manobra" para "uma via eleitoral fraudulenta". "Alerto sobre essa manipulação grosseira que reafirma a violação ao Acordo de Barbados", disse Machado no X, antigo Twitter.

A Casa Branca, em apoio a Machado, tomou a decisão de renovar sanções financeiras contra a Venezuela em resposta à decisão da Suprema Corte, também de viés governista, de manter a inabilitação política da líder oposicionista por 15 anos.

Eleições o quanto antes?

Especialistas concordam em que o chavismo quer realizar eleições o quanto antes, aproveitando a situação de inelegibilidade de Machado. O presidente Nicolás Maduro, por sua vez, aparece como candidato natural à reeleição. Forças dissidentes da oposição, tachadas de colaboracionistas, falam de eleições entre maio e setembro, enquanto o governismo sugeriu "estar pronto" mesmo se convocarem entre março e maio.

"Estou certo de que o dia que convocarem, no mês de março, no mês de abril, no mês de maio, no mês de julho, não vamos parar de trabalhar, vamos seguir trabalhando (...), quando o Conselho Nacional Eleitoral convocar, estaremos preparados", afirmou Maduro no último domingo.

"Digo modestamente, do meu coração e com toda a força e o poder que posso dar ao povo, (em) 2024, faça chuva, faça sol, haverá eleições presidenciais como manda a Constituição", destacou o mandatário na segunda, durante programa semanal de televisão.

A Ação Democrática, cujo controle foi entregue pela Justiça a uma diretoria alternativa, propôs, por exemplo, o dia da independência da Venezuela, em 5 de julho. "Quando o império norte-americano e outros mais querem enfiar suas mãos no destino e nas decisões da Venezuela, façamos uma homenagem à nossa independência, vamos dizer aos Estados Unidos e ao mundo inteiro que nós somos independentes", disse à AFP o secretário-geral de fato do partido, Bernabé Gutiérrez.

José Brito, deputado oposicionista e pré-candidato às presidenciais, acusado por certos setores de apoiar o governo, propôs que as eleições sejam marcadas em 28 de julho.

"Há uma necessidade de que façamos uma convocação agora (...) De tal maneira que a data definitiva não passe de 28 de julho à primeira semana de agosto", disse Brito a jornalistas antes da sessão parlamentar desta segunda.

Rodríguez disse que o presidente eleito em 2024 tomará posse em 10 de janeiro de 2025.

 

Blindados chegam a Roraima e reforçam fronteira com Venezuela e Guiana
Blindados chegam a Roraima e reforçam fronteira com Venezuela e Guiana

Brasil envia blindados a Roraima para reforçar fronteira com Venezuela e Guiana

O Exército brasileiro completou o envio de 28 blindados para Roraima com objetivo de reforçar a segurança na fronteira com Venezuela e Guiana após o aumento da tensão entre os dois países devido à disputa pela região de Essequibo.

A transferência de blindados para o norte do país faz parte da Operação Roraima, que tem mandado equipamentos militares para a região amazônica. Segundo o Exército, o projeto prevê o aumento em 10% o efetivo de tropas no Comando Militar do Norte e no Comando Militar da Amazônia.

"A chegada dos blindados é resultado do planejamento do Exército Brasileiro voltado para reforçar e priorizar a Amazônia", afirmou, em nota, o Centro de Comunicação Social do Exército.

A estrutura da unidade militar de Roraima tem sido ampliada de esquadrão para regimento. "Após a transformação completa da unidade, prevista para 2025, o Regimento passará a ter três esquadrões e um efetivo de cerca de 600 militares", informou o Exército.

Esses equipamentos saíram de Campo Grande (MS), em 17 de janeiro, e chegaram a Manaus na semana passada, após percorrerem mais de 3,5 mil quilômetros. Em seguida, foram deslocados até Roraima.

