O mês passado foi o junho mais quente já registrado na Europa Ocidental, com temperaturas "extremas" que assolaram o continente durante duas ondas de calor consecutivas e precoces, anunciou nesta quarta-feira, 9, o serviço europeu Copernicus.
No mundo, o mês passado foi o terceiro junho mais quente, atrás de junho de 2024 e quase no mesmo nível de junho de 2023, segundo o Copernicus, que registrou pelo terceiro ano consecutivo uma série de temperaturas médias nunca vistas antes nos anais, enquanto o planeta aquece devido às emissões humanas de gases do efeito estufa.
O mês de junho de 2024 teve uma média de +0,2°C, enquanto o de 2023 foi +0,06°C mais quente, o segundo registro mais importante.
Segundo os cálculos com base nos dados do Copernicus, 12 países e aproximadamente 790 milhões de habitantes do planeta vivenciaram seu mês de junho mais quente em 2025. Este foi o caso do Japão, das Coreias do Norte e do Sul, bem como de Paquistão e Tajiquistão.
Cientistas afirmam que é incomum o calor atingir a Europa tão cedo na temporada de verão, mas entendem que as mudanças climáticas estão tornando esses eventos raros muito mais frequentes. Neste ano, recordes já foram quebrados em diversos países do continente.
Monumentos históricos como a Torre Eiffel também estão interrompendo a visita de turistas. A capital francesa decretou o primeiro "alerta vermelho" em cinco anos. Já na Alemanha, a Catedral de Colônia passou a ser usada por turistas como refúgio para calor.
Na terça-feira, 8, a Acrópole de Atenas fechou para o público durante as horas mais quentes do dia devido às elevadas temperaturas que afetam a Grécia. Com previsões de até 42°C em algumas partes do norte e centro da Grécia, as autoridades também proibiram os trabalhos ao ar livre entre 12 e 17 horas em algumas regiões.
A medida se aplica ao setor de construção, assim como aos entregadores que trabalham de bicicleta ou patinete, sob pena de uma multa de 2.000 euros (R$ 13 mil).
A desilusão era visível nos rostos dos turistas que não poderão visitar o famoso Partenon da Acrópole de Atenas, por decisão das autoridades da capital, onde os termômetros podem alcançar até 38 °C.
Além do risco à saúde, um estudo da Allianz Research identificou que a baixa preparação para o calor extremo pode causar perdas econômicas significativas. Países como Espanha, Itália, Grécia e China podem ter PIB reduzido entre 1,0 e 1,4 ponto percentual em 2025, enquanto nos Estados Unidos e na Europa a redução média esperada é de 0,6 e 0,5 ponto, respectivamente.
O estudo compara os efeitos das ondas de calor aos das greves, indicando que um dia com temperaturas acima de 32°C equivale a meio dia de paralisação econômica.
Os cientistas afirmam que as ondas de calor se tornam mais intensas nas cidades, onde ocorrem os fenômenos conhecidos como "domo de calor urbanos", que provocam o aumento das temperaturas.
"As ondas de calor na região mediterrânea se tornaram mais frequentes e intensas nos últimos anos, com picos de 37º C ou mais nas cidades, onde o efeito da ilha de calor urbano eleva ainda mais as temperaturas", afirmou Emanuela Piervitali, pesquisadora do Instituto Italiano de Proteção e Pesquisa Ambiental (ISPRA).
"No futuro, espera-se que as temperaturas e os extremos térmicos aumentem ainda mais, portanto, teremos que nos acostumar com picos de temperatura ainda mais altos do que os atuais", disse ela.
Em Portugal, várias áreas na região sul do país, incluindo a capital, Lisboa, tiveram alerta vermelho no fim de junho passado devido à possível "persistência de valores de temperatura máxima extremamente altos", de acordo com o site do IPMA, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera.
"Aconselhamos as pessoas a se refrescarem, mas ainda tivemos casos de insolação e queimaduras", disse a farmacêutica Sofia Monnteiro à AFPTV.
"A onda de calor está especialmente forte este ano. É difícil de suportar, paramos muitas vezes, bebemos, assim temos a chance de tomar um drinque, uma boa cerveja! É uma boa desculpa", disse o biólogo francês Cédric Gérard, um turista em visita a Lisboa.
