O Governo do Ceará deve inaugurar brevemente a Galeria da Liberdade, um espaço localizado no complexo arquitetônico do Palácio da Abolição, sede do governo. No local, funcionava desde 1972 o Mausoléu de Castello Branco, em menção ao cearense, ex-presidente da República durante o período do governo militar.
Ainda em 2023, o governador Elmano de Freitas (PT) falou da intenção de retirar do local o mausoléu, substituindo por uma homenagem aos líderes abolicionistas cearenses, como o Dragão do Mar. Já havia, na época, conversas com a família do general para que os restos mortais fossem transferidos de lá.
"No Palácio da Abolição não ficará o mausoléu de quem apoiou a ditadura. A minha vontade é que (...) nós tragamos para cá Dragão do Mar e os abolicionistas e os lutadores pela democracia, honrando a história daqueles que dedicaram suas vidas pelo bem viver do nosso povo", afirmou o governador, em conversa com a imprensa.
Nas redes sociais, Elmano reafirmou a intenção. "Acredito ser uma incoerência manter o Mausoléu de Castello Branco no Palácio da Abolição. Transformaremos o espaço em um monumento em homenagem aos líderes abolicionistas cearenses, como o Dragão do Mar, que lutaram por liberdade", disse na época.
Como a estrutura reverencia o militar e ex-presidente do início do período ditatorial, a atual gestão publicizou a iniciativa de mudanças no local. "A Secretaria da Cultura (Secult), junto à Secretaria de Direitos Humanos, tem a missão de garantir que no Palácio da Abolição não ficará mais o Mausoléu de quem apoiou a ditadura. Defendo a liberdade como o princípio da dignidade humana. Por isso, manifesto todo o meu respeito aos perseguidos políticos pelo regime militar. Que, com muita força, se mobilizaram e fizeram o movimento que resultou na Lei da Anistia", disse.
Em resposta ao O POVO, a Secult afirmou apenas que a data de abertura da Galeria da Liberdade será divulgada em breve, assim como a programação completa.
Apesar de o espaço ainda não estar aberto para visitação, há do lado de fora um letreiro grande com a palavra "Liberdade", colocado justamente onde era a entrada do antigo mausoléu. Atrás deles, vê-se fotos de pessoas negras e outro letreiro, escrito Galeria da Liberdade.
O general Humberto de Alencar Castello Branco foi presidente no início da ditadura militar no Brasil, entre os anos de 1964 a 1967. Ele nasceu na cidade de Fortaleza, estado do Ceará, em 20 de setembro de 1897.
Ele foi um dos principais articuladores do golpe militar de 1964, que depôs o presidente João Goulart. Através de eleição indireta, passou a exercer o cargo de presidente da República em 15 de abril de 1964.
Anos depois da morte do general - ocorrida em julho de 1967 - o então governador cearense Plácido Castelo decidiu incluir a estrutura no conjunto de edificações do Palácio da Abolição, como homenagem a Castello Branco, que era natural de Fortaleza. Em 2006, o mausoléu foi restaurado.
Em março de 2024, O POVO lançou o documentário "Castello, o ditador". A obra conta como o cearense foi responsável por instalar a ditadura militar no Brasil e possibilitar a continuidade do regime por mais de duas décadas.
No ano em que o golpe militar completava 60 anos, o filme trouxe de volta a memória da ditadura e mostra como Castello Branco influenciou o destino do país e a vida de cearenses que resistiram ao regime.