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Anúncio de cessar-fogo ao final de dia de agressões
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Anúncio de cessar-fogo ao final de dia de agressões

Israel fez nova ofensiva e Teerã atacou base dos EUA. Ao final do dia, Trump anunciou cessar-fogo, que Israel não comentou e Irã não confirmou, embora diga não ter intenção de prosseguir com ataques se Israel também parar
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COLUNA de fumaça após ataques israelenses a Teerã em 23 de junho de 2025  (Foto: UGC / AFP)
Foto: UGC / AFP COLUNA de fumaça após ataques israelenses a Teerã em 23 de junho de 2025

Ao final de um novo dia de hostilidades, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que Irã e Israel acordaram um cessar-fogo a partir desta terça-feira, 24, que traria o "fim oficial" do conflito.

"Foi plenamente acordado entre Israel e Irã que haverá um CESSAR-FOGO total e completo", publicou Trump na plataforma Truth Social, na noite da segunda-feira, 23. Israel não fez comentários imediatos. Teerã disse não haver, ainda, acordo de cessar-fogo, mas informou não ter "intenção" de continuar ataques se Israel "cessar a agressão".

Conforme Trump, o cessar-fogo começaria por volta das 4h GMT desta terça — meia noite no horário de Washington DC e 1 hora em Brasília. A partir deste momento, o Irã deve interromper unilateralmente todas as operações. Israel faria o mesmo 12 horas depois.

"Na 24ª hora, um fim oficial da guerra de 12 dias será saudado pelo mundo", indicou o presidente dos Estados Unidos, acrescentando que os dois lados concordaram em permanecer "pacíficos e respeitosos" durante cada fase do processo.

Horas antes da entrada em vigor do cessar-fogo, já na madrugada desta terça, 24, no fuso horário local, nova série de fortes explosões sacudiu Teerã, segundo jornalistas da AFP presentes na capital iraniana.

Aviões militares sobrevoavam a cidade quando as explosões sacudiram o norte e o centro de Teerã, por volta das 3 horas locais (20h30min de segunda-feira em Brasília).

Na segunda-feira, 23, o Irã anunciou ter lançado mísseis contra a base americana de Al Udeid, no Catar, a maior dos Estados Unidos no Oriente Médio, em resposta a bombardeios contra instalações nucleares iranianas. Doha informou que interceptou os projéteis.

Trump classificou a resposta como "muito fraca". "Quero agradecer ao Irã por avisar antecipadamente, o que permitiu que não houvesse perdas de vidas nem que ninguém fosse ferido", acrescentou em uma mensagem publicada na plataforma Truth Social.

O Catar especificou que a base havia sido evacuada e afirmou que interceptou os projéteis lançados contra a base militar, a maior que os americanos têm no Oriente Médio.

"Em resposta à ação agressiva e insolente dos Estados Unidos contra os sítios e instalações nucleares do Irã, as forças armadas poderosas da República Islâmica atacaram a base aérea americana de Al Udeid", informou o Conselho de Segurança Nacional iraniano.

Teerã afirmou ter lançado seis mísseis contra a base americana, o mesmo número de bombas que os Estados Unidos usaram ao atacar as instalações nucleares do Irã.

Nos ataques de sábado à noite, os Estados Unidos atingiram uma usina subterrânea de enriquecimento de urânio em Fordo e instalações nucleares em Isfahan e Natanz.

Segundo o Pentágono, esses bombardeios "devastaram o programa nuclear iraniano". No entanto, a extensão dos danos ainda é impossível de avaliar, indicou o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi.

"Talvez o Irã possa agora avançar em direção à paz e à harmonia na região, e com entusiasmo incentivarei Israel a fazer o mesmo", comentou também o presidente dos Estados Unidos.

Mas o chanceler iraniano, Abbas Araqchi, declarou que o Irã está "preparado para responder novamente" a qualquer ataque americano. O porta-voz do exército israelense, Effie Defrin, afirmou que os disparos do Irã no Catar provam que Teerã representa uma ameaça para "todo o mundo".

Por sua vez, o secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou o ataque contra a base militar americana e reiterou às partes que "ponham fim aos confrontos".

