Na noite de sábado passado, 7, circulou a imagem de uma reunião entre os mais influentes líderes políticos do governismo cearense. Estavam lá o governador Elmano de Freitas, o ministro da Educação, Camilo Santana, e o prefeito de Fortaleza, Evandro Leitão, os três do PT. Com eles estava o secretário da Casa Civil do Estado, Chagas Vieira. E o senador Cid Gomes (PSB).
"A foto é o testemunho de que a gente tem conversado, a gente tem se preocupado com o futuro do Ceará e está procurando trabalhar. Emblematicamente, até um sábado à noite", comentou o senador.
No momento em que a oposição se articula, o senador destaca a união dos líderes da base aliada. E disse que o desentendimento do fim de 2024 foi resolvido e superado. "Os questionamentos que fiz em relação ao comportamento que estava achando que estava em uma direção muito hegemônica de um partido. Esses rumos foram corrigidos", disse, sobre o movimento para que Romeu Aldigueri (PSB) fosse eleito presidente da Assembleia Legislativa — no primeiro momento, a base do governo apostou no deputado petista Fernando Santana.
Novamente agora, de olho em 2026, Cid defende que os espaços não devem se concentrar no mesmo partido. "Se o PT já tem o Governo do Estado, é razoável que mais partidos sejam contemplados. Participe na chapa com outras posições".
Na sexta-feira, 6, um dia antes da reunião dos líderes, o deputado federal José Guimarães (PT) publicou nas redes sociais, em resposta a seguidor, que não abre mão da pré-candidatura ao Senado, por se tratar de decisão nacional.
Sem falar especificamente de Guimarães, Cid fez referência à recente manifestação de Camilo no mesmo sentido. "Eu, pessoalmente, acho que é razoável que o arco de forças contemple outros partidos além do PT. Eu acho muito razoável isso".
Nesta entrevista, ele fala também de Ciro Gomes (PDT) e considera o cenário agora mais favorável para ele concorrer a presidente que em 2026. O senador narrou o conselho que deu ao irmão: "Acho que você deve esperar que venham atrás de você, pra você ser candidato à Presidência".
O POVO - O senhor, no sábado, teve uma reunião com o ministro Camilo, governador Elmano, prefeito Evandro e com o Chagas. A reunião, e a foto da reunião, não foi só a conversa, mas também a mensagem. O que vocês conversaram?
Cid Gomes - Cada um vendo uma foto imagina o que imagina, né? A foto é o testemunho de que a gente tem conversado, a gente tem se preocupado com o futuro do Ceará e está procurando trabalhar. Emblematicamente, até um sábado à noite. Começou à tarde e entrou pela noite. E foi um fim de semana intenso, porque para mim foi sábado à noite lá e domingo à noite aqui nos líderes. Então é isso. Nós estamos trabalhando e penso eu que a gente deve trabalhar articulado.
OP - Estão articulados? Tem coesão?
Cid - Tem, total. Eu sempre fui de grupo. Sempre fui de grupo. Acho que ninguém faz política sozinho. Os questionamentos que fiz em relação ao comportamento que estava achando que estava em uma direção muito hegemônica de um partido. Esses rumos foram corrigidos. Enfim, então eu penso, defendo o que penso e luto pelo que penso. E na medida que o que eu penso está sendo posto em prática, eu estou junto para integrar.
OP - Vocês dialogaram sobre como vai ser o Senado, em 2026? Júnior Mano pelo PSB?
Cid - Não, não. Nem acho que seja razoável, já disse isso publicamente, eu não acho que seja razoável definir chapa a uma altura dessa do campeonato, certo? Primeiro, porque chapa não é fruto de desejo, qualificação de pessoas. Chapa é fruto de decisão de partidos. Então, qual é o arco de partidos que vai estar junto? No Brasil isso se replicará? Ou o cenário nacional terá influência no cenário estadual? Toda uma série de questões que não vão estar respondidas agora. E essa federação que passou a ser o maior partido vai estar junto? Lá no Ceará é uma dúvida para a gente, porque um partido, o PP é tradicional aliado, o outro, o União Brasil, é tradicional adversário. Tem esforços aí no sentido de trazê-los para uma aliança, mas vai ser positivo? Enfim, então todas as questões.
OP - Tem como trazer o União Brasil como um todo?
Cid - Você tem resposta para a pergunta?
OP - Não tenho.
Cid - Nem eu. (Risos) Tudo é possível na política, certo? Tudo é possível. Na medida em que partido é uma decisão coletiva, e nesse coletivo tem pessoas que defendem, então isso passa a ser possível. O partido nacionalmente deixará que o partido a nível estadual resolva o seu futuro? Se isso acontecer, há boa relação com lideranças nacionais? Tudo isso são fatores importantes e que não estão ainda fortes, não estão ainda colocados. E eu defendo que a gente deva tentar. Sempre fiz isso, sempre fiz política agregando.
OP - Nessa discussão sobre a hegemonia do PT, que está com o governo, está com a Presidência da República...
Cid - Eu fiz referência a isso no passado. E de alguma forma me sinto contemplado. De alguma forma não, me sinto contemplado quando se entendeu, a partir de ponderações que fiz, que a presidência da Assembleia deveria ficar com outro partido.
OP - O que mais o PSB, e os outros partidos da base, podem conseguir por meio da redução dessa hegemonia do PT?
Cid - Eu acho que o Camilo fez uma declaração há pouco tempo sobre isso. Reproduziria a mesma frase dele: o PT não pode querer tudo. Então, para o futuro, imaginando um arco de força lá, e se o PT já tem o Governo do Estado, é razoável que mais partidos sejam contemplados. Participem na chapa com outras posições.
