As eleições de 2024 marcaram não apenas a alternância do poder na Prefeitura de Fortaleza, mas também representou a consolidação das forças nos bairros. Vereadores que já tinham mandato e haviam sido candidatos de primeira viagem se destacaram em localidades onde firmaram as respectivas bases eleitorais, seja por alinhamento ideológico ou proximidade com as comunidades locais.
Os vereadores são os atores políticos mais próximos do eleitor. Gá diferentes formas de atuar e de estratégias para amplificar — e aproveitar-se — dessa proximidade, transformando-a em voto. Há políticos ligados a movimentos sociais, igrejas, categorias profissionais, correntes ideológicas e, mais tradicionalmente, o vereador de bairro; que muitas vezes tem trajetória de líder comunitário, ou apoio deles.
A última eleição elevou esses e outros perfis que concorreram e chegaram ao poder. Levantamento realizado por Alexandre Cajazeira, cientista de dados do O POVO, mostra a distribuição do voto, por bairro, dos 43 vereadores eleitos na Capital.
No quadro geral, votos brancos e nulos foram os “campeões de voto” em 2024; seguidos pelos vereadores Priscila Costa (PL), Gabriel Aguiar (Psol) e Bella Carmelo (PL), respectivamente.
Brancos ou nulos para vereador foram as manifestações mais comuns de eleitores em bairros como: Barra do Ceará (1° branco e 2° nulo); Ancuri (voto em branco); Cambeba (voto em branco); Centro (voto em branco); Parque Dois Irmãos (1° voto nulo e 2° voto em branco) e Passaré (voto em branco).
Embora Fortaleza tenha atualmente 121 bairros, os dados do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) consideram 110 bairros pelos quais estão distribuídos os endereços de locais de votação (ver mapa).
Partido dominante nas últimas eleições, quando fez dez vereadores, o PDT tinha planos de ampliar a bancada para até 14 representantes em 2024, o que não se concretizou. Pelo contrário, o partido perdeu assentos no Legislativo, ficando com oito vagas atualmente.
Apesar disso, seguiu como a maior bancada e os vereadores da sigla trabalhista demonstraram força nos bairros; Dos dez parlamentares mais votados em único bairro na Capital, quatro são filiados ao PDT: Adail Jr (2°); Fábio Rubens (4°); Marcel Colares (5°) e PP Cell (6°); todos foram eleitos.
Os mais votados em um único bairro
A distribuição dos votos revela a força dos candidatos. Em Fortaleza, alguns atores políticos têm destaque em determinadas localidades. Estreante na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor), o vereador Chiquinho dos Carneiros foi o parlamentar mais votado em um único bairro, considerando números totais.
Ele recebeu 4.978 votos no Planalto Ayrton Senna, superando por 7 votos Adail Jr. (PDT), que teve 4.971 votos no Antônio Bezerra.
Na sequência aparecem os vereadores Germano He Man (Mobiliza), Fabio Rubens (PDT) e Marcel Colares (PDT), que tiveram 4,7 mil; 4,6 mil e 4 mil votos nos bairros Vila União, José Walter e Messejana, respectivamente.
Quem ganhou em mais bairros
O vereador Gabriel Aguiar (Psol) foi, disparado, o candidato a vereador que venceu em mais bairros da Capital. O parlamentar foi o mais votado em 15 localidades, das 110 contabilizadas como locais de votação pela Justiça Eleitoral. Ao todo, Fortaleza tem 121 bairros. Dentre os bairros que deram mais preferência ao vereador do Psol estão Aldeota, Cidade dos Funcionários, Fátima e Benfica.
Na sequência aparecem votos brancos ou nulos, que lideraram em nove bairros da Capital, dentre eles Barra do Ceará, Centro e Parque Dois Irmãos.
A vereadora Priscila Costa (PL), parlamentar mais votada da Capital, com mais de 36 mil votos, só venceu em dois bairros: Luciano Cavalcante e Parque Manibura; o que evidencia que seu eleitorado se distribuiu por mais localidades, embora ela não tenha liderado nestes pontos.
Outros parlamentares que se destacaram foram Bruno Mesquita (PSD), Paulo Martins (PDT) e Jânio Henrique (PDT), que lideraram a votação em quatro bairros cada um; Adail Jr, liderou em três bairros, assim como Raimundo Filho (PDT), Estrela Barros (PSD), Marcio Martins (União) e outros.
Aperto
As eleições de 2024 tiveram grande acirramento em alguns bairros da Capital. Houve diferenças ínfimas de votos entre os candidatos mais votados. Em alguns casos, a diferença foi de apenas um voto. Caso de Parque São José e Joaquim Távora. No Bairro de Lourdes foram dois votos
Votos brancos e nulos 2024 e 2020
Votos nulos e em branco continuaram a registrar a maior concentração no eleitorado na Capital. Em 2024, foram 59,1 mil votos em branco e 52,3 mil votos nulos. Há quatro anos, Fortaleza havia tido 65,4 mil votos em branco e 74 mil votos nulos na eleição municipal de 2020.
Em 2020, Fortaleza tinha 1.821.382 eleitores aptos a votar; Já em 2024, foram registrados 1.769.681 eleitores aptos a votar; 51.701 a menos do que quatro anos antes. A redução do eleitorado apto foi de 2,8%. Tanto em valores absolutos como proporcionais houve redução no número de votos brancos e nulos.
Paula Vieira, professora universitária e cientista política vinculada ao Laboratório de Estudos sobre Política Eleições e Mídias da Universidade Federal do Ceará (Lepem-UFC), atribui a redução desses indicadores ao acirramento político registrado nas últimas eleições para o Executivo, que acaba por repercutir no desempenho de candidatos ao Legislativo.
"Quando analisamos votos brancos e nulos, precisamos considerar o nível de competitividade da eleição. Quando há acirramento, há uma tendência de que as pessoas se posicionem mais. Os vereadores, como geralmente atuam por bairros, têm uma tendência de chegar mais próximo à população. Por isso há tantas dobradinhas com candidatos ao Executivo. Essa redução nos votos brancos e nulos aponta para um vínculo maior dessas populações com os vereadores e também com o processo eleitoral", diz.
Paula cita o acirramento como um fator de peso para a decisão do eleitorado. "Tivemos uma disputa muito competitiva pelo Executivo em 2024 e quando olhamos para esses vereadores, a gente também vê esse acirramento no desempenho deles. Além da questão geográfica, da comunidade, pesam os vínculos às pautas, sejam mais de esquerda ou de direita", destaca a especialista, argumentando que a redução dos valores nominais de votos brancos e nulos aponta para uma maior participação do eleitor.