Uma suposta ligação de políticos cearenses com facções criminosas do Brasil tomou espaço no debate nacional em 2023 com a divulgação de um documento apreendido pela Polícia Federal do Paraná em meio às investigações do plano de membros do PCC de matar o senador Sergio Moro (União Brasil-PR).
O conteúdo apreendido pela PF cita políticos, advogados cearenses e viagens para o Ceará. Também há menção a uma "perícia grafotécnica" em processo que tramita na Justiça estadual.
 O material se tornou público depois de levantamento do sigilo do inquérito, por determinação de Gabriela Hardt, quando estava à frente da 9ª Vara Federal de Curitiba.
O documento intitulado de "Breve relato sobre o cliente Gilberto" e não assinado mostra uma espécie de prestação de contas entre o grupo. O texto revela a justificativa para a prestação de contas: "Jamais nos foi solicitado relatório dos destinos das despesas, mas para que fique claro, iremos elencar algumas delas, conforme abaixo".
Na lista estão planos de viagens para Fortaleza no objetivo de encontro com ex-promotores, deputados e prefeitos, além de gastos com advogados. "Viagem a Fortaleza reunião com o Deputado", diz um dos trechos. O nome do suposto parlamentar não foi informado.
Cinco viagens à capital cearense estavam enumeradas no arquivo, das quais quatro aparecem como "Viagens a Fortaleza para reuniões" com "dr. Igor", "dr. Junior (prefeito de Chorozinho), dr. Washington, dr. Claudio", "dr. Paulo Quezado", "dr. Oliveira (ex-promotor), João e dr. Marcelo.
Na época, O POVO conversou com o prefeito de Chorozinho (CE), Júnior Menezes, que negou qualquer envolvimento com pessoas ligadas ao grupo criminoso. Ele respondeu que antes de ser prefeito, era advogado.
"Fui procurado por um colega há dois anos, talvez, querendo que eu o ajudasse em uma ação de um processo no Estado". Segundo o prefeito, esse colega "esteve no escritório" e lhe fez a proposta de participar da defesa, mas ele rejeitou. "Não tive nenhum contato com nenhum tipo de bandido nem nada, o contato foi com um colega advogado que me procurou", acrescentou quando consultado.
O prefeito disse estar tranquilo. "Estão se aproveitando disso para tentar de alguma forma crescer politicamente e fazer alguma ligação da política com o crime, mas é zero possibilidade". Júnior Menezes foi reconduzido à presidência da Associação dos Municípios do Ceará (Aprece).
A reportagem também conversou na época com o advogado Paulo Quezado, que, assim como o prefeito Júnior Menezes, descartou qualquer tipo de vínculo com o episódio. "Eu tive uma reunião com um pessoal que responde processo aqui, mas não fui contratado, só foi isso. Não recebi dinheiro nem me submeti a nenhum contrato", relatou.
O presidente da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), Evandro Leitão (PDT), pediu esclarecimentos à PF e ressaltou que a suposta ligação "macula" a imagem do Parlamento e coloca um "ponto de interrogação em cima da cabeça" dos deputados tanto estaduais quanto federais. Deputados também compareceram na sede da corporação em Fortaleza para pedir mais informações.
Procedimento foi instaurado na Polícia Federal do Ceará justamente porque, embora os fatos não tenham sido feitos aqui no Estado, mencionam pessoas do Estado. O Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do Ministério Público do Ceará (MPCE), chegou a iniciar apurações, mas a PF já tinha iniciado a apuração, e, para evitar duplicidade, o caso ficou apenas à cargo da PF. Sobre o caso, a corporação disse não se manifestar sobre eventuais investigações em andamento.
Neste domingo, O POVO mostrou que há investigações em curso sobre possível envolvimento com facções de vereadores, secretários municipais e até prefeitos no Ceará