OP - Principalmente na chapa majoritária?
Cid - Claro, claro. O que é dividido? O que só se permite com a ligação para a cargo majoritário. Para cargos proporcionais não existe coligação. Então, cada um vai correr por si. Cada um vai cuidar de si.
OP - A ideia, então, é o PT não ter candidato ao Senado, e aí vai ter candidato ao Senado o MDB, ou o PSB, ou o PSD…
Cid - Quem disse a frase foi o Camilo. Eu podia deixar nisso. Mas eu, pessoalmente, acho que é razoável que o arco de forças contemple outros partidos além do PT. Eu acho muito razoável isso.
OP - E houve o ok do governador para essa tese?
Cid - Não, mas ninguém decidiu isso não. Você está perguntando, a reunião não foi para isso, não. Na reunião a gente pensou coisas do Ceará. Por exemplo, eu fui relator de um projeto que tem sido uma preocupação do Ceará, que é assegurar os recursos para a conclusão no prazo previsto da Transnordestina. Hoje eu fiz o parecer para ser votado na comissão. Se Deus quiser, será votado dia 17. Isso assegura mais de R$ 800 milhões para a Transnordestina. Então, nós temos esse projeto de data center, que foi resolvido o impasse também, que estava a nível lá de comissão nacional do ZPE. Isso é assunto da minha responsabilidade enquanto representante aqui em Brasília. O Camilo tem a responsabilidade. Eu, por exemplo, ponderei a ele a necessidade de um hospital universitário na região Norte do Estado. Já tem em Fortaleza, já tem no Cariri. Nós temos lá em Sobral três cursos de medicina, se implantando mais um. Então, é importante que a gente tenha um hospital universitário.
OP - E vai ter?
Cid - Ele acha razoável. Essa coisa não é decisão só dele. Ele não é o presidente, ele é ministro.
OP - Não é presidente ainda, talvez.
Cid - Sim. Muito bem.
OP - E o senhor?
Cid - Eu já fui mais do que pedi a Deus. Fui duas vezes prefeito de Sobral. Eu fui governador duas vezes. E senador, o que é que eu quero mais?
OP - Não tem mais nenhuma pretensão para 2026?
Cid - Eu, pessoalmente, não. Repito, sinceramente.
OP - E aí, 2027, não vai estar aqui no Senado?
Cid - Em 2027, eu estarei aqui até dia 31 de janeiro (data do fim do mandato). O povo cearense já me fez essa homenagem. O povo cearense encara essa coisa de Senado como homenagem. Então eu já me sinto homenageado para além dos meus créditos. Isso já me deixa eternamente grato. Sinceramente. Tenho ambições políticas? Tenho ambições no plano coletivo. Estou focado nisso. Eu sempre agi assim. Eu foco. Eu me considero, pode parecer conversa tola, mas eu me considero, pessoalmente, responsável por um projeto que está em curso no Ceará. E para esse projeto se manter, o que eu considero fundamental hoje é a eleição de uma bancada boa de deputados federais que dê a esse projeto uma representação a nível nacional, uma influência a nível nacional e uma boa bancada de deputados estaduais. Essa é a minha prioridade.
OP - Qual sua opinião sobre Roberto Cláudio, agora no União Brasil, indo para lá?
Cid - Eu não vou comentar de gente do outro partido, não. Sinceramente. Eu comento, eu falo sobre pessoas do meu arco de força, da admiração que tenho.
OP - E sobre Ciro? Ele se aproximando da ala bolsonarista, surpreendeu o senhor?
Cid - Bom, eu não vi nenhum gesto do Ciro de aproximação, de fato, com o Bolsonaro. Já vi com o Roberto Cláudio.
OP - E com Alcides (Fernandes)? Doeu?
Cid - Doer é uma expressão muito forte. A dor que eu tive em ter o Ciro é no outro plano. Não é no plano da política, é no plano da relação familiar. Portanto, nada se compara a isso. Mas eu já falei também sobre isso. Eu acho que na política tem quem defenda que os fins justificam os meios. Mas eu acho que não. Eu acho que a gente tem que guardar um pouco de coerência.
OP - Dá pra separar a relação fraterna da relação política?
Cid - A minha relação de irmão, de respeito, de admiração, de gratidão, de amor pelo Ciro vai acontecer sempre, qualquer que seja a nossa divergência política. Eu sei separar as duas coisas. E pronto. Separa as duas coisas. Na política, infelizmente, a gente tá com pensamentos, com visões diferentes no Ceará.
OP - É possível convergir?
Cid - Eu não vou comentar nada dos outros, eu comento das minhas ações. Eu acho que o Ciro tem, nesse pré-momento de eleição presidencial, um cenário bem mais favorável do que ele tinha há quatro anos atrás. E ele foi candidato naquela hora. Então, eu acho que ele deveria ser. Também essa história, ser candidato não depende só da decisão. No Brasil não existe candidatura avulsa. Tem que o partido encampar. Eu penso que, conforme o cenário, acho que muita gente vai querer que o Ciro seja candidato. Vamos deixar as coisas acontecerem. A presidente, eu estou falando.
OP - Ele falou que não quer ir para governador, mas...
Cid - Ele está dizendo que não é candidato a nada. Disse isso pra mim. E eu disse para ele: 'Acho que você deve fazer isso mesmo. Esperar que venham atrás de você, pra você ser candidato à Presidência'.
OP - Vocês têm se falado?
Cid - Não. Falamos de 2022 pra cá duas vezes.
OP - Duas vezes?
Cid - Duas vezes.