Documentos divulgados na semana passada pelo Arquivo Nacional dos Estados Unidos (NARA na sigla em inglês) mostram que o governo norte-americano esteve atento a movimentações que ocorreram no Brasil na esteira de investigações sobre o assassinato de John F. Kennedy, em 1963. A inteligência norte-americana citou o político brasileiro Leonel Brizola, ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro e ex-deputado federal, em seus arquivos de investigações.
A menção ao Brasil ocorreu no contexto da Guerra Fria e do temor norte-americano de que houvesse influência de países como Cuba e China em nações da América Latina.
Brizola foi citado em um documento referente à movimentação em agosto de 1961, quando ele era governador do Rio Grande do Sul. Telegrama enviado por pessoal da Agência Central de Inteligência (CIA na sigla em inglês) narra suposto contato feito por China e Cuba, para oferecer suporte a Brizola em movimento para assegurar a posse de João Goulart, após a renúncia de Jânio Quadros.
Brizola, que encabeçava a chamada Campanha da Legalidade, teria negado a eventual ajuda, entendendo que poderia gerar uma crise nas relações internacionais e abrindo brecha para uma possível intervenção americana no contexto político brasileiro.
“Durante a semana de 27 de agosto, o presidente do Partido Comunista da China, Mao Tse Tung, e o primeiro-ministro de Cuba, Fidel Castro, ofereceram apoio material, incluindo, ‘voluntários’, a Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul, que liderava a luta no Brasil para garantir a sucessão presidencial de João Goulart (...) Brizola não aceitou a oferta, embora tenha apreciado o apoio moral, pois não queria criar um international affair (assunto internacional) a partir da crise política do Brasil”, aponta o documento.
Comentário ao fim do texto destaca que Brizola “obviamente estava com medo de que, se aceitasse a oferta, os Estados Unidos poderiam intervir” no País.
À época da Guerra Fria, os norte-americanos consideravam que o Brasil poderia ser um fator de influência a outros países da América Latina no caso de uma eventual aproximação com nações comunistas.
Em outro documento (página 8), Brizola é citado como cunhado “violentamente antiamericano” de Goulart. Um memorando de junho de 1964, de autoria da CIA, destacava que Cuba tentava influir nos rumos do Brasil e de outros países da região, com envio de verbas e treinamento para grupos pró-comunistas.
O texto considera ainda que a queda do governo João Goulart representava uma “dura derrota” para Havana. O que sucedeu no Brasil, após a queda, foi uma ditadura militar que durou mais de 20 anos.
“Antes da derrubada do presidente Goulart, Cuba estava envolvida em um esforço subversivo ativo no Brasil, fornecendo fundos, treinamento de guerrilha e apoio de propaganda a grupos comunistas e pró-comunistas. Operando principalmente por meio de sua embaixada no Rio de Janeiro, Havana colaborou estreitamente com as Ligas Camponesas de Francisco Julião no Nordeste do Brasil e com Leonel Brizola, o cunhado violentamente antiamericano de Goulart”, destaca trecho do documento recém-revelado.
Os documentos, até então sigilosos, foram divulgados após ordem do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que determinou que documentos sobre os assassinatos de John Kennedy e de seu irmão Robert F. Kennedy, que ainda estivessem sob sigilo, fossem tornados públicos, sem edições. Ao todo, mais de 80 mil páginas estão disponíveis no acervo.