A facção criminosa Comando Vermelho (CV) atuou para garantir o resultado das eleições municipais de Santa Quitéria, distante 223 quilômetros de Fortaleza.
"Quando ocorreu a eleição municipal de Santa Quitéria, foi detectado que uma das maiores organizações criminosas aqui no Estado estaria agindo para dirigir o resultado do pleito", resumiu ao O POVO o subprocurador-geral de Justiça Jurídico do Ministério Público do Ceará (MPCE), Plácido Rios, na segunda-feira, 2.
Segundo ele, a facção criminosa comprava apoio político utilizando dinheiro do tráfico, expulsava moradores, proibia bandeiras e propagandas de adversários afixadas em casas, impedia passeatas e reuniões políticas e ameaçava de morte quem contrariasse essas ordens.
“Inclusive, chegaram a ameaçar destruir o cartório eleitoral de Santa Quitéria, incendiando o cartório", contou Rios. Conforme o subprocurador, o MPCE recebeu uma proposta de colaboração premiada dos presos durante as investigações. A partir da deleção, a Justiça autorizou pedidos de prisão, busca e apreensão e sequestro de bens. Um dos alvos foi a comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro, onde estavam chefes da facção cearense.
Em entrevista coletiva realizada nesta terça-feira, 3, com membros do MPCE e órgãos de segurança, foi explicada a forma com que organizações criminosas influenciaram as eleições 2024 em Santa Quitéria.
Anastácio Paiva Pereira (conhecido como Doze e Paulim Maluco), apontado como um dos principais chefes do CV no Ceará, também é conhecido pelo envolvimento na política de Santa Quitéria, município do qual é natural. Esse apoio teria sido decisivo para que José Braga Barrozo, o Braguinha (PSB), fosse eleito em 2020 e 2024, conforme a Polícia Civil do Ceará.
Por isso, o Ministério Público Eleitoral (MPE) pediu e a Justiça Eleitoral deferiu a cassação do mandato de Braguinha e do vice, Gardel Padeiro (PP). Ambos foram impedidos de assumirem os mandatos e Braguinha chegou a ser preso no início deste ano, acusado de envolvimento com o traficante, mas conseguiu ter a prisão preventiva convertida para domiciliar, após alegar problemas de saúde.
Segundo os procuradores de Justiça, foi significativa a influência da facção criminosa nas eleições passadas, especificamente em Santa Quitéria. A interferência no processo eleitoral do município ocorreu através de várias ações, como ameaças aos eleitores.
As ações criaram um "clima muito tenso" durante as eleições na cidade. Apesar da atuação da Promotoria de Justiça Eleitoral e dos órgãos de segurança pública (Polícia Civil, Polícia Federal, Polícia Militar) para restabelecer a ideia do pleito eleitoral, os candidatos que foram apoiados por essa organização criminosa lograram êxito e foram eleitos.
Em 2020, Anastácio havia sido apontado como mandante de um plano que visava matar o então prefeito e candidato à reeleição Tomás Figueiredo (MDB). Quatro pessoas foram presas suspeitas de terem sido designadas para a prática do crime.
Aquele pleito também registrou diversas ameaças praticadas por integrantes do CV a eleitores de Figueiredo. Em 2024, as ameaças foram novamente registradas. Pichações foram feitas em muros nas cidades dizendo que quem votasse no candidato emedebista “iria se ver” com a “Tropa do Paulim Maluco”.(Com informações da repórter Mirla Nobre)