A deputada federal e ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, tem criticado os rumos do PT às vésperas do Processo de Eleições Diretas (PED). Em entrevista nesta terça-feira, 2, em Brasília, a parlamentar voltou a citar o número de filiações "completamente fora do normal” na legenda no Ceará e em Fortaleza.
Ela atribui a situação a uma "ação orquestrada" por agentes externos ao petismo, que, conforme expõe, usaram de estruturas de governo para garantir maioria. “Em quatro meses, foram filiados mais de 15 mil novos do PT [em Fortaleza]. Isso é uma coisa inacreditável”, afirma Luizianne.
Segundo a deputada, o número é comparável ao volume de filiações feitas durante os oito anos em que esteve à frente da Prefeitura de Fortaleza.
Luizianne prossegue: “Eu passei 36 anos construindo um partido que agora querem só 'lapar' como um partido igual aos outros. Isso é muito duro”, diz ela, que atualmente integra o diretório nacional do PT.
Apesar das críticas, Luizianne menciona possibilidade de acordo até a votação, marcada para o próximo domingo, 6. "Para não dizer que não falei das flores, não quer dizer que as discussões estejam encerradas. Até domingo, nós vamos estar conversando. É possível ter acordo, sempre é possível. No PT sempre é possível brigar, sempre é possível ter acordo".
“Agora, dentro de questões que são muito importantes para nós, porque se é importante a gente dizer que partido a gente quer, foi importante essas candidaturas para isso, inclusive”, continua.
A ex-prefeita apoia as candidaturas das vereadoras Mari Lacerda e professora Adriana Almeida para, respectivamente, as presidências municipal e estadual do PT.
Do outro lado, concorre o ex-deputado Antônio Carlos para Fortaleza, com apoio de nomes ligados ao ministro Camilo Santana (Educação) e governador Elmano de Freitas; e do atual presidente do PT Ceará, o Conin, que tenta reeleição com apoio do líder do governo Lula na Câmara, deputado José Guimarães. Antônio Carlos já foi muito próximo a Luizianne.
É nesse cenário que Luizianne, que já foi presidente do PT no Estado e na Capital, diz que “nunca foi da maioria” dentro do partido, mas sempre manteve suas posições.
“É muito mais fácil se agarrar com a maioria para conseguir o que você quer. Mas sempre fui minoria, porque eu não queria abrir mão das minhas posições políticas, do que eu penso sobre governos, sobre partido". Para ela, "isso é o que diferencia o PT de outros” partidos.
Luizanne também demonstra incômodo com o uso da máquina pública como base de articulação partidária.
“Uma coisa é você brigar com petista. Outra coisa é você lidar com seres estranhos ao partido, que fizeram filiações estranhas ao partido, que prestaram conta com pessoas estranhas ao partido para poder fazer maioria”.
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Apesar das divergências, a ex-prefeita afirma que segue disposta ao diálogo. “Tem conversa? Tem. Todo dia tem proposta”, revela. Questionada sobre a possibilidade de o PED deixar traumas para o partido, Luizianne minimiza.
“Olha, se fosse trauma, estava todo mundo traumatizado, porque só o que tem é divergência dentro do PT e a gente vive com trauma e sem trauma. Ainda bem que nós temos esses respiros dentro do PT. Talvez por isso eu ainda esteja no partido”.
Na avaliação dela, o saldo da votação só será possível após o processo. “O PT, em geral, quando termina as divergências, todo mundo vai numa estratégia, isso é fato. Agora, ninguém sabe o que é que vai sobrar desse processo todo, que PT vai sair das urnas do PED. A partir daí é que a gente vai discutir se vai, se é possível, se não é possível”.
E continua: "É sempre possível conversar até o último momento, mas é importante também sinalizar para sociedade que existe pensamento diferente. No final das contas, se a gente não está mais disputando o PT por causa desse enxame de filiação, nós temos que disputar a sociedade".
Com informações de João Paulo Biage, correspondente do O POVO em Brasília