Quando o telefone toca antes das 8 horas da manhã, não existe ateu e meu coração até palpitou quando o celular vibrou insistentemente às 7 horas. Era uma amiga de cobertura do Congresso Nacional. "João, tá rolando operação da Polícia Federal no gabinete do deputado Junior Mano, você conhece? Pode me ajudar?". Pulei da cama, passei um café, tomei um banho e pulei no carro de aplicativo rumo ao Anexo 4 da Câmara dos Deputados.
Quando cheguei, três equipes de reportagem já estavam no corredor onde fica o gabinete. Trocamos informações e esperamos. Às 9h30min, uma movimentação chamou a atenção. Uma equipe técnica da Câmara dos Deputados chegou com uma escada e uma bolsa com equipamentos. Passaram direto pela barreira feita pela PF e rumaram para o gabinete 807.
Esperamos, esperamos e esperamos. Esperamos mais um pouco, até que surge uma assessora do gabinete 809. "Vocês querem água?". A resposta positiva foi seguida da entrega de 4,5 litros para as equipes. A boa ação foi feita pela equipe de Moses Rodrigues (União Brasil-CE), vizinho de Junior Mano na Câmara.
A incursão da PF continuou até que, sem ninguém conseguir gravar, 6 horas depois do início da operação, três policiais saem com malotes do gabinete. Em 6 segundos, todos saíram de uma porta e entraram em outra, do lado. De lá, desceram para o subsolo, onde rumaram para a sede da corporação.
Assim que saíram, entrei no gabinete. A curiosidade me matava: por que a demora? Por que a escada? O forro em gesso estava intacto. Segundo o único assessor que me recebeu, usaram a escada para verificar dentro das luminárias. Não respondeu o que encontraram lá e o que levaram. Sobre a demora, sem respostas. A PF demorou 4 horas para vasculhar o gabinete do senador Marcos do Val, que é três vezes maior que o de Junior Mano.
Por falar no deputado, ele estava em Brasilia, no apartamento funcional quando a PF chegou. Recebeu os policiais e ficou por lá durante toda a operação. Ele não quis responder às dúvidas da coluna e, em nota, negou qualquer irregularidade.
João Paulo Biage, correspondente O POVO em Brasília