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Conflito entre Irã e Israel caminha longe de acordo em meio a temor de risco nuclear
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Conflito entre Irã e Israel caminha longe de acordo em meio a temor de risco nuclear

|Escalada| Em mais um dia de bombardeios, atores diplomáticos se encontraram para tentar uma mediação no conflito. No meio, o temor diante de questões nucleares
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CONSELHO de Segurança da ONU se reuniu ontem  (Foto:  ANGELA WEISS / AFP)
Foto: ANGELA WEISS / AFP CONSELHO de Segurança da ONU se reuniu ontem

Irã e Israel seguem em ataques mútuos após mais de uma semana do conflito que começou na madrugada do dia 13 deste mês. Reunião do Conselho de Segurança da ONU, realizada ontem em Nova York, foi palco de troca de acusações entre os embaixadores de Israel e do Irã.

Embaixador iraniano, Amir Saeid Iravani, afirmou que o Irã continuará se defendendo de Israel, enquanto seu honomimo de Israel, Danny Danon, prometeu que seu país não interromperá os ataques até que a ameaça nuclear de Teerã seja desmontada.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu a Israel e ao Irã, assim como às "potenciais partes" que possam intervir no conflito, que deem "uma oportunidade à paz"."Às partes em conflito, às potenciais partes em conflito e ao Conselho de Segurança, que representa a comunidade internacional, tenho uma mensagem simples e clara: deem uma oportunidade à paz", disse.

"Há momentos em que as escolhas que temos diante de nós não são apenas importantes, são decisivas; momentos em que a direção tomada determinará não apenas o destino das nações, mas o futuro da humanidade. Estamos em um desses momentos", disse ele em uma reunião do Conselho de Segurança da ONU.

Guterres expressou alarme com a escalada bélica deste novo conflito. "Não estamos sendo empurrados para a crise, estamos correndo para ela. Não estamos testemunhando incidentes isolados, estamos caminhando para o caos", alertou.

"A expansão desse conflito poderia incendiar o mundo sem que ninguém o controle. Não podemos permitir que isso aconteça", alertou, antes de pedir novamente "o fim dos combates e o retorno a negociações sérias".

"Não vamos nos arrepender desse momento decisivo. Agiremos de forma responsável e conjunta para afastar a região e o mundo do precipício", instou ao principal fórum da ONU.

Enquanto este conselho se reunia com urgência para abordar as "ameaças à paz e à segurança" do conflito, o diálogo sobre o programa nuclear do Irã começou em Genebra entre o chefe da diplomacia iraniana e seus contrapartes de União Europeia, França, Alemanha e Reino Unido.

Os europeus querem usar esta oportunidade para retomar as conversas sobre o programa nuclear iraniano e dar uma chance à diplomacia no oitavo dia da guerra entre Israel e Irã.

Enquanto isso, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu a si mesmo "duas semanas" para decidir sobre uma possível intervenção militar americana ao lado de Israel.

 

O Irã descartou retomar as negociações sobre seu programa nuclear com os Estados Unidos enquanto Israel não parar os bombardeios iniciados há uma semana contra o seu território. O chefe do Estado-Maior do Exército de Israel, o tenente-general Eyal Zamir, advertiu, no entanto, que é necessário se preparar para uma "campanha prolongada".

Israel, potência atômica não oficial, iniciou em 13 de junho uma campanha de ataques aéreos contra o Irã alegando que Teerã estava prestes a conseguir uma arma nuclear. Os iranianos, que negam essa acusação, responderam com lançamentos de mísseis e drones.

O diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, afirmou que o último relatório de sua agência não contém nenhuma indicação de que o Irã esteja atualmente desenvolvendo uma arma atômica.

Nas últimas semanas, negociadores americanos e iranianos realizaram várias rodadas de conversas para um novo acordo sobre o programa nuclear iraniano. O último pacto, assinado em 2015, ficou obsoleto após a saída unilateral dos Estados Unidos em 2018, durante o primeiro mandato de Trump.

Mas as negociações entre Teerã e Washington para um novo acordo foram interrompidas com o início dos bombardeios israelenses. O pacto anterior buscava garantir a natureza civil do programa nuclear iraniano em troca do levantamento gradual das sanções econômicas.

"O Irã está disposto a reconsiderar a diplomacia assim que a agressão cessar", disse o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, após uma reunião com seus homólogos europeus em Genebra.

O Irã manifestou interesse em continuar o diálogo com os europeus. "Expressamos nossa disposição de nos reunirmos novamente em um futuro próximo", afirmou seu chanceler.