O comboio que chegou à Boa Vista (RR) foi composto por 14 Viaturas Blindadas Multitarefa (VBMT) 4x4 Guaicurus, todas equipadas com sistemas de armas remotamente controlados, meios optrônicos de visão termal e módulos de comando e controle, além de oito Viaturas Blindadas de Transporte de Pessoal Médio sobre Rodas (VBTP-MR) Guarani, seis Viaturas Blindadas de Reconhecimento Média Sobre Rodas (VBR-MSR) EE-9 Cascavel, e outras viaturas administrativas.

Disputa territorial

O deslocamento de tropas e equipamentos militares para Roraima teve início após a escalada de tensões entre Venezuela e Guiana causada pela disputa pelo território de Essequibo. Alvo de uma controvérsia que remonta ao século XIX, esse território voltou a ser reclamado pelo governo da Venezuela no ano passado. Em dezembro, os eleitores venezuelanos aprovaram, em referendo, a incorporação de Essequibo, que soma 75% da atual Guiana.

O território de 160 mil km² com uma população de 120 mil pessoas é alvo de disputa pelo menos desde 1899, quando esse espaço foi entregue à Grã-Bretanha, que controlava a Guiana na época. A Venezuela, no entanto, não reconhece essa decisão e sempre considerou a região "em disputa". 

Em 1966, as Nações Unidas intermediaram o Acordo de Genebra - logo após a independência da Guiana -, segundo o qual a região ainda está "por negociar". Existem estimativas que a região dispõe de bilhões de barris de petróleo.

Em 15 de dezembro de 2023, os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e da Guiana, Irfaan Ali, se comprometeram a não usar a força um contra o outro para resolver a controvérsia. O Brasil ajudou a mediar o encontro e uma nova reunião entre os dois presidentes deve ocorrer até março deste ano para continuar as negociações. (Agência Brasil)

 

Guardas de honra em uniformes cerimoniais ficam ao lado do mausoléu de Hugo Chávez em Caracas, Venezuela
Guardas de honra em uniformes cerimoniais ficam ao lado do mausoléu de Hugo Chávez em Caracas, Venezuela

"Chávez vive" no mausoléu erguido em seu quartel na Venezuela

"Chávez vive, carajo! La patria sigue!", grita um soldado todos os dias, exatamente às 16h25min, no Cuartel de la Montaña, em Caracas, antes de uma salva de canhão em memória da morte de Hugo Chávez, em 5 de março de 2013, nesse mesmo horário.

A expressão "carajo" (que em espanhol não tem o mesmo peso de "caralho" em português) dá um toque popular a essa cerimônia marcial, com os soldados marchando com as pernas esticadas, ou a leitura, muito lentamente, de um pequeno texto em homenagem ao pai da "Revolução Bolivariana", que governa o país há 25 anos: primeiro, com Chávez, e agora, com Nicolás Maduro.

Chávez morreu de câncer pouco depois de conquistar sua terceira reeleição. Seus restos mortais repousam nesse quartel, transformado em um símbolo do culto à personalidade que envolve o ex-líder socialista, muito questionado por seus adversários. Ali, a palavra "morte" parece proibida: guias, soldados e funcionários da Fundação Chávez preferem "partida", "passagem para outro plano", "fim terreno", ou "semeadura".

O Cuartel de la Montaña está localizado em uma colina no coração da comunidade 23 de Enero, um reduto do chavismo, de onde se avista o Palácio presidencial de Miraflores. É como se o comandante Chávez continuasse vigiando o país de seu Olimpo.

A vida de Chávez

Construído em 1910, o quartel é pintado principalmente de vermelho, representativo do socialismo e também do chavismo, e hoje é coroado com um 4F da mesma cor. Trata-se de uma referência a 4 de fevereiro de 1992, quando Chávez liderou uma tentativa de golpe contra o então presidente Carlos Andrés Pérez.

Foi ali, no então Museu Histórico Militar, que se rendeu e, em um discurso transmitido ao vivo, proferiu um "por enquanto" que o catapultou para a fama política e o levou a vencer as eleições de dezembro de 1998. Em 2 de fevereiro do ano seguinte, ele assumiu a Presidência e só a deixou ao morrer em 2013.

Maduro herdou o poder e, em 2024, 25 anos depois da ascensão de Chávez, o futuro da "Revolução" está em jogo em eleições, nas quais aparece como candidato natural.