Ao mesmo tempo, no fim de junho, rajada incomum de ar frio vinda da Antártida atingiu o Uruguai, causando a morte de pelo menos sete moradores de rua e levando as autoridades a declarar estado de emergência enquanto se mobilizavam para abrir abrigos.
A frente polar despejou pela primeira vez uma massa de clima congelante sobre o Uruguai no dia 23, chocando a nação costeira acostumada a invernos amenos no Hemisfério Sul.
A neve leve atingiu partes do país pela primeira vez em quatro anos, com temperaturas chegando a -3ºC e sensação térmica bem abaixo disso. Mas a previsão é de aumento das temperaturas em todo o país nos próximos dias.
No Texas, nos Estados Unidos, o número de mortos nas enchentes do fim de semana passado passou de 100, enquanto equipes de resgate continuam as buscas por pessoas arrastadas pela água no estado americano.
Cheias também se tornaram tragédia no Paquistão, onde pelo menos 24 pessoas morreram, a metade crianças, em inundações repentinas ou desabamentos de casas no noroeste do País, no fim de junho, no início da temporada de monções.
O Paquistão é um dos países mais vulneráveis do mundo às consequências da mudança climática. Os 240 milhões de habitantes estão sofrendo cada vez mais com eventos climáticos extremos.
Na Venezuela, vilarejos nos Andes foram arrasados pelas chuvas. O rio Chama atravessou vários vilarejos no estado de Mérida, no oeste do país, com um exército de pedras e troncos carregados pela correnteza. Primeiro contra o turístico Apartaderos, depois veio Escagüey, localizado a 35 km de distância. Cerca de 270 famílias foram afetadas e duas pessoas morreram, de acordo com os números oficiais.
Os estados andinos de Táchira e Trujillo e os estados das planícies de Barinas e Portuguesa também foram afetados pelas chuvas, embora em menor escala do que Mérida.
Várias comunidades ficaram isoladas, sem eletricidade ou água. Nas estradas, pontes caíram e estradas foram destruídas. As autoridades registraram 370 casas afetadas, 103 declaradas como perda total. (AFP e DW)
Metade do mundo vivenciou um mês extra de calor extremo
Metade da população mundial sofreu um mês adicional de calor extremo no ano passado devido à mudança climática induzida pelo ser humano, revelou um estudo publicado no fim de maio.
As descobertas ressaltam como a queima contínua de combustíveis fósseis prejudica a saúde e o bem-estar em todos os continentes, com efeitos particularmente subestimados nos países em desenvolvimento, disseram os autores.
"Com cada barril de petróleo queimado, cada tonelada de dióxido de carbono liberada (na atmosfera) e cada fração de grau de aquecimento, as ondas de calor afetarão mais pessoas", disse Friederike Otto, climatologista do Imperial College de Londres e coautora do relatório.
A análise é do grupo acadêmico World Weather Attribution, da ONG Climate Central e do Centro Climático da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.
Para avaliar a influência do aquecimento global, os pesquisadores analisaram o período entre 1º de maio de 2024 e 1º de maio de 2025. Eles definiram "dias de calor extremo" como aqueles em que as temperaturas ultrapassaram 90% das registradas em um determinado local entre 1991 e 2020.
Utilizando um modelo revisado por pares, eles compararam o número desses dias com um mundo simulado sem aquecimento antropogênico.
Os resultados foram impressionantes: 49% da população mundial vivenciou pelo menos 30 dias adicionais de calor extremo.
A equipe identificou 67 episódios de temperaturas extremas durante o ano e encontrou a marca da mudança climática em todos. A ilha caribenha de Aruba foi a mais atingida, com 187 dias de calor extremo, 45 a mais do que o esperado.
O estudo foi realizado após um ano de temperaturas globais recordes: 2024 foi o ano mais quente já registrado e janeiro de 2025 foi o janeiro mais quente.
Em uma média de cinco anos, as temperaturas globais estão agora 1,3 °C acima dos níveis pré-industriais e, somente em 2024, ultrapassaram o limite simbólico de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris.
Os autores enfatizaram a necessidade de sistemas de alerta precoce, educação pública e planos de ação contra o calor adaptados para as cidades. Eles também consideraram essencial aprimorar o projeto dos edifícios e evitar atividades extenuantes durante os horários de pico de calor.
Mesmo assim, a adaptação por si só não será suficiente. A única maneira de deter a crescente gravidade e frequência do calor extremo é eliminar rapidamente os combustíveis fósseis, alertaram os autores.
