Assunto mais falado da política nacional nos últimos dias, o interrogatório do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF), na última terça-feira, 10, repercutiu entre os deputados estaduais cearenses. Nos corredores da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), parlamentares trocavam opiniões, versões e suposições a respeito da suposta trama golpista que tentou impedir que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), assumisse o cargo.
Para o deputado Heitor Férrer (União Brasil), a alternância de poder é condição fundamental para a democracia. "Mas a alternância do poder através do voto. Não se pode imaginar que no Brasil, com uma redemocratização em 1985, nós tenhamos ainda um presidente que não passa faixa para o eleito", disse, lembrando que Bolsonaro viajou para os Estados Unidos e não passou a faixa presidencial para Lula.
Para ele, no entanto, a situação não parece boa para o ex-presidente. "Todos os indícios mostram que as tratativas todas eram para não entregar o poder ao presidente eleito. Está tudo muito claro. 'Ah, mas não tinham armas'. Foram ao Congresso sem armas, destruíram o Supremo Tribunal na mão. O golpe se dá através de uma desestabilização do país, onde se obriga a fazer uma tal de GLO, que é a Garantia da Lei da Ordem com o Exército Brasileiro, onde o país fica ingovernável", explicou ao O POVO.
Para o deputado Guilherme Sampaio (PT), o julgamento em andamento é "o mais crucial na história da Justiça brasileira". Para ele, os interrogatórios mostram que a denúncia original do Ministério Público Federal (MPF) está se comprovando como verdadeira.
"Toda a trama que nós vimos denunciada pelo Ministério Público Federal está comprovada nessas falas públicas de pessoas que estavam no centro do poder, ao lado do presidente Bolsonaro. O próprio presidente fez confissões que o incriminam pelo crime de tentativa de golpe de estado", afirmou.
Para o líder do governo Elmano (PT), há muitas contradições nos depoimentos dos réus. "São nítidas as contradições nos depoimentos entre as pessoas que compunham aquele núcleo. Ficou mais uma vez comprovada a tentativa de golpe, como na fala do ex-ajudante de ordem do presidente da República (Mauro Cid), que só não se consumou (golpe) no país porque o Exército e a Aeronáutica não aderiram", disse.
Presidente do PL no Ceará, o deputado Carmelo Neto, por outro lado, defendeu a inocência de Bolsonaro e elogiou a convicção política do ex-presidente.
"Eu fiz questão de assistir todo o depoimento. Presidente Bolsonaro passou muita franqueza, transparência, verdade. Eu acho que se você não for nem de um lado, nem do outro e você assistir, você consegue perceber a franqueza com que o presidente Bolsonaro esclarece e fala de todos os fatos. Você percebe também a convicção na inocência e a convicção de que ele será candidato e voltará a governar o Brasil", refletiu.
O parlamentar lembrou brincadeira de Bolsonaro para o ministro Alexandre de Moraes. O ex-presidente "convidou" Moraes para ser vice em 2026. "Claro que é uma brincadeira, mas mostra a tranquilidade, a convicção. O presidente está ali muito à vontade. Eu até percebi um certo constrangimento do ministro Alexandre de Moraes e um conforto absoluto do presidente Bolsonaro", avaliou, afirmando que não acredita em condenação por tentativa de golpe.
Com uma análise mais técnica, Sérgio Aguiar (PSB) exaltou a importância das provas testemunhais e dos depoimentos dos réus. Ele enfatiza que esses elementos são cruciais para o julgamento da Suprema Corte, complementando evidências já existentes, como escutas telefônicas e documentos.
"O que ocorreu nessas últimas oitivas é que aquilo que foi confabulado no Palácio não foi aquilo que foi confirmado pelos agentes que estavam ali a falar aquilo no final do ano de 2022. Então, por isso, a gente imagina que os julgadores vão estar com o enriquecimento que têm dessas provas para poderem fazer o seu pronunciamento e punir a quem mereça ser punido", explicou.