O exército de Israel pediu que os moradores de Teerã se mantivessem afastados de bases militares, e advertiu que continuará com bombardeios.

Na noite de segunda-feira, o Irã pediu aos residentes de Ramat Gan, próximo a Tel Aviv, que abandonem a área.

Os ataques israelenses atingiram centros de comando da Guarda Revolucionária, exército ideológico do Irã, e a prisão de Evin, onde houve danos, segundo o Poder Judiciário. O local abriga presos políticos, opositores e alguns detidos ocidentais.

Israel também informou ter feito bombardeios para "bloquear as vias de acesso" à instalação de Fordo, ao sul de Teerã.

Desde o último dia 13, Israel atacou centenas de bases militares e instalações nucleares, e matou altos funcionários e cientistas.

O Irã nega querer fabricar armas atômicas, mas defende seu direito de desenvolver um programa nuclear civil. Israel, que nunca disse abertamente se tem armas nucleares, possui 90 ogivas, segundo o Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo.

Segundo a AIEA, o Irã enriquece urânio a 60%, e para fabricar uma bomba atômica é necessário enriquecê-lo a 90%. Ainda assim, a agência da ONU afirma que não detectou a existência de um "programa sistemático" para produzir uma arma nuclear.

Alguns especialistas acreditam que o material nuclear foi transferido para outro lugar antes do ataque, e Teerã afirma que ainda possui reservas de urânio enriquecido.

Desde o começo da guerra, o Irã tem respondido com o lançamento de mísseis e drones contra Israel, e pode retaliar fechando o Estreito de Ormuz, por onde passam 20% da produção mundial de petróleo. A Casa Branca afirmou que os Estados Unidos "monitoram ativamente a situação" nessa zona. (AFP)

Onde estáo urânio iraniano? A grande incógnita após o ataque americano

Muitas perguntas seguem sem resposta, especialmente sobre o paradeiro do estoque de urânio enriquecido a 60%.

Onde está o urânio enriquecido?

Os bombardeios tiveram como alvos três instalações-chave onde oficialmente se processa o urânio enriquecido: Fordo, Natanz e Isfahan, onde foram constatados danos significativos.

A AIEA, organismo de controle nuclear da ONU, está preocupada com as reservas de 408,6 kg de urânio enriquecido a 60%, que seu pessoal viu pela última vez em 10 de junho. Esse volume, se fosse enriquecido a 90%, poderia teoricamente servir para fabricar mais de nove armas nucleares.

As inquietações aumentaram quando, em 13 de junho — quando Israel lançou os ataques contra o Irã —, o chefe da diplomacia iraniana, Abbas Araqchi, enviou uma carta à AIEA informando que haviam sido implementadas "medidas especiais para proteger os equipamentos e o material nuclear".

Imagens de satélite mostram a movimentação de veículos perto de um dos acessos subterrâneos de Fordo antes do ataque americano. Visto que o urânio enriquecido é armazenado em pó dentro de recipientes, pode ser facilmente transportado em um veículo.

Se efetivamente foi removido, "será difícil, se não impossível, rastrear sua localização", explicou Kelsey Davenport, especialista da Arms Control Association.

O Irã ainda pode conseguir a bomba nuclear?

Muitas centrífugas que o Irã teria foram danificadas. No entanto, nem todas estão registradas. Algumas foram armazenadas em locais desconhecidos, no contexto de deterioração na cooperação com a AIEA, segundo especialistas. "Com urânio enriquecido a 60% e poucas centenas de centrífugas, o Irã ainda pode desenvolver rapidamente uma arma nuclear", alertou Davenport.

Quais os riscos de proliferação?

Antes do conflito, a AIEA não tinha detectado indícios de um "programa sistemático" para produzir uma arma nuclear e o Irã sempre negou ter tais intenções. Mas atualmente a Agência não tem nenhuma visibilidade. Se prosseguirem as hostilidades, "o regime de não proliferação tal como o conhecemos poderia desmoronar", advertiu o diretor da AIEA, Rafael Grossi.

O Irã, que em 1970 assinou o Tratado de Não Proliferação (TNP), comprometendo-se a usar a energia atômica com fins pacíficos sob o controle da AIEA, começou a preparar o terreno para uma possível retirada, multiplicando as acusações contra a Agência.

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