Oceanos sofrem com poluição climática
Os oceanos absorveram até agora a grande maioria do aquecimento causado pela queima de combustíveis fósseis e protegeram as sociedades do impacto total das emissões de gases de efeito estufa.
Mas esse aliado crucial mostra sintomas alarmantes de estresse: ondas de calor, desaparecimento da vida marinha, aumento do nível do mar, diminuição do nível de oxigênio e acidificação causada pela absorção do excesso de dióxido de carbono.
Esses efeitos colocam em risco não só a saúde do oceano, mas do planeta.
Os mares mais quentes podem fazer com que as tempestades sejam mais violentas, já que se alimentam do calor e da água evaporada.
O aquecimento da água pode ser devastador para as espécies, especialmente para os corais e as pradarias marinhas, que não conseguem migrar. No caso dos corais, espera-se que entre 70% e 90% seja perdido neste século se o mundo alcançar um aquecimento de 1,5º C em comparação com os níveis pré-industriais.
Os cientistas esperam que esse nível — o objetivo mais ambicioso do acordo climático de Paris — seja superado no início da década de 2030, ou, até mesmo, antes.
Cerca de 230 milhões de pessoas no mundo vivem a menos de um metro sobre o nível do mar, vulneráveis a inundações e tempestades. "O aquecimento oceânico, assim como o aumento do nível do mar, se tornou um processo incontornável", disse Melet. (AFP)
Nevou no Atacama, deserto mais árido do mundo
A neve cobriu parte do deserto do Atacama, o mais árido do mundo, onde está instalado o observatório Alma, no norte do Chile, informou o centro astronômico em 26 de junho passado.
A neve caiu sobre o Centro de Apoio a Operações (OSF, na sigla em inglês), o acampamento base e outras instalações localizadas a 2,9 mil metros de altitude e cerca de 1,7 mil km ao norte de Santiago.
O observatório astronômico Grande Conjunto Milimétrico/Submilimétrico do Atacama (Alma, na sigla em inglês) é o radiotelescópio mais potente do mundo.
"O deserto do Atacama amanheceu NEVADO! Fenômeno que não se via há dez anos", postou o Alma em sua conta no X.
Nevascas como esta são pouco frequentes, mas é muito cedo para assegurar que sejam causadas pelas mudanças climáticas, disse o climatologista Raúl Cordero.
No entanto, "os modelos climáticos sugerem que este tipo de evento, isto é, precipitações no deserto do Atacama, deveriam aumentar com o tempo", destacou.
Embora não tenha nevado na última década no Centro de Operações, o Alma explicou em nota que a neve cai regularmente "na planície de Chajnantor", onde estão instaladas as antenas do radiotelescópio.
O Alma faz parte de um esforço conjunto entre o Observatório Europeu do Sul, a Fundação Nacional de Ciência dos Estados Unidos e os Institutos Nacionais de Ciências Naturais do Japão.
Tensões globais afetam os preparativos da COP30, mas 'o fracasso não é uma opção'
A COP30, que acontecerá em novembro no Brasil, gera grandes expectativas em um momento crucial para o planeta, mas os preparativos foram ofuscados por conflitos devastadores e pela saída dos Estados Unidos dos mecanismos de cooperação internacional.
O Brasil, como país anfitrião, ainda não apresentou uma proposta de objetivo principal para as negociações complexas de novembro na cidade de Belém, o que gera o temor de que a conferência sobre o clima da ONU termine sem resultados significativos.
Os preparativos foram prejudicados por guerras em três continentes e pela saída de Washington dos mecanismos de cooperação nas áreas do clima, comércio e saúde.
E desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs organizar as negociações climáticas na região da Amazônia, as expectativas diminuíram, embora o mundo se aproxime rapidamente do limite crítico para o aquecimento global.
As reuniões preparatórias, organizadas pela ONU na cidade alemã de Bonn, ressaltaram nesta semana uma série de disputas, incluindo questões financeiras, que aumentam a incerteza sobre os resultados da COP30.
E, embora o Brasil seja um negociador climático habilidoso, "o contexto internacional nunca foi tão ruim", disse Claudio Angelo, da organização brasileira Observatório do Clima.
No atual contexto, a ex-secretária executiva da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, a mexicana Patricia Espinosa, afirmou que o Brasil pode ter que se contentar com "pequenos avanços".