O ministro das Relações Exteriores francês, Jean Noël Barrot, afirmou que a "via militar" não oferece uma "solução definitiva para o problema do programa nuclear iraniano".

Após o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, não ter descartado a possibilidade de matar o líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, Barrot também afirmou que era "ilusório e perigoso querer impor uma mudança de regime do exterior". "Cabe ao povo decidir seu próprio destino", afirmou.

Em meio a isso, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, falou para os participantes de um fórum econômico em São Petesburgo, cidade russa, que está preocupado com o "muito e crescente potencial para conflitos no mundo".

A declaração foi feita ontem, mesmo dia em que as Forças Armadas do Irã lançaram um novo ataque com mísseis balísticos contra Israel — e que o Exército israelense anunciou o bombardeio de lançadores de mísseis no sudoeste do país iraniano.

O presidente russo declarou que a Rússia não estaria considerando ser mediadora no conflito entre Irã e Israel, porém destacou que o país tem mantido contato com todas as partes envolvidas. "Temos nossas propostas, e estamos prontos para compartilhá-las", afirmou Putin, sem dar detalhes.

Segundo ele, é preciso dialogar para conter os riscos de agravamento da crise. "É preciso evitar uma escalada, sentar-se à mesa de negociações e buscar uma solução aceitável para todos", afirmou. Segundo ele, "ações impulsivas podem levar a consequências imprevisíveis, inclusive para aqueles que acham que estão no controle".

“É preocupante. Estou falando sem ironia, sem brincadeiras. Claro que há muito potencial de conflito, ele está crescendo, e está bem diante de nossos olhos, e nos afeta diretamente”, disse Putin. (Com Mariana Lopes)

 

Terremoto de magnitude 5,1 abala norte do Irã

Um abalo sísmico de magnitude 5,1 abalou o norte do Irã nesta sexta-feira, 20, de acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), em plena guerra
com Israel.

O terremoto ocorreu a 10 quilômetros de profundidade e cerca de 37 quilômetros a sudoeste da cidade de Semnan, acrescentou
o USGS.

A agência de notícias iraniana Tasnim relatou por sua vez uma magnitude de 5,2 e a IRNA disse que não foram registradas vítimas e que houve "danos mínimos".

De acordo com a televisão estatal, o sismo foi de magnitude 5,5 e "sacudiu os arredores da cidade de Sorjé, na província de Semnán".

O tremor também foi sentido na capital, Teerã, a cerca de 150 quilômetros de Sorkheh, indicou a mesma
fonte. (AFP)

Órgão alerta sobre catástrofe nuclear em caso de ataque à usina

Um ataque contra a usina de Bushehr no Irã poderia causar uma catástrofe nuclear, alertou nesta sexta-feira, 20, no Conselho de Segurança da ONU o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), após afirmar que não foram detectadas emissões de radiação pelos bombardeios de Israel, mas o "perigo" existe.

Após oito dias de ataques israelenses, principalmente contra as infraestruturas nucleares para impedir que a República Islâmica se dote de uma arma atômica, não foram registradas "emissões de radiação que afetem a população", mas o "perigo" existe, disse Rafael Grossi.

Especialmente se a usina de Bushehr for bombardeada, advertiu após apresentar um relatório dos danos sofridos pelas estruturas nucleares e os riscos dos bombardeios iniciados por Israel em 13 de junho, e que os iranianos responderam com o lançamento de drones e mísseis contra o território israelense.

"Trata-se da planta nuclear no Irã onde as consequências de um ataque poderiam ser mais graves" já que é uma usina nuclear em funcionamento que "abriga milhares de quilogramas de material nuclear", afirmou.

Um ataque a esta usina "poderia provocar uma liberação muito elevada de radioatividade" a "centenas de quilômetros" e poderia requerer "restrições alimentares", acrescentou.

Portanto, Grossi pediu à "máxima moderação" das partes em conflito e lembrou que é de "vital importância permitir que os inspetores da agência verifiquem que todos os materiais relevantes sejam devidamente considerados, especialmente os enriquecidos a 60%".

"Além dos potenciais riscos radiológicos, ataques contra esses materiais dificultariam esse esforço", afirmou.

As hostilidades deixaram pelo menos 224 mortos no Irã e 25 em Israel, que também matou vários responsáveis militares e cientistas iranianos e danificou sua infraestrutura nuclear.

Pouco antes, no mesmo fórum, o secretário-geral da ONU, António Guterres, havia pedido para dar uma "oportunidade à paz" enquanto em Genebra (Suíça) começou o diálogo sobre o programa nuclear do Irã entre o chefe da diplomacia iraniana e seus homólogos da União Europeia, França, Alemanha e Reino Unido. (AFP)

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