Chamou a atenção de quem acompanha a política nacional um movimento de aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), registrado nas últimas semanas. Os governadores do Ceará, Elmano de Freitas (PT), e do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT); o ex-ministro e presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, e o senador Osmar Aziz (PSD) fizeram coro em tom de alerta à gestão federal.
As manifestações ocorreram na esteira de uma piora na avaliação do governo, apontada pela pesquisa Quaest no fim de janeiro. O levantamento mostrou que, pela primeira vez desde o início do governo Lula 3, a desaprovação (49%) superou numericamente a aprovação (47%), diferença dentro da margem de erro. O que gerou reações de opositores, mas também na base.
Lula está no governo há dois anos e tem discursado em tom de acelerar entregas, referindo-se à metade final do mandato como um tempo para colher os frutos do que foi produzido nos dois primeiros anos. A possibilidade de uma reforma ministerial é ventilada.
Elmano cobrou a gestão federal para acelerar entregas e chegou a sugerir uma reforma ministerial para "dar uma chacoalhada" na equipe. A fala ocorreu durante o Café com o Governador, evento que reuniu o gestor e jornalistas no Palácio da Abolição em 30 de janeiro. "Se eu pudesse dar um conselho ao presidente Lula, eu diria: 'Dê uma mexida grande na sua equipe e bote ela para andar, trabalhar e fazer entrega', porque é isso que pode alterar o movimento da pesquisa".
E seguiu: "Tem de dar uma chacoalhada para acelerar as entregas, dar uma energizada também nas pessoas responsáveis na ponta, principalmente no que diz respeito a entregas nos estados". A cobrança do governador ocorre há menos de dois anos das eleições de 2026, quando Lula é cotado para disputar a reeleição.
Já Fátima Bezerra deu declarações sinalizando que o apoio do Nordeste, região que historicamente dá as maiores votações ao PT, não estaria garantido a Lula nas eleições presidenciais de 2026, devido ao avanço de personagens da direita. Em entrevista ao jornal O Globo a petista defendeu maior presença do governo federal na região, tanto de Lula quanto de ministros de Estado.
"Tem que intensificar a presença do Nordeste este ano e cada vez mais (...) É o tempo da colheita, de entregar essas obras. Não podemos baixar a guarda. O governo tem que se fazer mais presente exatamente aqui no Nordeste", disse a governadora petista ao ser perguntada sobre se o apoio a Lula na região era certo.
O presidente nacional do PSD, ex-ministro Gilberto Kassab, foi mais duro e falou em tom crítico ao governo petista. Para Kassab, se a eleição fosse hoje, Lula correria riscos de não se reeleger; embora tenha reconhecido que o presidente ainda é competitivo no cenário político nacional. Além disso, Kassab fez duras críticas ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), a quem chamou de "fraco".
"Se fosse hoje (a eleição), o PT não estaria na condição de favorito. Eles perderiam a eleição", declarou o dirigente. "Os partidos de centro estão criando uma alternativa para 2026", destacou o dirigente partidário durante painel da Latin America Investment Conference, no último dia 29, em São Paulo.
Sobre Haddad, Kassab cobrou ações e lembrou de ministros anteriores. "O sucesso da economia precisa de ministros da Economia fortes. Já tivemos FHC, Henrique Meirelles, Paulo Guedes. Eles comandavam. Hoje existe uma dificuldade do ministro Haddad de comandar", pontuou. No governo Lula, o PSD ocupa três ministérios. "Haddad não consegue se impor no governo. Um ministro da Economia fraco é sempre um péssimo indicativo", complementou.
Em resposta, Lula disse ter rido da declaração do "companheiro Kassab" e afirmado que a eleição está longe, sinalizando que não é o momento para se preocupar com isso.
Outro membro do PSD, o senador Osmar Aziz (Amazonas) criticou a eventual indicação da deputada federal Gleisi Hoffman (PT) para assumir uma pasta na gestão federal. Na visão do senador, a indicação "Não será boa para o presidente". Em entrevista ao UOL, Aziz justificou: "Adoro a Gleisi, é minha amiga, não tenho nada contra ela, mas ela é militante".
O parlamentar lembrou ainda críticas feitas pela então presidente do PT a outro ministro e correligionário, o titular da pasta da Fazenda, Fernando Haddad (PT). "Como é que você vai botar uma ministra que faz crítica a outro? Me explica isso. Como é que você faz isso? Queria entender o raciocínio".
Atualmente, o PSD ocupa três ministérios na Esplanada (Agricultura, Minas e Energia e Pesca). Apesar de estar na base, tem membros que não aderiram de fato ao governo petista, caso de Ratinho Jr. (PSD), governador do Paraná e cotado como opção do partido nas eleições presidenciais de 2026.