"Uma das principais mensagens que deve sair da COP30 é a unidade de todos ao redor do multilateralismo e da cooperação internacional. Não conseguir isso significa que todos sofrerão", declarou à AFP.
"O fracasso não é uma opção neste caso", insistiu.
"Sobrevivência"
O sucesso das Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas anteriores foi medido pelos acordos alcançados entre os quase 200 países que participam do evento.
As últimas cúpulas alcançaram acordos históricos, do compromisso mundial de abandonar os combustíveis fósseis até a criação de um fundo especializado para ajudar os países afetados por catástrofes climáticas.
A diretora executiva da COP30, Ana Toni, afirmou que "a maioria dos temas de destaque" surgidos do Acordo de Paris de 2015 sobre mudanças climáticas já foi abordada. E isso deixa o Brasil com um desafio mais difícil: tentar garantir que o acordado seja colocado em prática.
A forma como os países cumprirão a promessa de abandonar os combustíveis fósseis pode se tornar um ponto de tensões.
Claudio Angelo disse esperar que o Brasil defenda a ideia, incluída no plano climático do país, de trabalhar para estabelecer de "calendários" para a transição. Ao mesmo tempo, ele comparou com um ato de "sabotagem" o leilão para exploração de blocos de petróleo na foz do rio Amazonas organizado este mês, justamente quando os negociadores climáticos começaram a trabalhar em Bonn.
Outra prioridade chave para o Brasil é a proteção das florestas, mas, além disso, os líderes da COP30 se concentram principalmente nos assuntos pendentes das reuniões anteriores.
Contudo, as tensões mundiais podem não deixar espaço para muito mais. "Temos que nos concentrar mais em preservar o legado que estabelecemos do que em aumentar a ambição", afirmou Yalchin Rafiyev, principal negociador climático do Azerbaijão, país anfitrião da COP29. (AFP)
Copa
Se o risco de tempestades provocou a interrupção de alguns jogos da Copa do Mundo de Clubes, outro fenômeno climático se tornou protagonista do torneio nos Estados Unidos: o calor sufocante. Foram registrados 40°C na vitória do Benfica sobre o Bayern de Munique
Petrolíferas encaram processo pioneiro por 'homicídio climático'
Em 28 de junho de 2021, a cidade litorânea americana de Seattle registrou a temperatura mais alta de sua história, 42º C. Nesse dia, Juliana Leon, de 65 anos, foi encontrada inconsciente em seu automóvel, e pouco depois morria de hipertermia. Agora a filha, Misti Leon, move processo de homicídio por negligência contra sete companhias de petróleo e gás perante o Tribunal Estadual de Washington, alegando que, ao fabricar e vender esses produtos, elas acelerariam o calor extremo que resultou na morte da mãe.
Da acusação consta que as empresas — entre as quais ExxonMobil, Chevron, Shell e BP — saberiam há décadas "que seus combustíveis fósseis já estavam alterando a atmosfera a Terra". Elas teriam criado intencionalmente uma "economia dependente de combustíveis fósseis" que provoca "desastres meteorológicos mais frequentes e destrutivos, e perda previsível de vida humana".
Uma vitória de Leon no primeiro processo de homicídio por negligência do gênero "representaria um caso emblemático para o litígio climático", afirma Maria Antonia Tigre, diretora para litígio climático global do Sabin Center for Climate Change Law, em Nova York.
Ela observa que, embora pouquíssimos casos desse tipo tenham obtido ressarcimento, um sucesso em Seattle poderá encorajar indivíduos a exigirem "indenização compensatória e até punitiva" de corporações petroleiras por seu papel na mudança climática global.
Além de ressarcimento, a querelante também espera que as empresas acusadas financiem uma campanha de "educação pública" para corrigir "décadas de desinformação" que promoveram "confusão entre os consumidores" quanto à conexão entre a queima de combustíveis fósseis e o aquecimento do planeta.
A Chevron Corporation, uma das maiores fornecedoras de petróleo e gás do mundo, rechaça as acusações. "Explorar uma tragédia pessoal para promover litígio por danos climáticos é contrário ao direito, a ciência e o senso comum", afirmou à emissora pública NPR o porta-voz da empresa, Theodore Boutrous Jr.
"O tribunal deveria acrescentar essa reivindicação implausível à lista crescente de processos climáticos sem mérito já indeferidos por cortes estaduais e federais", criticou. Segundo Tigre, entretanto, o caso "poderia criar uma base inédita, porém plausível, para responsabilização".