No Cuartel de la Montaña, retrata-se a vida do ex-governante, com fotos de seus pais, de sua juventude e atos políticos e oficiais durante seus anos no poder até chegar a "seu último suspiro pelo bem-estar do povo", explica Sorelys Guilarte Rondón, de 44 anos, guia do mausoléu há 10.

As salas estão repletas de objetos pessoais e cartas. Também há um uniforme de beisebol e armas que lhe pertenceram. Foi recriada parte da casa onde ele nasceu, com paredes de barro, assim como uma carteira escolar, uma barraca de campanha e a cela da prisão onde passou dois anos, entre 1992 e 1994, antes de ser absolvido pelo golpe fracassado.

Em uma das paredes desta cela, lê-se a frase "O moinho dos deuses mói devagar", provérbio grego escrito com a também icônica caligrafia do ex-presidente, que buscava, segundo relato oficial, paciência para esperar seu momento chegar.

Bolívar e Chávez

A exposição contém fotos daqueles que o acompanharam nas tentativas de golpe de 4 de fevereiro e 27 de novembro de 1992, incluindo Diosdado Cabello, um poderoso líder considerado o número dois do chavismo.

No centro do quartel, repousa o túmulo do "Comandante Supremo da Revolução Bolivariana", rodeado dos quatro elementos: água, fogo, terra e ar, segundo a guia. Na parede, dois retratos de Chávez e um de Simón Bolívar, de quem o ex-presidente se dizia filho e em torno do qual construiu todo seu aparato político.

Imóveis, quatro hussardos - de sabre na mão, vestidos de vermelho e com colbacs pretos coroados com uma pena vermelha - ladeiam o sarcófago preto, semelhante aos que guardam o mausoléu de Bolívar, no centro de Caracas.

Os guardas são substituídos a cada duas horas em uma cerimônia igualmente marcial. Antes de soar uma trombeta fúnebre para a mudança, cada um deles conta uma parte da vida de Chávez. E um deles grita: "Batalha e vitória. Chávez vive!".

Maduro promete vitória "por bem ou por mal"

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou que "o povo que está no poder" vai "ganhar por bem ou por mal", em meio a denúncias de conspirações, em um ano em que também é candidato à reeleição.

"Diante de qualquer circunstância, ou tentativa imperialista oligárquica: calma e sanidade, nervos de aço, máxima união e mobilização cívico-militar, que a equipe vença, e nós vamos vencer por bem ou por mal", disse Maduro, vestido com uma camisa vermelha, diante de milhares de pessoas que comemoravam o 32º aniversário do golpe de Estado fracassado que o ex-presidente Hugo Chávez (1999-2013) liderou em 4 de fevereiro de 1992, sete anos antes de chegar ao poder pelas urnas.

"Saímos sempre para ganhar, seja como for que nos colocam, quando nos colocam, onde quer que nos coloquem, o povo (está) organizado e preparado para vencer as próximas eleições presidenciais deste ano", acrescentou.

O chavismo comemorou 25 anos no poder e, neste ano, sua continuidade está em jogo nas eleições nas quais Maduro tentará uma terceira reeleição.

"Estamos aqui com o voto do povo, com o soberano: o único que dá, o único que tira (...). Na Venezuela só o povo manda, os sobrenomes não mandam nem os sobrenomes voltarão a mandar neste país", disse Maduro, que com "sobrenomes" se refere pejorativamente à oposição, que normalmente acusa de ser uma "oligarquia" distante do povo.

Em declaração na última segunda-feira, 5, à emissora oficial VTV, o ministro das Comunicações, Freddy Ñáñez, esclareceu que, com a expressão "por bem ou por mal", Maduro se referia a defender "a paz das más intenções daqueles que querem inocular uma guerra no país", sem fazer referência às eleições.

As eleições presidenciais ainda não têm data. Segundo acordos assinados pelo governo e pela oposição em Barbados, com a mediação da Noruega, devem ser convocadas para o segundo semestre de 2024.

 

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