O ex-deputado federal Capitão Wagner (União) e o deputado federal Júnior Mano (PSB) travaram discussão nas redes sociais, com direito a troca de acusações. O debate se iniciou com um vídeo de Wagner, presidente do União Brasil Ceará, sobre a operação da Polícia Federal (PF) que teve como alvo Júnior Mano.
"Não se fala em outra coisa em todo o País. Operação da Polícia Federal aqui no Estado do Ceará", disse Wagner no vídeo, que apesar de não citar nominalmente o parlamentar, exibe imagens do deputado e manchetes sobre o tema. A postagem gerou reação de Júnior Mano, que rebateu nos comentários, desencadeando uma discussão que, posteriormente, envolveu até as esposas dos políticos, ambas com mandatos.
Nos comentários da publicação, Mano rebateu falando para Wagner ir atrás de votos e dizendo que o ex-deputado age "igual um palhaço" na rede social, além de acusá-lo de usar as emendas da esposa, a deputada federal Dayany Bittencourt (União).
"Vai atrás de votos, capitão com o povo, porque o teu discurso de rede social não cola mais… todo mundo sabe que tu tá igual um palhaço na rede social. E outra, todo mundo sabe o que tu anda fazendo com as emendas da mulher, depois da tua época. Senado tá chegando, recalcado. Abraços", declarou Júnior Mano.
Wagner então o respondeu: "Pegou ar?! Se explique para a Justiça! Não faço aliança com integrantes de facção… Se eu tivesse medo de ameaça de bandido não teria escolhido ser policial. Não tenho medo de ameaça de cidadão, nem de bandido", disparou Wagner.
Júnior Mano ainda chegou a responder com uma série de falas como: "Deixe de bancar o moralista" e também dizendo não ter medo de homem. "Tu sabe pra onde vai tuas emendas. O que tu fez com tuas emendas, Capitão, não apague. Eu não tenho medo de homem não! Ainda mais um falso moralista como você, todo mundo te conhece", disse Mano.
As esposas de ambos os políticos entraram na discussão. Giordanna Mano (PRD), prefeita de Nova Russas, distante 304,39 km de Fortaleza, e esposa de Júnior, também respondeu Wagner, falando que ele não teria votos nem pra ser eleito vereador, chamando-o de "blogueirinho" e o acusando de fazer mídia colocando câmeras no apartamento da sua cônjuge.
A prefeita fez referência a um episódio, de 2024, em que câmeras escondidas foram encontradas em diversos locais do apartamento, inclusive no banheiro, de Dayany em Brasília. O caso foi investigado pela Polícia Federal e Polícia Civil e concluiu que foram instaladas pelo antigo dono.
"Já cansou de ir pra eleição e perder, agora quer derrubar os outros porque sabe que nos votos tu não ganha nem mais pra vereador. Não adianta tu querer queimar o Júnior Mano, porque a verdade vai chegar. Agora os teus votos não chegam nunca. Porque ninguém acredita em quem não tem posição. Acha que ser blogueirinho dar voto. O que dá voto é trabalho, por isso que o deputado tirou mais de 200 mil e o Senado vem aí. Faz mídia até colocando câmera no apartamento da própria esposa. Ridículo", escreveu Giordanna.
Dayany então respondeu a prefeita declarando que não irá discutir na internet e que a gestora terá que provar a acusação. "Eu resolvo na Justiça, fica com Deus", declarou.
O que a PF aponta sobre deputados e o que eles dizem
A operação da Polícia Federal (PF) que investiga o desvio de emendas parlamentares, fraude em licitações, desvio de verbas públicas em prefeituras do Ceará cumpriu mandados no gabinete e em residências do deputado federal Júnior Mano (PSB). A ação da Polícia Federal gerou ainda um bloqueio de R$ 54,6 milhões das contas de pessoas investigadas.
São ainda investigados crimes de organização criminosa, captação ilícita de sufrágio, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica com fim eleitoral. A operação foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes.
Na representação enviada pela Polícia Federal ao ministro, há menções não apenas a Júnior Mano, mas também aos deputados federais Eunício Oliveira (MDB), José Guimarães (PT) e Yury do Paredão (MDB). Os quatro congressistas negam irregularidades.
A pedido da PF, o ministro autorizou instauração de investigação específica, além da que já tem Júnior Mano como alvo, para apurar eventual participação de agentes políticos com foro privilegiado na destinação ilícita e execução de recursos federais de emendas parlamentares e transferências de recursos públicos.
Confira os papéis de cada um dos nomes envolvidos e mencionados pela PF
Júnior Mano
As investigações da Polícia Federal apontam com destaque a suposta participação central do deputado federal Júnior Mano como figura estruturante de uma organização criminosa voltada à utilização indevida de recursos públicos e à manipulação de processos eleitorais em diversos municípios cearenses.
