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Trump declara guerra comercial contra o Brasil em defesa de Bolsonaro
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Trump declara guerra comercial contra o Brasil em defesa de Bolsonaro

O presidente brasileiro afirmou que responderá com reciprocidade. A carta de Trump anunciou que, se o Brasil aumentar tarifas, os Estados Unidos acrescentarão o índice à cobrança
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PRESIDENTE Lula reuniu ministros e respondeu que o Brasil adotará reciprocidade (Foto: Evaristo Sá/AFP)
Foto: Evaristo Sá/AFP PRESIDENTE Lula reuniu ministros e respondeu que o Brasil adotará reciprocidade

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que produtos importados do Brasil pagarão 50% de imposto a partir de 1º de agosto. Trata-se, segundo o ocupante da Casa Branca, de retaliação ao julgamento de Jair Bolsonaro (PL).

O republicano argumentou que o nível da taxa se dá por ordens judiciais que "censuram" mídias sociais americanas e inibem a liberdade de expressão de cidadãos dos EUA. Segundo Trump, esses ataques do Brasil partem do Supremo Tribunal Federal (STF).

No documento publicado na Truth Social, o presidente pontua a cláusula de retaliação e ameaça elevar ainda mais as tarifas caso o países responda com medidas semelhantes. "Se por qualquer razão vocês decidirem aumentar suas tarifas, o valor que escolherem será somado ao valor que cobramos", diz o texto.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por sua vez, informou que o Brasil responderá pela "lei de reciprocidade" caso se cumpra a ameaça de impor sobretaxas de 50% sobre produtos brasileiros.

Trump é conhecido por demonstrar solidariedade aos aliados, como o ex-presidente Bolsonaro, com quem manteve uma relação estreita durante o primeiro mandato na Casa Branca (2017–2021), e por atacar aqueles que considera seus rivais. A relação entre o presidente republicano e Lula, por sua vez, é tensa.

O governo brasileiro convocou Gabriel Escobar, atual número um da embaixada dos Estados Unidos no Brasil, para pedir explicações sobre uma nota da missão diplomática que descreve Bolsonaro, julgado por tentativa de golpe de Estado, como vítima de "perseguição política".

O Itamaraty afirmou que a manifestação da embaixada é "uma intromissão indevida em assuntos internos" do Brasil, declarou uma fonte da chancelaria.

A milhares de quilômetros de Brasília, Trump contra-atacou com uma de suas armas prediletas: as tarifas, em uma carta destinada a Lula e publicada em sua plataforma Truth Social.

"A forma como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro (...) é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar acontecendo", escreveu Trump. "É uma caça às bruxas que deve terminar IMEDIATAMENTE", acrescentou.

"Devido em parte aos ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos (...) cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todos e quaisquer produtos brasileiros enviados aos Estados Unidos", publicou Trump.

A sobretaxa é independente das tarifas setoriais, como os 50% já impostos ao aço e ao alumínio. O Brasil é o segundo maior fornecedor de aço para os Estados Unidos.

O presidente republicano afirmou ainda que ordenará ao representante comercial, Jamieson Greer, que abra "imediatamente uma investigação" sobre o Brasil. Ele o faz, diz, pelos "ataques contínuos do Brasil às atividades de comércio digital de empresas americanas, bem como por outras práticas comerciais desleais".

Trump parece fazer alusão a uma decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que ordenou o bloqueio da plataforma Rumble.

O magistrado criticou a plataforma de compartilhamento de vídeos, popular entre grupos conservadores, por se recusar a bloquear a conta de um usuário residente nos Estados Unidos procurado por disseminar desinformação.

Na segunda-feira, Trump já havia recorrido às redes sociais para afirmar que Bolsonaro é alvo de "uma caça às bruxas" e pedir às autoridades brasileiras que deixassem o ex-presidente "em paz".

Lula, que derrotou Bolsonaro por margem estreita nas eleições de 2022, rejeitou a "interferência" de Trump e afirmou que o Brasil é "um país soberano".

O ex-presidente Bolsonaro é acusado de liderar uma "organização criminosa" que planejou um golpe de Estado para se manter no poder após a derrota nas urnas. Bolsonaro, que nega as acusações de golpismo, pode ser condenado a até 40 anos de prisão se for considerado culpado.

O ex-mandatário, que já está inelegível até 2030 por ter questionado sem provas a confiabilidade do sistema eleitoral, disse ter recebido "com grande alegria a nota do presidente Trump".

Um de seus filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL/RJ), fixou residência meses atrás nos Estados Unidos, onde conduz uma campanha para conseguir apoio do governo americano ao pai.

Trump tem o Brasil na mira por outros motivos. O republicano acusa o Brics — grupo do qual o Brasil é fundador — de manter "políticas antiamericanas" e ameaça impor tarifas adicionais de 10% aos países que se alinharem ao bloco.

Lula rejeitou essas declarações durante uma cúpula do bloco de países emergentes realizada na segunda-feira no Rio de Janeiro. "Não queremos imperador", afirmou.

Considerados um contrapeso ao poder dos Estados Unidos e da Europa Ocidental, o Brics expressou sua "séria preocupação" com medidas tarifárias unilaterais que "distorcem o comércio" mundial. O grupo evitou, no entanto, mencionar Trump ou os Estados Unidos. (AFP)

Lula considera carta ofensiva e manda devolver a Trump

O governo Lula avisou que devolve a carta por meio da qual o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, comunicou a imposição unilateral de tarifas de 50% sobre produtos importados do Brasil.

Na noite de ontem, 9, o encarregado de negócios Gabriel Escobar, chefe da embaixada dos Estados Unidos, foi convocado pela segunda vez no dia a comparecer ao Itamaraty. Ele é a principal autoridade do governo americano no País desde janeiro, quando a ex-embaixadora Elisabeth Bagley voltou aos EUA. Trump nunca indicou novo representante.

A embaixadora Maria Luisa Escorel, secretária de Europa e América do Norte, comunicou a Escobar que o presidente não receberia a carta, divulgada informalmente por Trump na rede Truth Social.

A diplomata quis saber se a carta era autêntica, e o encarregado confirmou que sim, relatam fontes familiarizadas com a conversa. Isso ocorreu pelo método considerado "pouco ortodoxo" na diplomacia de publicar o documento antes que chegasse ao destinatário

Escorel afirmou que a carta era "ofensiva" e apontou que havia "afirmações inverídicas" e "erros factuais" a respeito da relação comercial bilateral. Trump citou um déficit na balança, quando na verdade os EUA têm superávit com o Brasil.

O presidente Lula anunciou que "qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica".

A resposta de Lula foi divulgada após o presidente realizar reunião de emergência com o vice-presidente Geraldo Alckmin, ministro da Indústria, Comércio e Serviços, e os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e das Relações Exteriores, Mauro Vieira. (Agência Estado)

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