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PF diz que Bolsonaro era 'centro decisório' e principal beneficiado da 'Abin paralela'
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PF diz que Bolsonaro era 'centro decisório' e principal beneficiado da 'Abin paralela'

|Investigações| O sigilo do inquérito foi levantado ontem por ordem do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso
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EX-PRESIDENTE Jair Bolsonaro não foi indiciado formalmente no caso (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal EX-PRESIDENTE Jair Bolsonaro não foi indiciado formalmente no caso

A Polícia Federal atribui ao ex-presidente Jair Bolsonaro e ao vereador do Rio Carlos Bolsonaro o comando de uma organização criminosa que, segundo a corporação, usou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para espionagem política e ataques às urnas eletrônicas.

No relatório final da investigação da "Abin paralela", entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF), a PF afirma que o ex-presidente e filho definiram as "diretrizes estratégicas" do esquema e os alvos das ações clandestinas.

Para os investigadores, o objetivo da estrutura clandestina de inteligência era proteger interesses políticos e familiares, atacar opositores e desacreditar instituições democráticas. Bolsonaro, segundo a Polícia Federal, era "o centro decisório e o principal destinatário das 'vantagens' ilícitas". O ex-presidente não foi formalmente indiciado, porque já responde por organização criminosa em outro processo, mas é apontado como líder das ações de arapongagem.

Procurada, a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro ainda não havia se manifestado até a publicação deste texto.

Já o vereador seria o "idealizador da inteligência paralela", de acordo com a PF. A Polícia Federal afirma que ele "figura no cerne das ações delituosas" e era uma espécie de "direcionador das informações produzidas".

Ao todo, 36 pessoas foram indiciadas no caso. A Polícia Federal organiza a investigação em seis núcleos - político, comando e alta gestão, assessoria e execução de ações clandestinas, estrutura operacional de inteligência, produção e propagação de fake news e embaraçamento da investigação.

Bolsonaro e Carlos seriam o núcleo político. "Este núcleo é integrado por sujeitos que eram os principais e responsáveis pelas ações realizadas, posto que figuravam como os beneficiários diretos das ilicitudes praticadas", descreve a PF.

O relatório afirma ainda que as ações clandestinas na Abin eram voltadas à "proteção ao núcleo familiar" e "obtenção de vantagens de ordem política"."As ações clandestinas, portanto, tinham seus produtos delituosos destinados ao interesse deste núcleo com ataques direcionados a adversários e ao sistema eleitoral, dentre outros", conclui a PF.

O relatório de 1.125 páginas é assinado pelo delegado Daniel Carvalho Brasil Nascimento, da Divisão de Operações de Inteligência Cibernética da Polícia Federal. O sigilo do documento foi levantado nesta quarta-feira, 16, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF, relator da investigação.

A Polícia Federal liga uma série de monitoramentos ilegais aos interesses do ex-presidente e de sua família. Os investigadores mencionam dossiês para tentar inferir em inquéritos contra o senador Flávio Bolsonaro, por suspeita de rachadinha, e o vereador Jair Renan, por indícios de tráfico de influência.

O relatório apontou que o grupo monitorou quase 1,8 mil telefones entre fevereiro de 2019 e abril de 2021, segundo investigações. De acordo com o relatório final da PF, 34 credenciais do programa israelense First Mile foram usadas para espionar 1.796 terminais telefônicos, resultando em 60.734 consultas feitas de forma irregular. O software é capaz de rastrear celulares explorando vulnerabilidades nas redes de telefonia 2G e 3G do Brasil. (Agência Estado)

Políticos, ministros e servidores foram alvos

As investigações da Polícia Federal apontam que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi utilizada para espionar opositores da gestão Bolsonaro, além de servidores, jornalistas, deputados, senadores e membros do Poder Judiciário. O relatório detalha que houve um pico de uso do sistema espião em outubro de 2020, mês das eleições municipais.

Diante do grande volume de alvos, a PF classificou as vítimas da espionagem em oito categorias: geral, servidores do TSE e institutos de pesquisa, Poder Judiciário, Poder Legislativo, Ministério Público, servidores públicos, proteção do núcleo político e contexto não identificado.

Entre os monitorados estavam os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso.

O então presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM, à época), e a então deputada Joice Hasselmann (PSDB, à época) foram seguidos fisicamente durante um jantar. O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), e sua esposa, Analine Castro, foram investigados por ordem expressa de levantar "todos os podres" do casal.

Senadores da CPI da Pandemia também foram alvos. Renan Calheiros (MDB), Omar Aziz (PSD) e Randolfe Rodrigues (REDE, à época) foram monitorados, com pedidos para investigar assessores, levantar informações negativas e mapear ligações com a Transpetro. (AE)

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