"A atuação do parlamentar extrapola a esfera meramente política, configurando-se como operador ativo da engrenagem criminosa",
diz o inquérito.
De acordo com as diligências, o deputado e Bebeto Queiroz (PSB), prefeito cassado de Choró, lideravam o grupo que autorizava a destinação de emendas parlamentares, inclusive de terceiros, para prefeituras previamente cooptadas, mediante exigência de retorno financeiro, um "imposto",
na ordem de 12%.
"Há referência expressa em áudios que o grupo de que as verbas do gabinete seriam destinadas a compra de apoio político, ao financiamento oculto de campanhas e ao pagamento de influenciadores e jornalistas", segundo a PF.
Os mandados de busca e apreensão tiveram como alvos, além de Júnior Mano, Adriano Almeida Bezerra, Carlos Douglas Almeida Leandro, Iago Mariano Pedrosa Santana, Lucio Alves Barroso e
Iago Viana Nascimento.
O que disse Júnior Mano
Em nota, o deputado federal negou qualquer participação em licitações, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos.
Ao correspondente do O POVO em Brasília, João Paulo Biage, Júnior Mano disse: "Eu não vendi e nem negociei emenda". Ele atribuiu o caso a perseguição do ex-senador Chiquinho Feitosa.
Eunício Oliveira
e José Guimarães
Nas investigações, foram identificadas tratativas que envolvem menções aos deputados federais José Guimarães e Eunício Oliveira. Eles, assim como Júnior Mano, são pré-candidatos
ao Senado.
Em diálogo mantido entre Bebeto e Carlos Douglas, há referência a emenda parlamentar atribuída a José Guimarães, supostamente intermediada por Ilomar Vasconcelos, atual vice-prefeito de Canindé.
Em mensagem posterior, Bebeto ter sido informado, por meio de áudios que atribui a Eunício Oliveira, de que Guimarães teria indicado R$ 2 milhões de emenda para o município de Choró, e que o próprio Eunício também teria destinado R$ 1 milhão para Canindé.
Maria do Rozário, ex-prefeita de Canindé, narrou que Ilomar Vasconcelos teria relatado que obteve duas emendas parlamentares oriundas do gabinete de José Guimarães, e posteriormente, passou a insistir no repasse de 10% do valor de cada emenda com retorno. Ilomar foi vice de Rozário na Prefeitura e também é vice-prefeito atualmente, na chapa de Professor Jardel (PSB), apoiada por Bebeto,
Ela disse ter recusado as exigências, um dos motivos que levou ao rompimento político dela com o vice.
O que diz José Guimarães
O parlamentar divulgou nota nas redes sociais nas quais nega envio de emendas a Canindé e Choró. Diz ainda não ser objeto de investigação pela PF. "Tive o nome citado durante conversa de terceiros e isso, nem de longe, denota participação em qualquer organização que usurpa o dinheiro público e prejudica os cearenses". Ele qualifica de "desonesta" e "direcionada" "qualquer tentativa de me ligar a esse escândalo que envergonha a
bancada cearense".
O que diz Eunício Oliveira
À coluna Vertical, Eunício afirmou destinar emendas a dezenas de municípios, "de forma transparente e de acordo com a legislação". Afirmou ainda não ter sido notificado de investigação.
O deputado acrescentou que a emenda para Canindé só foi indicada em maio deste ano, para a saúde do município, e que ele já teria pedido a suspensão do recurso ao ministro Alexandre
Padilha na terça-feira, 8,
após a operação.
Yury do Paredão
Nas investigações, é mencionado de Yury do Paredão teve interlocução direta e indireta com o núcleo operacional liderado supostamente por Bebeto Queiroz,
segundo a PF.
Uma assessora de Yury, Lanuse, teria tido contato com o prefeito de Choró, solicitando informações acerca de um plano de ação da execução do tipo "transferência especial" destinada ao município. O deputado destinou R$ 10 milhões em emendas
ao município.
Há registros de diálogos entre Yury e Bebeto em que o parlamentar questiona se há alguma Comissão Intergestores Bipartite (CIB) aprovada com pedido de aumento de limite de área de alguma "cidade sua".
O que diz Yury
do Paredão
O parlamentar se manifestou por meio da assessoria: "Não há, em absoluto, acusações em meu nome, como pode ser verificado nas matérias da imprensa e no inquérito em questão". Ele acrescentou não estar envolvido "em nenhuma acusação legítima". "Acredito na importância do diálogo respeitoso e construtivo, e estou comprometido em fazer política com seriedade, transparência e respeito
pela verdade".