A Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) tem adotado, a partir da nova gestão liderada pelo presidente Leo Couto (PSB), uma política de inclusão. Para isso, dentre as medidas pensadas, está a criação do Espaço Evoluir, que prestará apoio a filhos de servidores com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Síndrome de Down.
Para encabeçar essa fase, a Casa tem como gestora de inclusão, Lívia Vasconcelos. Ela atua na área há uma década, sendo membro da Comissão do Direito à Pessoa com Deficiência no Ceará, delegada da Associação Nanismo Brasil (Annabra), além de palestrante. A Câmara também contratou Anna Carolina como assistente dos trabalhos legislativos no plenário, jovem com Síndrome de Down.
Convidada para trabalhar na CMFor, Lívia conta que não aceitaria se fosse para ocupar cotas, mas sim para fazer a mudança de verdade e ajudar a fazer parte de uma gestão que deixe um legado de inclusão, acessibilidade e contra o capacitismo.
O POVO - Qual é a sua formação, atuação nessa pauta da inclusão e como chegou à Câmara Municipal de Fortaleza?
Lívia Vasconcelos - O meu nome é Livia Vasconcelos, eu tenho 33 anos, e tô aqui na Casa como gestora de inclusão. Fui convidada porque, há 10 anos, eu luto por inclusão. Tenho uma empresa de palestra e treinamentos também. Fiz Direito, hoje faço Serviço Social. Tenho uma empresa de mini bikes ergométricas.
Sou da Comissão do Direito à Pessoa com Deficiência no Ceará. E também sou delegada da Annabra, que é Associação Nanismo Brasil, representante do Ceará. Sempre lutei pela causa, até por ser uma pessoa com deficiência.
Tenho um tipo de nanismo raro, então foi assim que me encontraram, vamos dizer assim. Por eu sempre lutar e querer, cada vez, mais a mudança.
Quem me trouxe aqui foi através da Christiane Leitão (primeira-dama de Fortaleza). Ela conhecia o meu trabalho já, porque ela também luta pela inclusão há bastante tempo. A gente já tinha se cruzado por aí algumas vezes. Então, ele (Leo Couto) perguntou se ela tinha alguém para indicar que trabalhasse de fato, que fosse alguém com deficiência, que tem esse trabalho de verdade, não só fazer por fazer.
Ela falou o meu nome. Ela não queria muito falar o meu nome porque ela também queria que eu trabalhasse com ela, mas eu também ajudo como posso. Eu sou assim, o que me chamar para fazer, (porque) a gente quer mesmo é fazer a mudança. Eles me ligaram, disseram: “venha pra cá, venha ouvir minha proposta, preciso de alguém que mude de verdade, que faça mesmo acontecer. Eu topei porque eu vi realmente, a gente já tá vendo, são mais de 100 dias, e já tivemos grandes mudanças.
Na entrevista que fiz pra ver se topada mesmo eu falei logo: “se vocês estão me chamando só para cotas, eu não quero. Eu quero fazer de verdade”. Porque de fato eu já tenho muita coisa, muito trabalho. E eles falaram: “é realmente isso o que a gente queria ouvir de você, a gente quer mudança de verdade, não só no papel”.
OP - Quais foram as primeiras ações dessa nova política de inclusão na Casa e que já podem ser notadas?
Lívia - A primeira coisa que eu fiz foi fazer uma cartilha para mostrar contra o capacitismo, falar sobre leis, termos que a gente não pode mais utilizar. Uma coisa bem informativa aqui dentro da Casa. Essa cartilha já está sendo espalhada entre outras casas legislativas, outros locais públicos aqui na Prefeitura. Então, a gente já viu uma mudança a partir daí. Temos a cartilha do autismo também.
Estamos empregando mais pessoas com deficiência. Não é só a Anna Carolina, temos uma cadeirante. Temos um concurso também para pessoas com deficiência. E temos o Espaço Evoluir. Vai chegar para atender primeiramente a Casa, porque nós fizemos uma pesquisa com todos os funcionários da Casa e descobrimos uma grande demanda de pessoas com autismo, tanto funcionários como familiares. A demanda até nos assustou pela quantidade. E depois vai ser para o público ao redor.
E a gente também faz muitas vivências, muitas experiências. Estamos fazendo uma mudança estrutural na Casa para deixá-la mais acessível. A gente tem os abafadores para o atendimento de criança que vier com os pais e tiver TEA (Transtorno do Espectro Autista), ou adultos também com TEA. A gente está tentando fazer a Casa ser 100% acessível, que é o que tem que ser.
OP - Qual é a marca que você quer deixar para a população com o seu trabalho nessa pauta no parlamento da capital cearense?
Lívia - Eu quero que a gente seja um legado, que seja exemplo para outras casas legislativas, porque é daqui que sai tudo. Não adianta a gente querer fugir se a gente quer ser espelho, porque se a gente mudar aqui dentro, as pessoas vão repetir lá fora.
Até mesmo com o vereador, com o assessor, vendo a mudança, vendo a inclusão de fato, porque ela está acontecendo, a gente está vendo a mudança. Então, a gente quer que seja espelho, que isso só cresça e que a gente veja um mundo bem mais acessível, inclusivo e menos capacitista.