O general de divisão Ulisses de Mesquita Gomes foi nomeado no fim da tarde desta terça-feira, 28, o comandante da Monusco, a força de estabilização da República Democrática do Congo (RDC), que atua ao lado do exército daquele país contra os rebeldes do grupo insurgente M-23, apoiado por Ruanda. Há relatos de combates intensos no Leste do país.
O general atuou no Ceará em fevereiro de 2020, como reforço à segurança pública durante motim de policiais militares, como comandante da tropa empregada da Força Tarefa Felipe Camarão, durante a operação do Exército batizada de Madacaru.
Foram mobilizados na época cerca de 2,5 mil militares de Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte. Na época, o Governo do Estado passou o controle operacional de Raio, o Choque e policiamentos especializados para o Exército.
O anúncio da nomeação de general Ulisses, que atuava no Comando Logístico do Exército, aconteceu em meio à crise desencadeada pela ofensiva dos guerrilheiros do M-23 no leste do país, atingindo a cidade de Goma, a capital do Kivu do Norte, estado da RDC vizinho à Ruanda. O grupo M-23 é formado por integrantes da minoria Tutsi.
Milhares de habitantes do Kivu do Norte deixaram a região, enquanto protestos em razão do que os congoleses chamam de inação das potências estrangeiras diante da suposta agressão patrocinada por Ruanda estouraram nesta quinta-feira em Kinshasa, capital da RDC. Embaixadas de países como a França, a Bélgica, os Estados Unidos e a do Brasil foram atacadas por manifestantes.
A Monusco tem cerca de 12 mil militares, a maioria africanos. Durante a ofensiva do M-23, os capacetes azuis da ONU sofreram 13 baixas. Ao todo, 22 militares brasileiros estão na força das Nações Unidas, cinco dos quais permanecem em Goma, pois ocupam funções no Estado-Maior da brigada. Outra parte dos brasileiros está agregada ao batalhão uruguaio, uma das unidades da Monusco, que tem autorização para usar a força.
De acordo com o Exército brasileiro, outros dez militares estão na cidade de Beni, ao norte do país. "A situação nessa localidade permanece dentro da normalidade, sem alterações significativas na segurança", informou o Exército. De acordo com a Força, a situação em Goma se agravou nos últimos dias. O M-23 conseguiu entrar em parte da cidade com tanques T-54 e o apoio de soldados de Ruanda, capturando soldados da RDC.
Ainda segundo o Exército, "o grupo armado M-23 intensificou suas ofensivas, atacando localidades estratégicas como Masisi e Minova". "Combates violentos estão ocorrendo nas proximidades de Sake, a cerca de 23 quilômetros de Goma, resultando em uma crise humanitária e no deslocamento de milhares de civis", informou o Exército brasileiro.
O relato do Exército prossegue, afirmando que "as forças congolesas, juntamente com a SAMIDR (Missão da Comunidade de desenvolvimento da África Austral na República Democrática do Congo) e a MONUSCO, adotaram posições defensivas ao redor de Goma, com tropas congolesas e africanas na linha de frente, enquanto as forças da ONU ocupam a segunda linha defensiva".
Até 2024, a Monusco era chefiada por outro general brasileiro: Otávio Rodrigues de Miranda Filho. Em novembro de 2023, ele dirigiu a Operação Springbok para deter os rebeldes no leste da RDC. Miranda Filho deixou o comando sem que um substituto fosse nomeado como force commander.
Escolhido para substituí-lo no fim do ano passado, o general Ulisses aguardava a sua aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU quando a crise estourou - ela dependia do voto da Rússia. Enquanto isso, a força estava sendo comandada interinamente pelo general Khar Diouf, do Senegal.
A previsão é que Ulisses chegue à RDC na próxima semana para assumir a Monusco. No Brasil, o general chefiou a 7ª Brigada de Infantaria. Também esteve na Minutah, a força de paz da ONU para o Haiti, da qual o Brasil fez parte entre 2004 e 2017. Ele trabalhou ainda no Departamento de Operações de Paz da ONU entre 2017 e 2019. O primeiro brasileiro a chefiar a Monusco foi Carlos Alberto Santos Cruz entre 2013 e 2015.