A imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros pelo governo de Donald Trump foi recebida com preocupação pelo setor produtivo brasileiro. A avaliação é de que a medida, prevista para entrar em vigor dia 1º de agosto, inviabiliza exportações e traz riscos para a economia nacional.
Diferentemente das cartas enviadas a outros países - de modo geral, mais genéricas - na que foi enviada ao presidente Lula, as justificativas apontadas são, sobretudo, políticas. Ele sai em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, que é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado. Também cita supostos "ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos".
No que diz respeito especificamente às movimentações comerciais, o republicano afirmou que a relação do Brasil é "injusta" com os EUA.
A informação contraria os números do fluxo comercial entre Brasil e EUA. Juntos, os dois países têm um volume de comércio de cerca de US$ 80 bilhões por ano. Ao considerar a balança comercial (exportações menos importações), os Estados Unidos têm superávit de US$ 200 milhões sobre o Brasil.
"Do total das exportações do Brasil, cerca de 15% vão para os Estados Unidos. Mas é importante destacar que é sobretudo produto manufaturado e semimanufaturado. Se isso se mantiver, nós vamos ter desemprego no Brasil, vamos ter uma diminuição da entrada de dólares no país e isso é muito grave", aponta o professor Roberto Goulart Menezes, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do Instituto Nacional dos EUA (INEU).
Dentre os itens mais exportados pelo Brasil, estão o petróleo bruto, minério de ferro, aço, máquinas, aeronaves e produtos eletrônicos. No setor de agronegócio, destaque para o açúcar, café, suco de laranja e carne. Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou ontem não haver fato econômico que justifique a medida dos Estados Unidos.
"Os impactos dessas tarifas podem ser graves para a nossa indústria, que é muito interligada ao sistema produtivo americano. Uma quebra nessa relação traria muitos prejuízos à nossa economia. Por isso, para o setor produtivo, o mais importante agora é intensificar as negociações e o diálogo para reverter essa decisão", avaliou o presidente da CNI, Ricardo Alban.
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) também manifestou preocupação. Em nota, a frente destacou que a medida representa um alerta às relações comerciais e políticas entre os dois países e afeta o agronegócio, citando "impactos no câmbio, no consequente aumento do custo de insumos importados e na competitividade das exportações brasileiras".
O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, destacou que "o anúncio da Casa Branca pode criar uma imagem negativa do Brasil e gerar medo em importadores de outros países de fechar negócios com as nossas empresas, afinal, quem vai querer se indispor com o presidente Trump?", questiona Castro. (com Agência Brasil)