A pouco mais de um ano das eleições de 2026, partidos importantes passam por mudanças estruturais no plano nacional. Desde trocas de comando, indefinições sobre posicionamentos em relação a governos, até a formação de federações e fusões. Movimentos nacionais que irão mexer com o cenário no Ceará e já são motivo de disputas. Dirigentes com intenções e ambições antagônicas defendem diálogo. Líderes com posicionamentos divergentes tentam a mesma via. O resultado será medido sob a óptica do tempo: alguém irá perder. O saldo irá desfalcar ou a base do governador Elmano de Freitas (PT) ou a oposição.
União Brasil e Progressistas estão bem encaminhados para uma federação, mas os líderes estaduais querem coisas distintas no Ceará. PSDB e Podemos caminham para uma fusão que também une uma sigla de situação e outra da oposição estadual. MDB e Republicanos conversam para uma federação. Facilita ambos serem da base de Elmano. Mas os líderes das duas siglas querem a mesma vaga: de candidato a senador. São duas vagas, mas há muitos interessados para ambas ficarem com a mesma federação.
O PDT é um partido envolto em incertezas. O ex-prefeito Roberto Cláudio é pré-candidato a governador e para isso cogita deixar o PDT rumo ao União Brasil.
Presidente do PDT, o deputado federal André Figueiredo evita antecipar posição para 2026. "Se a gente voltar quatro anos no tempo, ninguém diria que iria acontecer em 2022 o que aconteceu. Então, tudo pode sofrer reviravoltas".
No Estado, ele diz que o PDT tem respeito à posição dos deputados. "Eles têm uma postura de oposição. Institucionalmente, nós ainda não temos uma posição. Nós temos a possibilidade de termos um diálogo com o governador Elmano, mas ainda não tivemos desde fevereiro".
O dirigente contou que se reunirá tanto com o RC quanto com o ex-governador Ciro Gomes (PDT) para entender as pretensões de cada um. Além disso, está marcada uma reunião para a próxima terça-feira, 20, a fim de firmar posição de "independência" da legenda em relação ao governo Lula.
"Temos um bom diálogo com o governo federal, mas evidentemente todo esse processo de fritura do (Carlos) Lupi causou um desconforto grande, principalmente porque o governo mesmo sabe que o Lupi não tem nenhuma culpa nesse processo, que já se arrasta há muitos anos, de fraudes no INSS", comenta André.
"Conversaremos eu, Ciro e o Roberto para ver se conseguimos sair, digamos assim, dessa posição de indefinição, pelo menos termos um rumo, porque mesmo a gente esperando que eles não saiam do partido — e vamos trabalhar para isso —, existe essa possibilidade".
O PSD, sob o comando do ex-vice-governador Domingos Filho, está no governo Elmano e tem Gabriella Aguiar como vice de Evandro Leitão (PT) na Prefeitura de Fortaleza. O partido também observa o cenário nacional, tendendo a apoiar Tarcísio de Freitas (Republicanos) numa eventual candidatura a presidente.
"Como não existe mais verticalização, o PSD nacional respeita as decisões estaduais, em razão das circunstâncias políticas locais. Sobre o espaço do partido na composição estadual, o PSD vai tratar do assunto no momento adequado, que é em 2026", disse Domingos, apontando estar ainda "muito distante" para discussão.
Já o PT, poder nos vários níveis, fará eleição interna para renovar direções municipais, estaduais e nacionais. A nova correlação de forças será determinante para 2026.
União Progressista
O União Brasil e o Progressistas formalizaram a federação União Progressista. A definição trará fortes impactos para a política cearense, tendo em vista que o primeiro partido faz oposição ao governo Elmano de Freitas (PT) e o outro integra a base aliada.
A nova formação partidária também reverbera nas eleições de 2026, visto que o ex-prefeito Roberto Cláudio, ainda no PDT, tenta viabilizar nova candidatura ao Executivo estadual com o apoio dessas duas legendas, e encaminha possível filiação ao União Brasil.
Fusão PSDB e Podemos
A expectativa pela fusão entre PSDB e Podemos enuncia uma fissura, resta saber se na base ou na oposição ao governador Elmano. A indefinição pode provocar a saída do Podemos do governismo cearense, aumentando a instabilidade política. De um lado, Tasso Jereissati. Do outro, Bismarck Maia. Os grupos disputam assegurar controle da direção da nova sigla.
