A pouco mais de 300 km de Fortaleza, o município de Croatá tem 32% do seu território situado na zona de disputa entre o Ceará e o Piauí. Uma porção dessa terra abrange a comunidade quilombola Três Irmãos, que congrega hoje 75 pessoas distribuídas em 19 famílias.
Uma delas é a de Antoniza Mateus dos Santos, 50, presidente da Associação Comunitária Remanescente Quilombo Três Irmãos, onde se localiza a primeira escola quilombola do estado, batizada de Luzia Maria da Conceição.
Agente de saúde já há quase três décadas, Antoniza se mostra preocupada ante a perspectiva de que parte da região de solo cearense passe para administração do governo do Piauí.
"A gente é uma comunidade quilombola que vem de uma descendência e de uma ancestralidade de muitos anos. Hoje aqui a comunidade está na sexta geração, desde que a gente nasceu e desde os ancestrais sempre fomos cearenses e não vamos deixar de ser cearenses", defende.
Segundo ela, os "bisavós sempre conheceram esse território como do Ceará, sempre foi e vai continuar no Ceará".
Professor na escola local, Diógenes de Melo Filho afirma que, caso o estado vizinho acabe por vencer a briga judicial que vem travando na Justiça, a comunidade perderia apoio e sua sobrevivência estaria ameaçada. Não à toa, o grupo demandou ao Supremo Tribunal Federal (STF) entrar como parte interessada na ação do litígio.
"Familiares da minha mãe são do Piauí, mas não tenho esse desejo. A gente vê as dificuldades que nossos primos enfrentam. No Ceará, tanto na educação quanto na saúde, a assistência é muito melhor", avalia o docente, que "não é favorável a mexer com essa situação".
"Já existe um acordo, áreas, limites. Geograficamente tem demarcações. Essa escola é um peso pra isso. Quanto à construção de identidade, como é que vai ser discutido? Não tem como reparar uma situação dessas, não tem lógica", critica.