A ação é baseada na lei de danos pessoais (tort law, no direito anglo-saxão), e não em estatutos nacionais como as normas de emissões carbônicas, que constituem ponto de partida para a maioria dos litígios climáticos.
Rebekkah Markey-Towler, pesquisadora associada do think tank Melbourne Climate Futures, explica que, no passado, tais processos civis foram um recurso vital para os indivíduos que buscavam compensação perante grandes firmas de tabaco ou amianto.
Em 2024, um cidadão da Pensilvânia obteve indenização de 3,8 milhões de dólares (R$ 21 milhões) de seu empregador por ter contraído mesotelioma devido à exposição a amianto. E ações climáticas "não são diferentes", afirma a jurista.
"As grandes petroleiras já enfrentam processos por fraude e danos climáticos de dezenas de governos estaduais e municipais", observa Alyssa Johl, vice-presidente de aconselhamento legal e geral do think tank Center for Climate Integrity, sediado nos EUA.
Mas, como "primeiro apresentado em nome de uma vítima climática individual", o presente caso representa "mais um passo em direção à responsabilização".
Markey-Towler acredita que ações anteriores por danos climáticos, mesmo em outros países, possam ser "tangencialmente relevantes" para o processo Leon.
Em 2015, na Holanda, um litígio emblemático, conhecido como "caso Urgenda" aplicou o princípio da "negligência culposa" da lei de danos para postular que a inação do governo em relação às mudanças climáticas constituía uma infração de seu dever de salvaguarda para com os cidadãos. A sentença obrigou o governo holandês a elevar as metas de redução de emissões.
Outra tentativa individual de obter ressarcimento por danos do clima partiu de um agricultor peruano, Saúl Luciano Lliuya, que abriu processo contra a gigante de energia RWE, da Alemanha. "Embora o caso não tenha tido sucesso na fase do mérito, a corte reconheceu que, em princípio, um emissor privado pode ser responsabilizado por uma parcela dos danos", comentou Markey-Towler a respeito da audiência final, em maio de 2025.
A ciência da atribuição meteorológica — que estima a probabilidade de as mudanças climáticas aumentarem a probabilidade de eventos extremos, como incêndios florestais, inundações ou ondas de calor – será central no processo sobre a morte de Juliana Leon, explica Tigre.
Considerado um "assassino silencioso", o calor causou uma média de 489 mil mortes por ano entre 2000 e 2019, segundo um relatório de 2024 das Nações Unidas. A onda denominada "cúpula de calor Pacífico Noroeste" — que assolou o litoral oeste dos EUA em 2021, causando 850 mortes no país e no Canadá — teria sido "praticamente impossível" sem a mudança climática por ação humana.
De acordo com uma rápida análise na época, antes as temperaturas recordes, que perduraram por três dias, seriam "pelo menos 150 vezes mais raras". Porém Tigre ressalva que o problema com a queixa de Misti Leon será convencer o tribunal das contribuições específicas das petroleiras para as emissões globais.
Markey-Towler menciona que "argumentos de saúde" estão se tornando comuns nas ações jurídicas relativas ao clima, que já somam quase 3 mil em todo o mundo, segundo o Banco de Dados sobre Litígio Climático do Sabin Center de Nova York.
Caso tenha êxito, o processo Leon em Washington estabeleceria um precedente de jurisprudência, "conectando diretamente as ações das companhias de combustíveis fósseis aos danos sofridos por indivíduos".
Um veredicto positivo poderia ainda se traduzir em respaldo a teorias legais em desenvolvimento, como a de "homicídio culposo climático ou corporativo", que dão o passo de buscar a condenação criminal, em vez de civil, observa Maria Antonia Tigre: "Um precedente destes provavelmente desencadearia uma nova onda de litígios."
Autor: Stuart Braun
Alpes
A neve e o gelo acumulados nos Alpes suíços durante o inverno já derreteram, informou um serviço de monitoramento na sexta-feira (4), sinalizando a chegada antecipada do limite anual crítico no qual as geleiras diminuem. De agora em diante, qualquer derretimento adicional até outubro os reduzirá, de acordo com o serviço suíço de monitoramento de geleiras (Glamos). O limite crítico é geralmente atingido em agosto e a chegada antecipada é mais um golpe para as 1,4 mil geleiras da Suíça, que vêm diminuindo em um ritmo alarmante