No segundo dia após Donald Trump anunciar taxas de 50% sobre produtos brasileiros nos Estados Unidos, o ambiente político entre os presidentes de Brasil e Estados Unidos não distensionou.
O governante dos Estados Unidos descartou falar sobre tarifas com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva "agora", mas deixou a porta aberta para o futuro e voltou a defender o ex-presidente Jair Bolsonaro, um "homem bom".
Lula, por sua vez, destacou, nesta sexta, que o governo tem apoio do povo brasileiro para enfrentar as sanções econômicas do governo dos Estados Unidos e que o Brasil não pode "baixar a cabeça" para as chantagens e ameaças de Donald Trump.
Trump, conservador, e Lula, de esquerda, não conversaram nenhuma vez, desde que, em janeiro, o republicano voltou ao poder.
A relação diplomática com o Brasil, já fria neste ano, piorou nos últimos dias. Antes de partir de Washington rumo ao Texas para visitar a área de inundações torrenciais, um jornalista perguntou a Trump se ele planejava falar com Lula sobre as novas tarifas alfandegárias que entrarão em vigor no dia 1º de agosto.
"Talvez em algum momento eu fale com ele, mas agora não", respondeu. Lula também não tem a intenção de chamá-lo.
"Eu não tenho que conversar com o Trump até agora. Eu não tenho nenhuma razão", garantiu Lula ao canal Globonews após o anúncio das tarifas. O governo negocia com Washington há meses.
Nesta sexta-feira, Trump voltou a reclamar do tratamento dado a Bolsonaro. "Estão tratando o presidente Bolsonaro de forma muito injusta. Ele é um homem bom. Eu o conheço bem. Negociei com ele", declarou a jornalistas.
"Era um negociador muito duro, e posso assegurar-lhes que era um homem muito honesto e que amava o povo brasileiro", disse Trump.
"Não deveria gostar dele, porque era muito duro negociando, mas também era muito honesto, e eu conheço os honestos e os corruptos", insistiu o presidente republicano.
Ao participar de cerimônia de em Linhares (ES), Lula usou boné com os dizeres "Brasil é dos brasileiros".
"Esse país não baixará a cabeça para ninguém. Ninguém porá medo nesse país com discurso e com bravata. Ninguém. E eu acho que, nesse aspecto, nós vamos ter o apoio do povo brasileiro, que não aceita nenhuma provocação", disse o presidente.
Ele voltou a dizer que vai "brigar em todas as esferas para que não haja taxação", citando negociações entre os países e recurso à Organização Mundial do Comércio. Se isso não der resultado, disse que vai estabelecer a reciprocidade: "Taxou aqui, a gente taxa lá".
A estratégia de Lula e do governo é culpar a família Bolsonaro pela decisão anunciada por Trump. O Palácio do Planalto tem explorado o discurso de ataque à soberania brasileira por parte dos americanos.
O presidente questionou a forma como Bolsonaro vem enfrentando o processo do qual é alvo no Supremo Tribunal Federal. "Que tipo de homem é esse que não tem vergonha de enfrentar o processo de cabeça erguida?", perguntou Lula.
Nas redes sociais, Bolsonaro elogiou Trump, disse que a tarifa é resultado do afastamento do Brasil "dos seus compromissos históricos com a liberdade" e pediu "aos Poderes que ajam com urgência apresentando medidas" para resgatar a "normalidade institucional".
Apesar de não ter adotado um tom agressivo contra Trump na maior parte do discurso, Lula repetiu a argumentação de que o presidente dos Estados Unidos "seria preso" no Brasil se o episódio do Capitólio, ocorrido na capital norte-americana em 2021, tivesse ocorrido em território brasileiro.
A cerimônia em Linhares reuniu ministros do Governo Federal, que também aproveitaram para atacar os adversários políticos. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, insinuou que bolsonaristas que apoiaram a decisão de Trump são "traidores da pátria". "Muitos carregavam em campanhas eleitorais recentes a bandeira do Brasil nas costas para dizer que eram brasileiros de verdade. Mas agora, com o ataque dos EUA, nós sabemos quem são os brasileiros e quem são os traidores da Pátria", afirmou.
O advogado-geral da União, Jorge Messias, disse que Lula "presta continência a uma única bandeira: a bandeira do Brasil". "Eu quero dar uma boa notícia a vocês, o Brasil tem um presidente da República que pensa em primeiro lugar nos brasileiros, em segundo lugar nos brasileiros e em terceiro lugar nos brasileiros. Quando sobra um tempinho, o presidente Lula também pensa nos brasileiros. Esse aqui, o presidente Lula, ele presta continência a uma única bandeira: a bandeira do Brasil", disse. (AFP, Agência Estado e Agência Brasil)