Em nível nacional, o partido tucano tem perdido influência, com desfiliações de figuras importantes como os governadores Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, e Raquel Lyra, de Pernambuco, rumo ao PSD.
No Ceará, PSDB é próximo de pedetistas opositores a Elmano, como Ciro Gomes, Roberto Cláudio e José Sarto. Já o bloco do Podemos mais próximo do Executivo cearense faz incursão em sentido contrário, ou seja, para cravar o partido na base de Elmano. Contudo, há divisões internas no partido.
MDB e Republicanos
No caso de federação entre MDB e Republicanos, a dúvida central é quem comandará a aliança no Ceará. Os partidos são dirigidos por, respectivamente, Eunício Oliveira e Chiquinho Feitosa.
Ambos são aliados de Elmano assim como também os dois desejam pleitear uma das duas vagas ao Senado em 2026. Cadeira que é almejada por correligionários do petista, como José Guimarães e Luizianne Lins, além de outras lideranças do arco que dá sustentação ao Palácio da Abolição.
Diante desse cenário, o comando da federação definirá o posicionamento dessas siglas em nível estadual. Nacionalmente, MDB e Republicanos ficariam com 15 senadores, a maior bancada da Casa, além de 88 deputados e cinco governadores.
No Ceará, ambos são aliados do governo, mas tendem a seguir caminho separado do PT no plano federal.
PSD
O PSD, que se aproxima de Tarcísio de Freitas (Republicanos) em nível nacional, levanta questionamentos sobre qual posição adotará no Ceará: manterá autonomia ou seguirá a tendência nacional? Em 2023, o partido ingressou no governo Elmano com a nomeação do deputado federal Célio Studart para a Secretaria da Proteção Animal.
Apesar da aproximação nacional com Tarcísio, o diretório cearense tem mantido uma postura independente, priorizando alianças locais que fortaleçam sua posição no Estado. Após as eleições municipais de 2024, o PSD se consolidou como a terceira força política em solo cearenses, elegendo 16 prefeitos, atrás apenas de PSB e PT.
O principal líder estadual da sigla, Domingos Filho, assimiu o Desenvolvimento Econômico. Em 2024, emplacou a filha, Gabriella Aguiar (PSD), como vice-prefeita na chapa de Evandro Leitão (PT) em Fortaleza.
Reflexos da eleição interna do PT
Apesar de ser o partido do governador Elmano, o PT vive disputa interna pelo comando da sigla a nível estadual e municipal. Entre as tendências partidárias, dois campos esboçam acordo para viabilizar unidade entre candidatos.
De um lado, o Campo Democrático de José Guimarães aposta na reeleição de Antônio Alves Filho, o Conin, no diretório cearense em diálogo com o governador e com o ministro Camilo Santana (Educação). Do outro, o Campo Popular, recém formado por aliados desses dois nomes, endossa a candidatura de Antônio Carlos para presidir Fortaleza. O primeiro não lançou postulante para Capital, o segundo não indicou ninguém para estadual.
Na contramão desse cenário, o Campo de Esquerda liderado por Luizianne Lins apoia a Professora Adriana Almeida e Mari Lacerda para as presidencias estadual e de Fortaleza, respectivamente. Neste cabo de guerra, os esforços pendem não apenas para condução das instâncias da agremiação petista, mas também sobre os cuidados de quem elas estarão durante o ano que definirá a recondução de Elmano ao Abolição.
E o PDT como fica?
Por fim, resta saber qual será o destino do PDT, partido historicamente influente no Ceará e hoje em processo de redefinição após rupturas internas. Elmano foi eleito sob um trabalhismo rachado no Estado, cisão que aprofundou-se até a primeira metade de seu mandato, quando Cid Gomes mingou o partido ao encaminhar aliados ao PSB.
Quatro parlamentares dão conta de sustentar uma oposição inspirada em Ciro Gomes e RC, quiçá José Sarto, na Assembleia Legislativa do Ceará. Com a queda de Lupi após o Ministério da Previdência estar no centro do recente escândalo envolvendo o INSS, o ex-governador publicizou apoio à postulação do PL do Ceará ao Senado, quem tem Alcides Fernandes como protagonista.